Sábias palavras, meu caro Paulo Pinto,<br><br>Gostaria de continuar onde terminaste e o que a seguir vai é também um complemento a textos aqui escritos pelos colegas Sérgio Matias, Pedro Ribeiro, João Costa e Carlos Mourato, entre outros, que abordam os ataques comerciais, industriais e legislativos ao espectro radioeléctrico neste momento atribuido aos radioamadores.<br>
<br>O espectro radioeléctrico é administrado pelas nações. Cada uma tem a responsabilidade, e o direito, de regular a sua utilização de acordo com os seus interesses, em conformidade com as leis nacionais e no respeito das convenções internacionais.<br>
<br>O sucesso de em 1927, durante a conferência internacional de Washington, o radioamadorismo ser internacionalmente reconhecido como um serviço radioeléctrico organizado e regulado é algo notável. Devemos esse reconhecimento aos esforços das delegações da ARRL, IARU e EUA a essa conferência, entre outros. Desse reconhecimento resultaram atribuição de direitos e recursos, como sejam algumas faixas no espectro radioeléctrico.<br>
<br>Poderia pensar-se que essa dádiva teve um carácter benevolente ou condescendente, mas não foi esse o caso. Os radioamadores, apesar do seu carácter não comercial totalmente oposto ao grosso dos serviços então regulamentados, eram muito bem vistos por vários motivos:<br>
<br>1. O radioamadorismo fornecia às nações grandes quantidades de operadores qualificados, não só várias vezes requisitados para as fileiras militares durante os tempos de guerra, mas também muitas vezes constituindo o núcleo inicial de novos serviços de comunicações.<br>
<br>2. O radioamadorismo oferecia nesses tempos serviços públicos inigualáveis. Sem qualquer investimento ou custo para os estados, o colectivo radioamador proporcionava redes de comunicações muito fortes, seguras e fiáveis que cobriam grandes distâncias e atravessavam vários segmentos da sociedade, desde o acompanhamento de explorações científicas, comunicações de emergência e pontuais para redes ferroviárias, difusão de notícias on informações de grande relevãncia, e até colaboração técnica com forças militares.<br>
<div class="gmail_quote"><br>3. Os radioamadores contribuíam forte e desinteressadamente para o desenvolvimento da técnica radioeléctrica em geral, constituindo um polo de progresso a ser explorado pelos restantes sectores das sociedades.<br>
<br>Estes trẽs pontos contituem, na minha opinião, o contrato colectivo original dos radioamadores com a sociedade. Apesar de todas as mudanças que o mundo em geral, e o universo das comunicações, sofreram, estas continuam a ser as razões nucleares pelas quais os estados se têm disposto a investir no radioamadorismo parte do seu precioso recurso natural, que é o espectro radioeléctrico.<br>
<br>Ora isso pode mudar por vários motivos e creio que temos assistido em tempos recentes a várias mudanças significativas.<br><br>Por um lado, as sociedades ocidentais têm vindo a trocar o conceito de propriedade pelo de gestão ou administração. Embora os estados detenham ainda toda a soberania na administração do espectro radioeléctrico, o seu exercício carece agora de alguma negociação e transparência. Mais ainda, os critérios por que se rege esta gestão são agora mais liberais e de carácter económico do que antes.<br>
Acrescenta-se ainda a este lado da equação, a pressão exercida por diversos interesses económicos.<br><br>Por outro lado, a contribuição absoluta, e a importância relativa do radioamador para a sociedade parece ter diminuido substancialmente nas últimas duas décadas, não só pela sua despromoção, mas também pelos desenvolvimentos fantásticos nos sectores das comunicações públicas.<br>
Hoje, os radioamadores andam com frequência a reboque de vários outros sectores das comunicações. Pior ainda, os progressos que os radioamadores experimentam não são explorados em todo o seu potencial, antes pelo contrário.<br>
As técnicas são simplificadas, formatadas e pré-construidas, para poderem ser acessíveis. Muitos de nós, quiçá a maioria, não dispomos de conhecimentos, tempo, e energia para compreeder e manipular as técnicas radioeléctricas que utilizam. Nem a vida moderna permite, nem isso nos é exigido.<br>
<br>Também ao nível das comunicações de emergência os radioamadores são uma fraca alternativa. Hoje muitos países dispõem já de estruturas de radiocomunicações de emergência profissionais, com meios modernos, treino adequado e regularmente exercitadas. Os amadores podem apenas contar a seu favor com o seu grande número.<br>
<br>Penso que a nossa resistência aos ataques que se têm sucedido, alguns ainda em curso, e aos que irão ainda surgir, depende em grande medida da nossa capacidade de mostrar à sociedade que ainda somos úteis e que a rescisão do nosso contrato será uma perda para todos.<br>
<br>Neste panorama, o abandono das nossas faixas, a CBização do radioamadorismo, a despromoção técnica do radioamador, a proliferação do radioamadorismo desportivo e exclusivamente lúdico, e ainda a vulgarização da linguagem e a relativização da ética entre os radioamadores, só nos pode trazer prejuízos.<br>
<br>Repetindo a tua importante conclusão: "Acho que é tempo de justificarmos os privilégios que nos são concedidos".<br><br>73,<br>António Vilela<br>CT1JHQ<br><br><blockquote class="gmail_quote" style="border-left: 1px solid rgb(204, 204, 204); margin: 0pt 0pt 0pt 0.8ex; padding-left: 1ex;">
<div link="blue" vlink="purple" lang="PT"><div><p class="MsoNormal">Caros Colegas, <u></u><u></u></p><div><p class="MsoNormal"><u></u> <u></u></p></div><div><p class="MsoNormal">Permitam-me algumas considerações em relação à questão levantada. <u></u><u></u></p>
</div><div><p class="MsoNormal"><u></u> <u></u></p></div><div><p class="MsoNormal">Em primeiro lugar, penso existir na sociedade - e consequentemente no espectro radioeléctrico - uma grande falta de ética e deontologia. Não será necessário dar exemplos do que afirmo, pois todos nós conhecemos sobejamente casos de atropelos, faltas de respeito e imoralidades nas mais diversas áreas da vida social. Em tempos, algo longínquos, estava convencido que a classe dos radioamadores formava um grupo de pessoas que pugnava pela diferença, constituindo-se como uma pleiade de indivíduos que nutrem respeito pelos seus pares e desenvolvem os seus projectos dentro do que são as suas apetências, enquadradas pela lei. Não sendo eu um radioamador antigo - e não podendo falar com conhecimento de causa dos anos anteriores aos 90 -, tenho vindo a verificar uma degradação do respeito e da camaradagem entre nós. Este comportamento é concomitante com a sociedade em geral, o que me sugere ser o radioamador do presente um reflexo do nosso sistema educacional e do nosso sistema de valores. Se, na pós-modernidade, a crise é mais de valores do que económica, o resultado só pode ser o descrito pelo colega Mourato.<u></u><u></u></p>
</div><div><p class="MsoNormal"><u></u> <u></u></p></div><div><p class="MsoNormal">Em segundo lugar, gostaria de abordar a questão da abordagem ao radioamadorismo. Ninguém discordará do colega António, CT1TE, e da paixão com que coloca a tónica no espírito de partilha técnica e de enriquecimento pessoal que outrora era apanágio das bandas, como ninguém discordará das vantagens de um concurso de DX, no que traz de desafiador para quem gosta de investigar sistemas radiantes ou padrões de propagação. <u></u><u></u></p>
</div><div><p class="MsoNormal"><u></u> <u></u></p></div><div><p class="MsoNormal">Por último, teço duas considerações finais.<u></u><u></u></p></div><div><p class="MsoNormal"><u></u> <u></u></p></div><div><p class="MsoNormal">
A primeira tem a ver com a minha experiência pessoal. Tendo começado nas bandas amadoras por ser um amante da "caça" às novas entidades DXCC e dos concursos (não todos!), senti a necessidade de enriquecer os meus conhecimentos técnicos e poder desfrutar de algo que para mim é gratificante: a satisfação que o conhecimento proporciona. Entrando por determinada porta, cedo me apercebi da dimensão do que se me deparava. Aspirarei sempre a mais, ciente que as nossas capacidades permanecem, <i>grosso modo</i>, inexploradas. <u></u><u></u></p>
</div><div><p class="MsoNormal"><u></u> <u></u></p></div><div><p class="MsoNormal">A segunda tem a ver com o respeito de que falava no início. Não percebo porque é que as discussões têm que acabar sempre em desavenças entre os participantes. Saber discutir as diferentes opiniões com abertura suficiente para delas retirarmos novas ideias que nos façam questionar as nossas posições é algo que demonstra inteligência. Não estou a querer dizer que devemos entrar na lógica da relativização, onde tudo tem cabimento, pois dessa forma cada opinião tem o mesmo valor. Estou a querer dizer que não devemos prescindir das nossas mais profundas convicções, desde que tenhamos sabido "digerir" outras posturas, ideias e sugestões. Se tudo for efectuado dentro dos padrões éticos e do respeito mútuo, parece-me que estaremos no bom caminho para mudarmos alguma coisa. Reconheço ser necessária uma boa dose de paciência para lidar com algumas situações, mas, mais uma vez, sempre foi e será assim em toda a actividade do ser social. Daí resultarão, naturalmente, os grupos de afinidades. E se se estabelecerem pontes entre esses grupos, tanto melhor.<u></u><u></u></p>
</div><div><p class="MsoNormal"><u></u> <u></u></p></div><div><p class="MsoNormal">Gostava de ver uma sã convivência entre os que nutrem carinho pelo radioamadorismo e que estão no <i>hobby</i> com nobres interesses. Acho que é tempo de justificarmos os privilégios que nos são concedidos.<u></u><u></u></p>
</div><div><p class="MsoNormal"><u></u> <u></u></p></div><div><p class="MsoNormal">Com os meus melhores 73,<u></u><u></u></p></div><div><p class="MsoNormal">CT1ETE, Paulo Pinto<u></u><u></u></p></div><p class="MsoNormal">
-- <br><font color="#888888"><span style="color: rgb(31, 73, 125);">Fonte: </span><b><span style="font-size: 10pt;">:</span></b><span style="font-size: 10pt;"> ct-comunicacoes-e-tecnologias <b>Em nome de </b>CT1ETE Paulo Pinto<br>
<br></span><u></u><u></u></font></p></div></div><br>_______________________________________________<br>
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