<div dir="ltr"><div><br></div><div><div><img src="cid:ii_k35u0lak0" alt="image.png" width="861" height="660" style="margin-right: 0px;"><br></div></div>É estarrecedor que pesquisadores brasileiros tenham optado por abrir mão da coautoria de um artigo científico e preferido manter-se no anonimato.<br><br>–<br><br>COALIZÃO CIÊNCIA E SOCIEDADE*,<br>especial para Direto da Ciência.**<br>Terça-feira, 19 de novembro de 2019, 7h47.<br><br>________________________________<br><br>Em uma série de episódios recentes, sempre que lhes pareceu conveniente, autoridades brasileiras lançaram dúvidas sobre resultados de pesquisas científicas, pesquisadores e as próprias instituições científicas. A negação de dados científicos bem fundamentados, frequentemente por meio da divulgação de informações erradas, e a interferência política nas instituições de pesquisa comprometem o processo de geração de conhecimento. Dessa forma, desprezam-se conhecimentos essenciais para compreender os complexos desafios de nossa sociedade nos dias de hoje, como desenvolver soluções para mitigar efeitos de mudanças climáticas, conservar espécies nativas, controlar novos surtos de doenças transmissíveis e buscar o desenvolvimento sustentável, entre muitos outros exemplos.<br><br>É estarrecedor que, como consequência desse ambiente, pesquisadores tenham optado por abrir mão da coautoria de um artigo científico sobre o aumento recente das queimadas no Brasil (no importante periódico científico Global Change Biology, 15 de novembro) e preferido manter-se no anonimato.<br><br>Qualquer sociedade democrática depende fortemente da contínua e livre geração e divulgação de conhecimento científico. Isto acentua a necessidade e a importância da manutenção da integridade científica. A Academia Brasileira de Ciências (ABC), em suas recomendações sobre a integridade científica, reforça a expectativa da sociedade de que os resultados das pesquisas científicas sejam honestos e reflitam de forma precisa o trabalho dos cientistas. O apoio da sociedade à ciência depende da confiança na integridade dos pesquisadores e na autonomia das instituições responsáveis pela realização e acompanhamento das pesquisas.<br><br>A investigação científica, quando explora temas básicos ou complexos, visa sempre produzir conhecimento útil para a sociedade e atender necessidades sociais imediatas e de mais longo prazo. A ciência desempenha um papel central como fornecedora de informações relevantes para a formulação de boas políticas públicas. Os gestores, por sua vez, têm a responsabilidade de usar evidências científicas sólidas para formular leis e desenvolver regulamentos que as implementem.<br><br>Os interesses políticos não devem jamais comprometer a integridade científica, que se lastreia em fatos e nas melhores evidências. A integridade tem de ser um valor absoluto, inquestionável, tanto para cada pesquisador como para as instituições em que as pesquisas são desenvolvidas e divulgadas.<br><br>Para que sejam publicadas e aceitas, as evidências científicas passam por um processo de avaliação crítica, debate e deliberação, sempre feitos de forma independente por outros cientistas experientes naquele tema. Tais procedimentos de revisão criteriosa são rotineiros para a publicação em revistas científicas reconhecidas. Eles são aceitos por todos os pesquisadores científicos competentes. O mundo caminha para implementar amplamente o conceito de ciência aberta como um movimento para que o conhecimento produzido por pesquisa científica, seus dados e sua disseminação sejam acessíveis a todas as pessoas, leigas ou especialistas, que têm direito à melhor informação disponível.<br><br>A crescente sucessão de casos que levantam dúvidas arbitrárias e acusações infundadas contra instituições científicas, pesquisadores e resultados de pesquisas no Brasil, desrespeitam os procedimentos e métodos que asseguram a integridade científica e, com isto, visam corroer a confiança da sociedade em relação à ciência.<br><br>Contestar resultados e questionar conclusões faz parte do processo de fazer ciência, mas qualquer questionamento terá de ser feito com igual rigor científico, seja com referência a novos resultados e evidências, seja por análises que justifiquem cada contestação. Se não for assim, a sociedade e os cidadãos estarão à mercê de políticas públicas dissociadas do embasamento científico, com consequências graves e de difícil reversão, em particular em áreas críticas, como a saúde pública e a integridade ambiental.<br><br>* A Coalizão Ciência e Sociedade reúne 70 pesquisadores de instituições de pesquisa de todas as regiões brasileiras<div class="entry-thumbnail" style="margin:0px 20px 25px 0px;width:770px"><br></div></div>