ARLA/CLUSTER: Sonda espacial Parker revela dados da atmosfera do Sol. Nunca se tinha chegado lá

João Costa > CT1FBF ct1fbf gmail.com
Quinta-Feira, 5 de Dezembro de 2019 - 09:43:56 WET


NASA divulgou os primeiros resultados da viagem da sonda Parker, a
primeira a entrar na atmosfera solar por onde irá passar mais vezes
nos próximos seis anos.

Nunca uma sonda espacial tinha chegado tão perto da atmosfera solar
como fez a Parker, uma sonda da NASA que procura recolher dados sobre
o Sol. Lançada em agosto de 2018, a sonda tem uma viagem prevista de
sete anos e os investigadores que tratam os dados recolhidos revelaram
esta quarta-feira os primeiros resultados obtidos pela Parker.

A primeira amostra de dados oferece pistas sobre mistérios de longa
data, incluindo o motivo que leva a atmosfera do sol, conhecida como
coroa, a ser centenas de vezes mais quente do que a sua superfície,
bem como as origens exatas do vento solar.

"O obtivemos até agora é espetacular", disse o professor Stuart Bale,
físico da Universidade da Califórnia, em Berkeley, que liderou a
análise. "Podemos ver a estrutura magnética da coroa, que nos diz que
o vento solar emerge de pequenos orifícios. Vemos também atividade
impulsiva, jatos que acreditamos estarem relacionados com a origem do
vento solar."

Nos próximos seis anos, a sonda do tamanho de um carro seguirá uma
órbita cada vez mais próxima do Sol e chegará a estar tão perto que
tecnicamente "tocará" o sol. A Parker consegue resistir, através de um
escudo térmico, a temperaturas até 1400 graus e, na sua missão de sete
anos, conta atravessar a atmosfera solar 24 vezes, a uma distância de
6,2 milhões de quilómetros da superfície do Sol.

Até agora, os cientistas observavam que o vento do sol parecia ter
dois elementos principais: um "rápido" que percorre cerca de 700 km
por segundo (e provém de buracos gigantes na região polar do sol) e um
vento "lento", que percorre menos de 500 km por segundo, cuja origem
era desconhecida. A sonda Parker analisou o vento "lento" em volta de
pequenos orifícios coronais espalhados pelo equador solar - estruturas
solares que não tinham sido observadas anteriormente.

As observações também apontam para uma explicação sobre a razão de a
coroa ser incrivelmente quente. "A coroa atinge um milhão de graus,
mas a superfície do sol é de apenas milhares", disse o professor Tim
Horbury , co-investigador do Parker Solar Probe Fields no Imperial
College de Londres. "É como se a temperatura da superfície da Terra
fosse a mesma, mas a atmosfera atingisse muitos milhares de graus",
disse, citado pelo The Guardian. As recolhas da sonda Parker revelaram
que as partículas do vento solar parecem ser libertadas em jatos
explosivos, em vez de serem irradiadas em fluxo constante. "É bang,
bang, bang", resumiu Tim Horbury.

A sonda deve o nome a Eugene Parker que em 1958 foi o primeiro a
descobrir a existência do vento solar. Na altura, os colegas
cientistas desprezaram a sua teoria de que o vento solar podia forçar
o plasma e outras partículas do Sol, lançando-as para a atmosfera e
afetando a Terra. Mas as missões espaciais vieram dar-lhe razão. E
passados 60 anos, a NASA enviou até ao Sol a sonda com o seu nome.



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