Quero ver qual será a reacção do moderador da lista !<br><br>
<div><span class="gmail_quote">Em 30/10/07, <b class="gmail_sendername">Mário Costa</b> &lt;<a href="mailto:aguia.negra_@hotmail.com">aguia.negra_@hotmail.com</a>&gt; escreveu:</span>
<blockquote class="gmail_quote" style="PADDING-LEFT: 1ex; MARGIN: 0px 0px 0px 0.8ex; BORDER-LEFT: #ccc 1px solid">A DEVIDA COMÉDIA<br>País do avesso<br>Primeiro, fomos entretidos.<br>Educados para um pensamento leve, acrítico, dócil. Amansados pela televisão
<br>e a revista do coração. Iludidos pela retórica e sem saudades da revolução.<br>Domesticados, deixamos de perguntar, questionar.<br>Manipulam e deformam-nos as opiniões. Quando as temos. Se as temos.<br>Elegemos e derrubamos governos, com doses generosas de impaciência,
<br>inocência e boa vontade.<br>Mas os poderes de facto jogam noutros tabuleiros, nunca escrutinados, com<br>regimes e sistemas soprando a favor. E empréstimos abençoados.<br>Pedem-nos confiança, fé, crença.<br>Empenho, dedicação, esforço.
<br>O País, os seus governantes, reclamam o melhor de nós. Nós reclamamos deles.<br>O Estado, outrora instituição respeitável, comporta-se como uma qualquer<br>viúva-alegre. Entrega-se aos prazeres e tentações do mercado, passa
<br>vergonhas em público por causa de vícios privados e mania de jogo. Com as<br>nossas fichas.<br>A Igreja olha o mundo com desconfiança e a pátria como feudo. Mesmo<br>benzendo-se perante os desvarios dos novos tempos e templos, ainda põe a
<br>render o que resta da nação abençoada e temente a Deus.<br>Dignidade, respeitabilidade e ética são palavras com baixa cotação em bolsa.<br>Os valores, outrora indispensáveis para manter uma aparente coesão social,<br>
hoje são relativos. Cada a um tem os seus e gere conforme as necessidades.<br>A honradez de um ofício está também no mercado. O meu lugar, a posição dele<br>e o vosso cargo têm um preço. São usados para pagar o carro e resolver a
<br>vidinha. «E ninguém precisa de saber».<br>A perversão das palavras deu lugar a eufemismos para todas as bolsas. Temos<br>de ser competitivos, flexíveis. Modernos. Em nome de um presente incerto e<br>um futuro desconhecido.
<br>As leis e a política fiscal, densas, protegem-nos de nós mesmos. Imagine-se<br>o quanto nos tornaríamos perigosos se, na verdade, as conhecêssemos e<br>soubéssemos usá-las.<br>Coagidos por políticas e decretos, refugiamo-nos.
<br>Consumimos, compramos, exibimos. E assim existimos.<br>Vivemos a prestações para ter vida de princesas e os destinos de férias da<br>realeza. Aos filhos, damos nomes de actores e modelos, sangue azul de<br>telenovela. Sem pé-de-meia e arcaboiço para manter o conto de fadas.
<br>Vemos, ouvimos e lemos as vidas que nunca teremos. Mergulhamos nas séries,<br>nos folhetins, nos dramas reais e ficcionados. Somos parentes da criança<br>morta ou raptada, choramos com amores de telefilme e histórias da
<br>carochinha. A viver a vida dos outros não nos angustiamos a pensar nas<br>nossas. Nem nas demais, ao fundo da rua.<br>Somos navegantes solitários do mail, do messenger, do blogue. Fazemos<br>travessias no deserto. Ainda que acompanhados.
<br>Obedientes e humildes, incapazes de tomar o futuro pelas mãos, esperamos,<br>enfim, à soleira da vida, que o tempo passe sem mais maleitas e martírios. O<br>jantar está ao lume, a televisão já chama, a criança reclama.
<br>Alguém disse que somos causa, condição e efeito das acções dos outros.<br>Assistindo à nossa vida no sofá. Essa que não é mais do que telenovela de<br>refugo, baixa audiência e maus actores.<br>VISÃO - 26.10.2007<br><br>
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