ARLA/CLUSTER: Fortes suspeitas sobre o novo sistema automático de estabilização nos Boeing 737 Max 8 faz a EASA proibir a sua operação na Europa

João Costa > CT1FBF ct1fbf gmail.com
Sexta-Feira, 15 de Março de 2019 - 13:37:20 WET


ACIDENTES AÉREOS

Apesar de ter tido treino prévio em aviões do novo modelo Boeing 737
MAX 8, minutos depois da descolagem o piloto Yared Getachew reportou
problemas em controlar o avião e pediu para regressar a Adis Abeba.

Segundo o New York Times, que cita fonte ligada às comunicações do
aeroporto e revela algumas das mensagens trocadas entre o piloto e um
responsável pelo tráfego aéreo, a tensão sentida no cockpit era óbvia.

"Break break, peço autorização para regressar a casa", comunicou o
piloto depois de evitar com dificuldades a colisão com dois aviões que
se aproximavam do aeroporto. "Peço indicações para aterragem".

Não foram muitas as mensagens trocadas entre o avião da Ethiopian
Airlines e a torre de controlo. As comunicações perderam-se cinco
minutos depois da aeronave levantar voo.

Mas mesmo antes de o piloto reportar a emergência, quem estava a olhar
para os radares conseguiu perceber de imediato que algo de muito
errado se passada com o Boeing.

A velocidade era superior ao suposto, a altitude muito inferior aos
mínimos de segurança durante uma descolagem, e o nariz do avião não
parava de oscilar para cima e para baixo, tal como aconteceu ao Boeing
737 Max 8 ao serviço da Lion Air que despenhou em Outubrocom 189
pessoas a bordo.

O piloto Yared Getachew reportou os primeiros problemas com uma voz
calma. O pânico só começou quando se cruzou com dois outros voos da
Ethiopian Airlines, o 613 e o 629, que se aproximavam o aeroporto. O
seu avião estava a voar mais baixo do que devia e os controladores
aéreos tiveram de pedir aos dois outros voos para adiar a descida e
manterem a altitude.

Autorizado a regressar ao aeroporto, o avião virou à direita e depois
desapareceu dos radares.

As duas caixas negras do avião Boeing 737 MAX 8 da Ethiopian Airlines
estão a ser analisadas em França. Só depois serão conhecidos em
detalhe as gravações de voz do cockpit e os dados do voo.

No caso do avião da Lion Air, as caixas negras indicaram falhas no
indicador de velocidade nos últimos quatro voos realizados pelo mesmo
aparelho. Confrontados com valores "erráticos" dos indicadores de
velocidade e de altitude, os pilotos lutaram contra problemas quase
desde a descolagem.

Isto porque o novo sistema automático de estabilização, criado para
corrigir a posição do nariz do avião - uma novidade do Boeing 737 Max
-, estava a receber leituras incorretas do sensor e a tripulação não
conseguiu desligá-lo. Em resultado, o nariz do avião foi forçado a
baixar mais de uma dúzia de vezes no espaço de 11 minutos até que a
perda de controlo foi total e o aparelho caiu no oceano, a mais de 700
quilómetros por hora.

Vários pilotos referem que nos antigos modelos os pilotos podiam
reagir a esta emergência puxando um manípulo situado mesmo em frente a
eles. No novo modelo essa medida não funciona e os pilotos do voo 610
da Lion Air puxaram diversas vezes a alavanca sem sucesso.

As coincidências entre os dois desastres são inevitáveis. Depois de a
Agência Europeia de Segurança Aérea (EASA) ter proibido o modelo 737
MAX 8 de operar no continente europeu, juntando-se a 20 países e 30
companhias aéreas de todo o mundo que suspenderam os voos com esses
aparelhos, a Boeing anunciou esta quinta-feira a suspensão da entrega
destas aeronaves.

"Suspendemos as entregas do 737 MAX até encontrarmos uma solução",
disse um porta-voz da Boeing, acrescentando que a fabricante de aviões
norte-americana mantém a produção do modelo.

"Estamos a avaliar as nossas capacidades e vamos ver onde é que os
aviões que saem da linha de montagem vão ser armazenados", referiu.

Considerado um dos modelos mais avançados de sempre, com tecnologia de
ponta no que diz respeito à sustentabilidade e eficiência, o Boeing
737 Max 8 começou a ser operado regularmente pelas companhias aéreas
no final de 2017, depois de se estrear nos céus em 2016.

Fonte: TSF



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