Caro Miguel,<br><br>Agradeço muito a sua resposta, e agradeço ainda mais o seu tempo dispendido. Peço-lhe que não se ocupe mais com o assunto da referência mencionada, até porque penso que poderá facilmente satisfazer a minha curiosidade apenas com a sua memória.<br>
<br>A história da rádio é possivelmente um dos assuntos semi-técnicos que mais me fascina. Aprendi ao longo do tempo a reconhecer o valor das fontes fidedignas e dos documentos de referência, e é um pouco nesse contexto que aqui intervenho. Como decerto compreende, o meu objectivo não é de todo encontrar ou apontar defeitos, bem pelo contrário.<br>
<br>Sobre a origem da explicação fonética dos números, pelo que tenho investigado nestes dias estou convencido que ela remonta pelo menos ao Código Internacional dos Sinais (International Code of Signals). Este documento foi publicado em dado momento pela IMCO (Inter-Governmental Maritime Consultative Organization) e é hoje em dia mantido pela IMO. Contém uma descrição textual e/ou gráfica de todos os sinais para comunicação visual, sonora ou radioeléctrica usados na actividade marítima. É um livro deveras interessante e pode ser consultado gratuitamente neste <a href="http://www.nga.mil/portal/site/maritime/?epi_menuItemID=923e01c531c0a3825b2a7fbd3227a759&epi_menuID=35ad5b8aabcefa1a0fc133443927a759&epi_baseMenuID=e106a3b5e50edce1fec24fd73927a759" target="_blank">linque</a> (versão PDF da edição norte-americana).<br>
Acrescento que na Rec.22 do RR de 1959 a UIT afirma que o tal código proposto provém precisamente desse documento (enfim, da edição em vigor à altura).<br><br>Relativamente à ICAO, posso afirmar que li a documentação que julguei relevante sobre o tema, nomeadamente o Anexo 10 da Convenção e conclui que, pelo menos para os efeitos da aviação civil internacional, a lingua prescrita para os números (como aliás para quase tudo) é a inglesa. Nada de Terras, nem Kartes nem Pantas.<br>
<br>Finalmente no que toca à UIT, os documentos de referência são as várias edições do Regulamento das Radiocomunicações.<br><br>Acredito portanto que poderemos ter uma referência oficial desta tabela em português pelo menos numa destas duas publicações, o RR ou o CIS.<br>
Sendo estas publicações de autoridades internacionais, elas são as únicas e verdadeiras referências. Em cada país, existirá normamente uma autoridade nacional encarregue de incorporar esses textos na lei nacional, e eventualmente publicar esses documentos na sua língua.<br>
<br>No caso do RR, suponho que seria a Anacom, em cujas páginas encontrei um linque para o <a href="http://www.anacom.pt/render.jsp?contentId=360791" target="_blank">Decreto Nº 39-A de 1992</a>
que aprova o Regulamento das Radiocomunicações de 1979. Anexo a este
Decreto está a sua tradução para português, o que é interessante, mas o
legislador optou por não traduzir a referida tabela de explicação
fonética de números. Tanto quanto sei, portanto, <b>neste momento a
explicação oficial (e legal) dos números na nossa lingua é a francesa </b>como se pode ver na pág. 339 do documento (que tem quase 90 MB!)<br>
<br>No caso do CIS, a responsabilidade da sua edição em Portugal é do <a href="http://www.hidrografico.pt/" target="_blank">Instituto Hidrográfico</a> da Marinha, e no Brasil é também de um organismo da Marinha. Não encontrei nenhuma versão "online" deste livro, mas sei que há por aqui muito radioamador marinheiro. Quem sabe algum nos poderá ajudar. Suspeito que poderemos ter aqui melhor sorte.<br>
<br>Voltando ao início desta carta e à questão das referências, a minha curiosidade consistia em saber se o Miguel teria extraído a tabela de algum organismo ou documento de referência, ou se seria informação publicada já em 2ª ou 3ª mão. Tenho visto reproduções de informações diversas relativas às radiocomunicações em associações de radioamadores, organizações de navegação marítima de recreio, associações de escuteiros, etc. É claro que não vejo problema algum nisso, bem pelo contrário, apenas há que ter cuidado quando se pode.<br>
<br><br>
73,<br>António Vilela<br>CT1JHQ<br>