<p style="margin-bottom: 0in;"><font face="Verdana, sans-serif">Chama-se vulgarmente
rádio natural ao conjunto de perturbações radioeléctricas que
têm origem em fenómenos da natureza, ou seja, não produzidas pelo homem. São exemplos disso os sinais gerados pelas
</font><font face="Verdana, sans-serif">trovoadas, </font><font face="Verdana, sans-serif">auroras boreais, meteoritos, ressonâncias de
Schumann, entre outros fenómenos da natureza. Muitos destes sinais têm origem terrestre mas existem também outros de origem extraterrestre, como por exemplo a famosa radiação de Júpiter.<br></font></p><p style="margin-bottom: 0in;">



<font face="Verdana, sans-serif">Muitos
amadores se dedicam à recepção destes sinais recorrendo para isso
a receptores especiais, capazes de sintonizar frequências
extremamente baixas até ao domínio das audiofrequências. Embora
haja diversos motivos pelos quais alguém se possa dedicar à escuta
destes sinais, é comum referir-se que alguns deles são de grande
beleza musical.</font></p>

<p style="margin-bottom: 0in;"><font face="Verdana, sans-serif">Uma
das dificuldades desta escuta está associada à poluição
electromagnética causada pelas redes de distribuição eléctrica,
que espalham a grandes distâncias e com grande intensidade campos
eléctricos de 50 (ou 60) Hz, aos quais se somam múltiplas
harmónicas espalhadas ao longo da gama audível, o que leva estes amadores a procurarem zonas desertas
afastadas da civilização para poderem ouvir os débeis sinais da
natureza.</font></p>

<p style="margin-bottom: 0in;"><font face="Verdana, sans-serif">Naquilo que foi possivelmente a primeira actividade de recepção de sinais radioeléctricos, a detecção de trovoadas feita por Popoff, este terá realizado o primeiro receptor de rádio que se conhece. Foi também no decurso destas experiências</font><font face="Verdana, sans-serif"> que
Popoff inventa e realiza a primeira antena. Esta foi seguramente a primeira actividade de recepção de rádio
natural de que há registo.<br></font></p><p style="margin-bottom: 0in;"><font face="Verdana, sans-serif">Para as suas experiências Popoff utilizou o coesor</font><font face="Verdana, sans-serif">, o primeiro detector de
ondas radioeléctricas com sensibilidade suficiente para poder ter
aplicações práticas, inventado algum tempo antes por Branly.</font></p><p style="margin-bottom: 0in;"><font face="Verdana, sans-serif">Ambos estes elementos, coesor e antena,
juntamente com a bobine de Ruhmkorff são vitais ao início das
experiências de transmissão e recepção de sinais à distância
empreendidas por Marconi no final do séc. XIX.</font></p>

<p style="margin-bottom: 0in;"><font face="Verdana, sans-serif">A
rádio natural nasceu assim nos finais do século XIX antes dos
sucessos de Marconi e antes da TSF propriamente dita, e pode com toda
a propriedade dizer-se que é uma modalidade com pergaminhos, e precursora das radiocomunicações.</font></p>

<p style="margin-bottom: 0in;"><font face="Verdana, sans-serif">Como
seria de esperar, a rádio natural não acaba com as experiências de
Popoff e volta a dar que falar alguns anos mais tarde. Para além das
experiências de Turpain, um outro académico francês, cabe
porventura a Franck Duroquier, um radioamador influente em França no
1º quartel do séc. XX, a honra de fazer e reportar ao grande
público as primeiras experiências da rádio natural utilizando
detectores de semicondutor, neste caso um detector de cristal da sua
própria construção. Note-se que o coesor de Branly não possuia a capacidade de detectar variações de amplitude dos sinais recebidos. Ele apenas passava do estado isolante ao estado condutor quando exposto a radiofrequência, facto que levou Branly a apelidá-lo de &quot;radiocondutor&quot;.<br>

</font></p>

<p style="margin-bottom: 0in;"><font face="Verdana, sans-serif"></font></p><p style="margin-bottom: 0in;"><font face="Verdana, sans-serif">Uma das aplicações actuais da rádio natural é
o chamado “stormscope” ou detector de trovoadas, que existe a
bordo de algumas aeronaves. É descendente do dispositivo de
Popoff e encontra-se normalmente associado ao radar meteorológico.
Junto com este, mostra num ecran um mapa meteorológico completo com
tempestades e trovoadas, contribuindo assim para um aumento da
segurança da circulação aérea.</font></p><p style="margin-bottom: 0in;"><font face="Verdana, sans-serif">O
artigo a seguir reproduzido em tradução livre para Português, foi
publicado por Franck Duroquier na revista La Nature nº 2075 de 1 de Março de 1913. É um testemunho comovente dos primeiros anos da exploração da radioelectricidade, feita em grande medida por amadores.<br></font></p><p style="margin-bottom: 0in;">


<font face="Verdana, sans-serif"></font></p>



<p style="margin-bottom: 0in;">“<font face="Verdana, sans-serif">A
TELEGRAFIA SEM FIO E A PREVISÂO DO TEMPO</font></p><p style="margin-bottom: 0in;"><font face="Verdana, sans-serif">Qualquer
perturbação meteorológica é invariavelmente acompanhada por uma
perturbação eléctrica, susceptível de ser assinalada desde o seu
início, e num raio muito alargado, pelos receptores hertzianos
sensíveis às ondas parasitas que nascem do choque tempestuoso das
vagas atmosféricas. Assim, uma das vantagens inesperadas da
telegrafia sem fios é prestar-se ao estudo do estado eléctrico da
atmosfera e fornecer informações úteis para a previsão do tempo.</font></p>
<p style="margin-bottom: 0in;"><font face="Verdana, sans-serif">        Até
agora, a contribuição da nova ciência tem-se limitado ao registo
das trovoadas. Dispositivos de campainha eléctrica ou dispositivos
registadores, baseados em coesores ou em detectores electrolíticos,
funcionam na maior parte dos observatórios; cada deflagração de
trovoada, ao agir à distância sobre estes aparelhos, revela-se por
uma chamada sonora ou por uma deformação brusca da curva do gráfico
de registo.</font></p>
<p style="margin-bottom: 0in;"><font face="Verdana, sans-serif">        As
informações que podem fornecer tais sistemas não são sem valor;
parecem-nos no entanto, por motivo do carácter uniforme da sua
manifestação, de uma utilidade muito limitada. Por outro lado, o
emprego de um sinal sonoro ou de um registador gráfico exige, além
de um ajuste delicado e complicado, a excitação de ondas potentes
que restringe a uma sessentena de quilómetros o campo das
observações meteoro-estáticas; consequentemente, o tempo de
antecipação dos fenómenos anunciados é muito curto e pouco
susceptível de ser aproveitado.</font></p>
<p style="margin-bottom: 0in;"><font face="Verdana, sans-serif">        Um
método de observação muito mais simples, mas de todo sério, é o
método de escuta telefónica no qual até agora pouco se pensou e
que pode fornecer, num raio de investigação imenso, informações
inestimáveis.</font></p>
<p style="margin-bottom: 0in;"><font face="Verdana, sans-serif">        Estudámos
regularmente desta forma, ao longo de todo um ano, no nosso posto de
experiência de Anché (Indre-et-Loire), os parasitas atmosféricos e
impressionámo-nos pela variedade destes parasitas bem como pelo
carácter específico de que se revestem de acordo com a natureza dos
fenómenos atmosféricos que acompanham ou precedem.</font></p>
<p style="margin-bottom: 0in;"><font face="Verdana, sans-serif">A
trovoada, o frio, a chuva, a tempestade anunciam-se nos receptores
telefónicos de um posto de T.S.F. por sinais característicos fáceis
de reconhecer.</font></p>
<p style="margin-bottom: 0in;"><font face="Verdana, sans-serif">        Estalidos
violentos são o indicador de uma trovoada vizinha que se aproxima se
os estalidos se fizerem cada vez mais frequentes, que se afasta, pelo
contrário, se ficarem mais espaçados ou se enfraquecerem.</font></p>
<p style="margin-bottom: 0in;"><font face="Verdana, sans-serif">        Uma
forte nuvem de granizo que passa perto da antena provoca nos
auscultadores um ligeiro assobio induzido pela sucessão rápida das
descargas entre as pedras electrizadas que se entrechocam. Quando a
antena ligada a um pente pára-raios deixa escapar das pontas deste
pente pequenas faíscas brancas e ruidosas, é também o indicador de
um tempo favorável ao granizo.</font></p>
<p style="margin-bottom: 0in;"><font face="Verdana, sans-serif">        Uma
redução da temperatura, uma geada primaveril, são habitualmente
precedidas de estalos secos, espaçados, bastante fracos.</font></p>
<p style="margin-bottom: 0in;"><font face="Verdana, sans-serif">        Se o
vento mudar, os parasitas são de pequenos comprimentos de onda e
parecem contas desfiadas de um rosário.</font></p>
<p style="margin-bottom: 0in;"><font face="Verdana, sans-serif">        Numerosas
crepitações, às quais se misturam, a cada momento e bastante
regularmente, estalidos fortes e esfuziantes, precedem as grandes
depressões barométricas e anunciam a tempestade.</font></p>
<p style="margin-bottom: 0in;"><font face="Verdana, sans-serif">        A
aproximação da chuva, da neve ou do nevoeiro, melhorando a
condutibilidade do ar e o solo, favorece as comunicações
radiotelegráficas; o frio e a seca pelo contrário comprometem-nas.</font></p>
<p style="margin-bottom: 0in;"><font face="Verdana, sans-serif">Em
noites muito calmas escutámos débeis parasitas cujo som recordava o
choque cristalino de uma gota de água que cai no fundo de um poço;
ouvimos outros cujo sopro apenas perceptível imitava um batimento de
asas e outros que se assinalavam por um batimento breve e surdo no
auscultador telefónico….</font></p>
<p style="margin-bottom: 0in;"><font face="Verdana, sans-serif">Existem
parasitas de todas as intensidades, todos os tipos, todos os
comprimentos de onda como existe uma infinidade de fenómenos
meteorológicos. Os mais interessantes de conhecer não são, vê-se,
os assinalados pelos coesores, mas aqueles claramente caracterizados
que revelam os detectores sensíveis. Descobrimos com o nosso
detector de cristais F.D múltiplas variedades curiosas impossíveis
de surpreender com o melhor electrolítico.</font></p>

<p style="margin-bottom: 0in;"><font face="Verdana, sans-serif">Seria
sem dúvida temerário estabelecer sobre os nossos dados solitários
uma tabela de previsão do tempo, mas persuadimo-nos que o estudo
continuado das perturbações eléctricas da atmosfera conduziria à
uma meteorologia previdente e que prognósticos certeiros poderiam
ser tirados de observações gerais judiciosamente ordenadas. O
Estado, que favoreceu para o maior beneficio da agricultura do
comércio e da navegação o estabelecimento de estações
meteorológicas, não deverá desinteressar-se de organizar em breve
nestes estabelecimentos um serviço de estudos aerológicos que
utilizem a T.S.F. (1).</font></p>
<p style="margin-bottom: 0in;"><font face="Verdana, sans-serif">O
material necessário seria pouco dispendioso e sempre fácil de
instalar; o método de observações poderia ser muito simples e o
serviço das estações não seria minimamente sobrecarregado.</font></p>
<p style="margin-bottom: 0in;"><font face="Verdana, sans-serif">Cada
observatório deveria ser dotado de um pequeno posto receptor de
T.S.F. utilizando com um detector muito sensível uma montagem em
directo e uma montagem indutiva.</font></p>
<p style="margin-bottom: 0in;"><font face="Verdana, sans-serif">O
colector de ondas é constituído por uma grelha orientada feita de
três fios de cobre estanhado de vinte décimos de diâmetro,
distantes de 1 m. 50, colocados à 12 ou 15 m. de altura.</font></p>
<p style="margin-bottom: 0in;"><font face="Verdana, sans-serif">Estes
dados não são absolutos; mas múltiplos ensaios comparativos
demonstraram-nos que eram os mais favoráveis; uma antena mais
pequena não tem um raio de acção suficiente para  previsões a
longo prazo, uma antena maior recolhe demasiado copiosamente os
parasitas; quanto à questão da orientação, é capital, porque
importa que os parasitas se diferenciem pela sua eficácia segundo a
sua direcção de origem.</font></p>
<p style="margin-bottom: 0in;"><font face="Verdana, sans-serif">As
observações são feitas vantajosamente três vezes por dia: a manhã
às 6 horas e às 11 horas, e a noite às 9 horas.</font></p>
<p style="margin-bottom: 0in;"><font face="Verdana, sans-serif">Elas
incluiriam:</font></p>
<p style="margin-bottom: 0in;"><font face="Verdana, sans-serif">a)
Utilização da montagem em directo: 1° sobre o estado eléctrico da
atmosfera (calmo ou perturbado); 2º sobre o carácter específico
das ondas parasitas (fortes, fracas, curtas, esfuziantes,
crepitantes, isoladas, agrupadas, etc., etc.).</font></p>
<p style="margin-bottom: 0in;"><font face="Verdana, sans-serif">b)
Utilização da montagem indutiva: 1° sobre o comprimento de onda
dos parasitas mais numerosos; 2º sobre o valor da recepção das
emissões radiotelegráficas e particularmente as emissões ditas
“musicais”. Esta observação, sempre possível à noite, visaria
de preferência uma emissão fraca bastante familiar.</font></p>
<p style="margin-bottom: 0in;"><font face="Verdana, sans-serif">Não
duvidamos que em aproximando os registos destas diversas observações
dos boletins meteorológicos comuns, não se perceba desde logo uma
relação estreita entre uns e outros, relação de causa e efeito,
de acordo com a qual se poderá elaborar uma nova ciência muito
precisa da previsão do tempo.</font></p>


<p style="margin-bottom: 0in;"><font face="Verdana, sans-serif">O
Estado não pensará que uma experiência tão simples, mas recheada
talvez de vantagens inapreciáveis, merece ser tentada? <br></font></p><p style="margin-bottom: 0in;"><font face="Verdana, sans-serif">Franck
Duroquier.</font></p><p style="margin-bottom: 0in;"><font face="Verdana, sans-serif">1. As
Escolas normais de mestres-escola onde funciona já um serviço
meteorológico muito bem compreendido , parecem-nos muito talhadas
para experimentar o novo método. - F.D.”</font></p><p style="margin-bottom: 0in;"></p><p style="margin-bottom: 0in;"><font face="Verdana, sans-serif">Mais informações, detalhe e projectos sobre rádio natural podem ser encontrados em várias páginas espalhadas pela internet, entre as quais:</font></p>


<p style="margin-bottom: 0in;"><font face="Verdana, sans-serif"><a href="http://www.altair.org/natradio.html" target="_blank">Altair&#39;s Natural Radio Projects</a></font></p><p style="margin-bottom: 0in;"><font face="Verdana, sans-serif"><a href="http://www.auroralchorus.com/" target="_blank">Natural VLF Radio - Sounds of Space Weather - The Music of the Magnetosphere</a></font></p>


<p style="margin-bottom: 0in;"><a href="http://www.vlf.it/" target="_blank"><font face="Verdana, sans-serif">RADIO WAVES below 22 kHz</font></a></p><p style="margin-bottom: 0in;"><a href="http://abelian.org/vlf/" target="_blank"><font face="Verdana, sans-serif">Live VLF Natural Radio</font></a></p>


<p style="margin-bottom: 0in;"><a href="http://spaceweather.com/glossary/inspire.html" target="_blank"><font face="Verdana, sans-serif">NASA online VLF receiver:</font></a></p><p style="margin-bottom: 0in;"><br></p><font face="Verdana, sans-serif">Cumprimentos,<br>

António Vilela<br>CT1JHQ<br></font>