ARLA/CLUSTER: Resposta portuguesa: Fernão de Magalhães até pode ter nascido em Portugal, mas a exclusividade da totalidade do projeto da primeira viagem de circum-navegação da Terra é espanhola.
João Costa > CT1FBF
ct1fbf gmail.com
Segunda-Feira, 11 de Março de 2019 - 17:43:42 WET
Viagem de Fernão de Magalhães, “Foi um descobrimento espanhol, com
ciência portuguesa”
“Se não fosse Fernão de Magalhães, os espanhóis nunca teriam feito
aquela viagem. Aliás, nunca mais a fizeram", defende historiador.
"A economia e a política foram espanholas, a ciência portuguesa."Foi
por "estar aborrecido com D. Manuel por causa de uma reivindicação
salarial" que o navegador se virou para Castela. E a missão da viagem
passou a ser contrária aos interesses portugueses. “Foi um
descobrimento espanhol com ciência portuguesa. Está-se agora a tentar,
por razões políticas, manipular uma evidência científica que não tem
discussão possível.” O historiador José Manuel Garcia, autor do livro
“A viagem de Fernão de Magalhães e os Portugueses”, não percebe a
posição da Real Academia de História de Espanha que, respondendo a um
pedido do diretor do jornal ABC, considerou que tudo na primeira
viagem de circum-navegação “foi espanhol”.
“Se não fosse o Fernão de Magalhães, que era português, os espanhóis
nunca teriam feito aquela viagem. Aliás, nunca mais a fizeram. Ainda
tentaram mais três vezes, mas chegavam às ilhas Molucas [Indonésia] e
ficavam por lá, porque não conseguiam fazer o caminho de volta por
águas espanholas, e acabavam presos pelos portugueses”, conta José
Manuel Garcia, especialista na época dos Descobrimentos.
No entanto, lembra que o navegador virou costas à coroa portuguesa,
depois de D. Manuel não se interessar pela viagem. Acabou por
adaptá-la aos interesses espanhóis (contrários aos dos portugueses) e
conseguir o patrocínio do rei de Castela.
Este ano completam-se 500 anos da primeira volta ao mundo por via
marítima — embora não fosse essa a pretensão do navegador — e a
candidatura apresentada pelo governo português à UNESCO para
considerar a rota traçada por Fernão de Magalhães património mundial
criou polémica com Espanha.
Portugal foi acusado de tentar apagar o papel da coroa espanhola na
viagem, mas, no final de janeiro, numa declaração conjunta,
representantes dos dois governos declararam ter sanado quaisquer
divergências.A solução encontrada foi apresentar uma candidatura
conjunta, que envolve também outros países por onde passou a rota de
Magalhães, e à qual se junta agora o apelido de Juan Sebastián Elcano,
o espanhol que terminou a viagem. Fernão de Magalhães morreu pelo
caminho.
A declaração da candidatura Magalhães-Elcano foi feita a 23 de janeiro
pelo ministro dos Negócios Estrangeiros português, Augusto Santos
Silva, e pelo ministro da Cultura espanhol, Josep Borrell.
Agora, e depois de os executivos ibéricos terem resolvido todas as
questões diplomáticas, é a Real Academia quem vem dizer que a primeira
volta ao mundo é totalmente espanhola. E argumenta que Magalhães
estava desavindo com a coroa portuguesa, tendo alterado o seu nome
para a grafia espanhola, considerando-se a si próprio súbdito
espanhol. Apesar disso, José Manuel Garcia lembra que o navegador não
deixa de ser português.“E era mesmo português, nascido no Porto, e não
em Sabrosa, como alguns defendem. A questão da mudança de nome tem
fundamento. Quando foi para Espanha, cortou completamente relações com
Portugal, mudou o nome para Fernando de Magallanes, e recusou sempre
voltar ao seu país,apesar de muitos embaixadores de D. Manuel lho
terem pedido.
No seu testamento, mantinha o brasão, mas escrevia que os seus
herdeiros teriam de ir viver para Espanha e adoptar o nome Magallanes.
O irmão dele nunca quis fazer isso e a herança acabou por
perder-se.”Quanto a uma suposta “desnaturalização” de Fernão de
Magalhães, diz “haver dúvidas” de que isso tivesse acontecido no
século XVI. “Mas é verdade que ele nunca quis voltar para Portugal.”A
primeira viagem de circum-navegação foi iniciada por Fernão de
Magalhães e terminada por Elcano. Fernão de Magalhães “aborreceu-se
com o rei português”
A ciência, essa, aprendeu-a no país em que nasceu. “Toda a parte
política e económica da viagem é espanhola, a ciência é portuguesa.
Não há discussão possível. Fernão de Magalhães só foi ter com os
espanhóis porque se aborreceu com o rei português. Não se entenderam
por causa de uma reivindicação salarial e ele, para se vingar do rei,
quis provar que as ilhas Molucas eram espanholas e não portuguesas.
Enganou-se por pouco, por 5 graus de longitude, mas eram, de facto, da
Coroa Portuguesa.
”No século XVI, vigorava o Tratado de Tordesilhas, celebrado entre o
Reino de Portugal e a Coroa de Castela para dividir as terras
“descobertas e por descobrir” fora da Europa por ambos os reinados. As
ilhas Molucas, na Indonésia, estavam no limite do território dominado
pelos portugueses. E esse é outro aspeto importante, refere o
historiador.Em 1519, Fernão de Magalhães não pretendia sequer fazer
uma viagem à volta do mundo. A sua única missão era provar que as
Molucas, onde já tinha estado em 1511, eram de Carlos V, e assim
permitir à Espanha enriquecer com o comércio do cravinho, irritando D.
Manuel I.Carlos V só se meteu na viagem porque acreditou na capacidade
científica de Fernão de Magalhães que lhe apareceu com mapas como ele
nunca tinha visto antes, com uma concepção científica rigorosíssima
dos portugueses Pedro e Jorge Reinel [pai e filho que foram
considerados os melhores cartógrafos da sua época].
O Fernão de Magalhães tinha naquela altura uma noção do mundo muito
mais rigorosa do que todos os espanhóis juntos”, defende o autor de “A
viagem de Fernão de Magalhães e os Portugueses”.“E não era sequer o
único português. Para além dos mapas serem dos Reinel, os três
principais pilotos da armada eram portugueses: o Vasco Galego, o João
Carvalho e o Estêvão Gomes. No total, Fernão de Magalhães levou com
ele mais 31 portugueses”, diz José Manuel Garcia. Para a viagem até às
Molucas, que acabou por se transformar na primeira à volta do mundo, o
rei espanhol entregou a Fernão de Magalhães uma armada de cinco naus,
com 237 homens. Só regressaria a comandada por Elcano.
Pelo caminho, o navegador português dobrou o Estreito a que se deu o
seu nome e descobriu as Filipinas. A travessia do Oceano Pacífico, por
águas espanholas, só foi possível graças à mestria de
Magalhães.“Repare, tudo o que foi descoberto de novo, a parte do ‘por
mares nunca dantes navegados’, do Rio de Prata até às Filipinas, foi
com o Fernão de Magalhães à frente, a comandar com mão de ferro. O que
aconteceu é que, depois de ele morrer, os espanhóis não conseguiram
fazer o caminho de regresso pela rota prevista.
O Gonzalo Gomez de Espinosa ainda tentou voltar pelo Pacífico, que
eram águas espanholas, e não conseguiu, e o Elcano percebeu que se
tentasse fazer o mesmo, também não ia conseguir. Então, contrariando
todas as ordens do D. Carlos V, voltou por águas portuguesas,
regressou pelo hemisfério oriental [que segundo o Tratado de
Tordesilhas era dominado pelos portugueses], pelas águas do Oceano
Índico”, ou seja, explica o historiador, numa volta completamente
ilegal e contrariando as ordens da coroa espanhola.
O Elcano pensou que quando chegasse com a nau carregada, o rei ia
fechar os olhos. Mas, de facto, o Carlos V escreveu, desde o início,
logo nas primeiras instruções que deu ao Fernão de Magalhães que não
podia navegar por águas portuguesas. E chegou a escrever ao rei D.
Manuel a garantir que não iam tocar na parte portuguesa do mundo.
”A importância de Elcano para a viagem de circum-navegação não é
sequer posta em causa pelo historiador que lembra que para fazer a
rota estabelecida por Fernão de Magalhães era preciso seguir timings
apertados, por causa das correntes. Se assim não fosse, a tentativa
acabaria sempre em desastre.
As questões políticas e o editorial do ABC.
Por tudo isto, José Manuel Garcia acredita que o regresso da discussão
— num momento em que os dois governos acordaram em apresentar uma
candidatura conjunta à UNESCO da rota Magalhães-Elcano — “é puramente
política”.“Não há quaisquer dúvidas do papel de cada um. Está-se agora
a tentar, por razões políticas, manipular uma evidência científica.
Não faz sentido”, diz o historiador que esta terça-feira, às 17h00,
dá uma palestra sobre o tema na Academia de Marinha, em Lisboa.Em
Espanha, a direção do diário conservador ABC tem levantado uma série
de questões relacionadas com as comemorações dos 500 anos da viagem,
acusando o governo socialista de Pedro Sánchez (PSOE) — que convocou
eleições antecipadas para abril — de não estar à altura das mesmas.
Aliás, foi no seguimento de uma petição do diretor do ABC, Bieito
Rubido Ramonde, que a Real Academia espanhola emitiu o seu comunicado.
Este domingo, 10 de março, o editorial do jornal espanhol tinha como
título “Grandes heróis para tão pequeno governo”.“Depois da petição do
ABC, a Academia de História certifica que o feito de Magallanes-Elcano
é totalmente espanhol, aniversário que o executivo de [Pedro] Sánchez
se recusa a comemorar como deve”, lê-se logo no destaque do texto.
“O passado glorioso de Espanha envergonha o Governo de Sánchez”,
começa o editorial, que acusa o governo de só enaltecer o passado
republicano, deixando cair no esquecimento os feitos de Fernão de
Magalhães, Elcano e de Hernán Cortés. É indigno para uma nação como a
espanhola que as suas autoridades imponham um apagão histórico a todo
que lhe permita ter orgulho do seu passado, enquanto essas autoridades
agitam as brasas da discórdia e da vingança”, continua o editorial.
“Cortés, Magallanes e Elcano são expressão do que à sua época
significava estar ao serviço de grandes ideais e contribuíram para
ampliar os limites da civilização, então representada pela coroa
espanhola”, lê-se no texto que assume que, no entanto, seria um
“despropósito” reivindicar para os dias de hoje políticas
imperialistas como as de então.
Ainda assim,considera um erro negar aqueles episódios de heroísmo.“A
mentalidade mesquinha do governo socialista e o absurdo complexo de
culpa perante a nossa história estão a contribuir para perder uma
grande oportunidade de reivindicar os feitos de nossos compatriotas.
Estão a contribuir para que a Espanha duvide de si mesma em tempos em
que é mais necessário do que nunca afirmar a nossa identidade
nacional”, conclui o editorial do ABC.
Fonte: Observador
João Costa > CT1FBF <ct1fbf gmail.com> escreveu no dia segunda,
11/03/2019 à(s) 10:08:
>
> A Real Academia de História de Espanha divulgou um relatório em que
> reclama a exclusividade da totalidade do projeto da primeira viagem de
> circum-navegação da Terra.
>
> "Com esses dados, absolutamente documentados, é incontestável a plena
> e exclusiva autoria espanhola", conclui a Real Academia de História
> (RAH) num relatóriocom a data de 1 de março deste ano, mas publicado
> este domingo na sua página na internet.
>
> A instituição explica que o documento foi elaborado pela "necessidade
> social de responder às muitas questões levantadas pelas autoridades
> portuguesas ao tentar capitalizar a paternidade" da autoria da viagem
> pelo facto de "Magalhães ser natural de Portugal".
>
> "Com este relatório pretende-se evitar que a comemoração [dos 500 anos
> da viagem] se converta numa fonte de divisão entre os dois países
> vizinhos", segundo a RAH.
>
> PORTUGAL E ESPANHA QUEREM VIAGEM DE MAGALHÃES PATRIMÓNIO DA HUMANIDADE
>
> Os chefes da diplomacia de Portugal e de Espanha anunciaram em Madrid
> a 23 de janeiro último a apresentação conjunta de uma candidatura a
> património da humanidade da primeira viagem de circum-navegação do
> globo, depois de "dissipadas todas as dúvidas".
>
> "Decidimos que Portugal e Espanha, através dos seus embaixadores na
> UNESCO, irão apresentar conjuntamente a candidatura" da rota da viagem
> iniciada pelo português Fernão de Magalhães e terminada pelo espanhol
> Sebastião Elcano, disse na altura o chefe da diplomacia portuguesa,
> Augusto Santos Silva.
>
> O relatório da RAH foi elaborado a pedido do diário ABC, que antes
> desse anúncio tinha avançado que, numa candidatura inicial da rota de
> Magalhães apresentada por Portugal à UNESCO, o governo português teria
> apagado o império espanhol da história ao quase não fazer referência
> ao nome de Sebastião Elcano ou o papel preponderante de Espanha na
> realização da viagem.
>
> Primeira viagem à volta do Mundo, a bordo da nau Victoria, começou em
> 20 de setembro de 1519
>
> Primeira viagem à volta do Mundo, a bordo da nau Victoria, começou em
> 20 de setembro de 1519, em Sanlúcar de Barrameda, no sul de Espanha, e
> terminou em 06 de setembro de 1522, no mesmo local.
>
> Fernão de Magalhães, que planeou a viagem que acabou por ser
> financiada pelo reino de Espanha, não terminou a expedição, uma vez
> que morreu nas Filipinas, em 1521, aos 41 anos, tendo esta sido
> concluída pelo navegador espanhol Sebastião Elcano.
>
> Portugal e Espanha estão a organizar inúmeras iniciativas que terão
> lugar até 2021 para assinalar esta viagem histórica iniciada há 500
> anos.
>
> No seu relatório, a RAH relata que Magalhães, natural de Portugal,
> "serviu esta coroa fazendo várias viagens pelo Índico", mas que em
> 1517 "agastado com D. Manuel de Portugal por não reconhecer os seus
> méritos, decide abandonar o seu país, deixar de servir o seu rei e
> viajar para Espanha, [...] onde se instalou, contraiu matrimónio e,
> desde essa altura, serviu o rei Carlos I".
>
> O documento sublinha que, na altura, Portugal tentou, "por todos os
> meios, que a viagem não se realizasse" por esta ter sido "entregue a
> uma empresa espanhola", qualificando Magalhães de "renegado" e
> "traidor", o que continuou a ser feito por "uma parte" dos
> historiadores portugueses.
>
> A RAH, fundada em 1738, é uma instituição com sede em Madrid
> encarregada do estudo da história da Espanha, "antiga e moderna,
> política, civil, eclesiástica, militar, das ciências, letras e artes,
> ou seja, dos diversos ramos da vida, civilização e cultura dos povos
> espanhóis".
>
> Fonte: Jornal de Noticias
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