ARLA/CLUSTER: Off Topic: Leituras para o fim de semana

João Costa > CT1FBF ct1fbf gmail.com
Sexta-Feira, 3 de Maio de 2019 - 14:06:07 WEST


O que é física quântica, afinal?

Ela é a única teoria que descreve de maneira bem sucedida o
comportamento dos átomos e das partículas menores que os átomos – os
quarks e os eléctrons que compõem os átomos, por exemplo, ou os
fótons, as partículas que perfazem a luz. Se você tentar usar as
equações da Relatividade de Einstein para explicar o que um elétron
está fazendo, não vai dar certo. O mundo das coisas pequenas é
inacessível às equações do alemão.

Isso porque é impossível determinar a posição de um elétron. O melhor
que você pode fazer é criar uma espécie de gráfico que demonstra onde
há maior ou menor probabilidade deste elétron estar em um determinado
momento. A equação que gera essa gráfico foi a grande sacada de Erwin
Schrödinger, pela qual recebeu o Nobel de Física em 1933.

Essa é uma noção muito estranha, pois nada, na nossa experiência
quotidiana, pode estar em dois lugares ao mesmo tempo. Se você está em
casa, a probabilidade de que você esteja em casa é 100%, e de que você
esteja fora de casa, 0%. Não dá para estar meio grávida, não dá para
cometer meia infracção de trânsito, não dá para estar 50% na cama e
50% no mercado.

Isso é tão verdade que até as próprias partículas concordam: quando
você tenta estabelecer a posição de um elétron, ele imediatamente
abandona sua incerteza e se manifesta em um lugar só. O gráfico, antes
tão irregular, atinge 100% de garantia. Dureza: o mundo, na escala
quântica, passa a perna nos cientistas. Quem descobriu que o elétron
se nega a manifestar sua estranheza foi o dinamarquês Niels Bohr.

O que Everett concluiu foi: de fato, é extremamente tosco supor que um
elétron esteja em dois lugares ao mesmo tempo, ou que o observador
veja a partícula em vários lugares ao mesmo tempo. Mas não é tão tosco
assim pressupor que existem vários universos, e que cada um deles
contêm o elétron em uma das posições possíveis. Ou seja: o Gato de
Schrödinger está vivo num um universo, e morto em outro. Acabou o
paradoxo.

Mais recentemente, um físico chamado David Deutsch juntou algumas
possibilidades de viagem no tempo quântica com a ideia do multiverso –
gerando um cenário teórico.

E dá pra viajar no tempo de verdade?

Não, com a física quântica.

Já na Teoria da Relatividade de Einstein – que, como já dissemos,
explica o mundo em escalas maiores –, viagens no tempo não só são
possíveis como são corriqueiras: toda vez que você entra em um
autocarro para se deslocar pelas três dimensões do espaço – isto é, ir
da sua casa até o trabalho ou o colégio –, o tempo necessariamente
passa mais devagar da sua perspectiva do que na perspectiva de quem
ficou parado.

Essa é uma ideia muito contra-intuitiva, então vamos repetir com mais
detalhes: o tempo é uma estrada que você é obrigado a percorrer. Nada
que você faça pode impedi-lo de passar. Einstein descobriu que o tempo
passa à velocidade da luz: 1,08 bilhão de quilómetros por hora. E essa
é a velocidade máxima do Universo – nada pode ir mais rápido.

Ou seja: se você quiser se deslocar só um pouquinho nas três dimensões
do espaço, você vai ser obrigado a tirar um pouquinho da sua
velocidade no tempo e usá-la no espaço. E, quando você se desloca mais
devagar no tempo, as pessoas que não se deslocarem envelhecem mais
rápido que você.

Esse é o tipo de viagem no tempo de Interstelar, de Christopher Nolan.
Ela só funciona no sentido do futuro: se você sair da Terra num uma
nave espacial, passar um tempinho voando a uns 90% da velocidade da
luz e depois voltar, verá que seus pais já morreram e os seus filhos
já estão na faculdade.

Se você estiver com preguiça de arranjar uma nave que alcance a
velocidade da luz, você pode simplesmente chegar perto de um corpo com
uma gravidade muito, muito absurda – como uma estrela de nêutrons ou
um buraco negro. A maneira como eles dobram o tecido do espaço-tempo
terá um efeito análogo: fazer você percorrer o tempo mais lentamente
(a explicação completa não cabe aqui).

A viabilidade técnica disso é próxima de zero. Mas que dá, dá, pelo
menos teoricamente.



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