ARLA/CLUSTER: Cryptoleaks. Como os EUA e a Alemanha deram "o golpe do século", espiando Portugal e 120 países durante mais de 50 anos

João Costa > CT1FBF ct1fbf gmail.com
Quarta-Feira, 12 de Fevereiro de 2020 - 17:52:20 WET


Por observador.pt

O que aconteceria se uma ou mais potências tivessem acesso a um
sistema de encriptação mundial com todas as comunicações de aliados e
adversários? O inevitável já aconteceu: a CIA, Agência Central de
Inteligência dos EUA, e o seu homólogo alemão, o BND, têm espiado,
desde há mais de meio século, todas as comunicações da melhor empresa
de criptografia do mundo, a Crypto AG, revela a reportagem conjunta do
jornal The Washington Post, do canal de televisão alemão ZDF,
publicada na terça-feira.

Os EUA e a Alemanha Ocidental intercetaram comunicações de mais de 130
governos e empresas de espionagem. A lista contém 12 países europeus
cujas comunicações e informações foram alvo de espionagem, incluindo
Portugal e Espanha.

“Foi o golpe de inteligência do século”, concluiu um relatório da CIA
ao qual os jornais tiveram acesso. “Os governos estrangeiros estavam a
pagar uma boa quantia aos EUA e à Alemanha Ocidental pelo privilégio
de terem as suas comunicações mais secretas lidas por pelo menos dois
(e possivelmente até cinco ou seis) países estrangeiros”, pode ler-se.

Fundada em 1952, a empresa Crypto AG, especializada em segurança de
comunicações, tem sido a fabricante de tecnologias de encriptação
dominante há décadas. Durante mais de meio século, os governos
mundiais têm confiado nela para manter secretas as comunicações dos
seus espiões, soldados e diplomatas.

O primeiro contrato da empresa suíça foi conseguido durante a Segunda
Guerra Mundial e implicava a construção de máquinas de codificação
para o exército dos EUA, que permitiam que as comunicações entre as
tropas na Europa e o comando de guerra em Washington D.C. fossem
totalmente codificadas. Desde então, a Crypto AG já vendeu
equipamentos a mais de 120 países, lucrando milhões de dólares. Da
lista de clientes faziam parte o Irão, juntas militares na América
Latina, os rivais nucleares Índia e Paquistão e até o Vaticano, conta
o Washington Post.

O que nenhum destes países sabia é que nos finais dos anos 60, a
empresa foi secretamente vendida à CIA e à Agência de Segurança
Nacional (NSA) dos EUA, numa parceria restrita com o Serviço Federal
de Informações (BND) da Alemanha Ocidental. As agências utilizavam os
aparelhos da Crypto AG, munidos de uma backdoor, para conseguir aceder
facilmente às mensagens encriptadas dos outros países, tanto aliados
como adversários, principalmente em momentos de crise.

A partir de 1970 e por intermédio da Alemanha, a CIA e a NSA
controlaram quase todas as operações da Crypto AG, obtendo informações
que influenciavam decisões de contratação quadros e de tecnologias
utilizadas, sabotagem de algoritmos e alteração de metas de vendas. Os
governos dos EUA e da Alemanha podiam apenas sentar-se a ouvir,
escreve o mesmo jornal.

A partir do seu aparelho de espionagem, americanos e alemães
monitorizaram crises de reféns, como a da embaixada americana em
Teerão, em 1979, e deram informações ao Reino Unido durante a Guerra
das Malvinas. Além disto, acompanharam ainda campanhas de assassinatos
de ditadores sul-americanos e intercetaram conversas nas quais os
autores de ataques se congratulavam, como os oficiais líbios que em
1986 foram autores de um atentado com uso de bomba numa discoteca em
Berlim.

O programa, no entanto, tinha limites, uma vez que os maiores
adversários dos EUA, incluindo a União Soviética e a China, nunca
foram clientes da empresa. Além disto, segundo o relatório da CIA, as
falhas de segurança da própria empresa fizeram com que esta estivesse
sempre no radar de suspeitas. Desde documentos que mostravam a extensa
e incriminatória correspondência entre a NSA e a Crypto AG a
declarações descuidadas de altos funcionários, tudo levou a uma
campanha de publicidade negativa sobre a empresa de encriptação.

Em 1990, no entanto, o serviço de inteligência alemão, considerando
que o risco de exposição era demasiado elevado, optou por sair da
empresa, vendendo a sua parte à CIA, que continuou a espiar até 2018,
quando, segundo o Washington Post, vendeu os ativos da empresa.

Desde então, a Crypto AG perdeu a sua importância no mercado da
segurança, uma vez que há uma grande disseminação de tecnologia de
encriptação online.

O acordo entre as duas potências foi um dos segredos mais bem
guardados da Guerra Fria e a documentação à qual o jornal e a
televisão tiveram acesso identifica funcionários da CIA que geriam o
programa e executivos da empresa responsáveis por executá-lo. Traça
ainda a origem da operação, inicialmente conhecida pelo código
“Thesaurus” e mais tarde “Rubicon”, e os conflitos internos que quase
a fizeram descarrilar, descrevendo a forma como os EUA não só espiaram
outros países, roubando-lhes não só os seus segredos como também o seu
dinheiro.

Segundo escreve o mesmo jornal, a extensão e duração da operação
ajudam ainda a explicar a forma como os EUA desenvolveram um apetite
insaciável por vigilância internacional, exposto em 2013 por Edward
Snowden.

A CIA e o BND recusaram-se a comentar a investigação, mas a
autenticidade dos dois documentos analisados não foi contestada pelas
autoridades norte-americanas e alemãs. Segundo o Washington Post, um
dos documentos foi feito pelo centro de estudos da CIA em 2004 e
consiste em 96 páginas que explicam a operação. Já o segundo é uma
compilação feita por oficiais de inteligência alemães em 2008.


João Costa > CT1FBF <ct1fbf  gmail.com> escreveu no dia quarta,
12/02/2020 à(s) 12:41:
>
> CIA era dona da Crypto AG suiça e espiou aliados e inimigos durante décadas
>
>
> Numa revelação ao estilo dos filmes de espionagem, descobriu-se que a CIA tinha acesso às comunicações encriptadas de todos os aliados e inimigos que confiassem nas máquinas da Crypto AG suíça... que afinal estava sob seu controlo.
>
> A Crypto AG era uma empresa suíça especializada no fornecimento de máquinas de encriptação, com décadas de historial e reputação, utilizada por praticamente todos os países do mundo. O que não se sabia era que afinal a empresa pertencia secretamente à CIA e serviços de informação da Alemanha ocidental - e que ambas podiam facilmente descodificar todas as comunicações supostamente seguras feitas através das suas máquinas.
>
>
> Isto manteve-se ao longo de décadas, sendo que a Crypto AG só foi "desmantelada" em 2018, quando o seu "segredo" já se tinha tornado conhecido - mas ainda assim, com as operações a serem absorvidas por novas empresas que não se libertarão da suspeita de continuarem ligadas à CIA.
>
> A técnica de manipulação era subtil, consistindo na adulteração dos algoritmos de encriptação por forma a não serem tão aleatórios como seria suposto. Embora as agências tivessem que recorrer a outros métodos para "escutarem" as mensagens, as mesmas podiam ser decifradas em segundos (na prática, como se não tivessem qualquer encriptação).
>
> Mais uma vez se conforma que as "teorias de conspiração" - neste caso - acabam por não ser nem teoria nem conspiração; e que a suposta garantia de ser uma "empresa suíça" de nada vale neste vasto mundo da espionagem mundial. Também não deixará de ser caricato depois ver os EUA a fazerem campanhas contra a Huawei dizendo que eles poderão espiar as comunicações... quando também os próprios EUA são apanhados a espiar tudo e todos, incluindo os seus supostos aliados, durante décadas.
>
> Fonte: Aberto Até de Madrugada
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