ARLA/CLUSTER: Astrônomos detectaram 8 novos sinais radio que se repetem no espaço profundo

João Costa > CT1FBF ct1fbf gmail.com
Quarta-Feira, 14 de Agosto de 2019 - 22:27:11 WEST


Por Natasha Romanzoti, hypescience.com
14 de Agosto de 2019 10:35

Um novo estudo da Universidade McGill (Canadá) descobriu nada menos do que
oito sinais de rádio conhecidos como “rajadas de rádio rápidas†(do inglês
“fast radio bursts†ou FRBs) que se repetem no espaço profundo.

Por que isso é importante?

Estes sinais representam um grande mistério científico já faz muito tempo.
Dezenas deles foram descobertos por todo o universo, mas até agora só
conhecíamos dois que se repetiam.

Com os novos oito, temos dez FRBs que se repetem no espaço profundo, o que
pode deixar os pesquisadores mais perto de descobrir sua origem e causa.

FRBs

As rajadas de rádio são detectadas como “aumentos repentinos†nos dados que
duram apenas alguns milissegundos. Nesse curto período, no entanto, podem
liberar mais energia que 500 milhões de sóis.

No começo de 2019, os cientistas descobriram dois FRBs que se repetiam: o
FRB 121102 e o FRB 180814.

Agora, usando o “Canadian Hydrogen Intensity Mapping Experimentâ€, o
telescópio CHIME, do Canadá, a equipe descobriu mais oito que podem estudar
e comparar semelhanças e diferenças.

“Definitivamente há uma diferença entre as fontes, sendo algumas mais
prolíficas do que outras. Nós já sabíamos pelo FRB 121102 que as rajadas
podiam ser muito agrupadas: às vezes a fonte não explode por horas e horas
e então de repente você recebe múltiplas rajadas em um curto período de
tempo. Nós observamos a mesma coisa no FRB 180916.J0158 + 65, para o qual
relatamos dez explosões neste estudoâ€, explicou o físico Ziggy Pleunis, da
Universidade McGill, ao portal ScienceAlert.

Características

Então, uma das oito rajadas se repetiu dez vezes. Outras seis se repetiram
apenas uma vez, e a última se repetiu três vezes no total. A maior pausa
entre as repetições foi de cerca de 20 horas.

Os cientistas ainda não sabem o que isso significa, mas uma teoria, criada
pelo astrofísico Vikram Ravi, do Centro Harvard-Smithsonian (EUA), é de que
todo FRB é um repetidor, só que com periodicidades distintas. Alguns podem
ficar muito tempo inativos (como um vulcão dormente), e é por isso que não
foram detectados como repetidores.

Essa é uma hipótese interessante, mas talvez não esteja correta, pois houve
semelhanças entre os repetidores não vistas nos FRBs observados apenas uma
vez: eles parecem durar um pouquinho mais.

E depois tem a questão da frequência. Os dois primeiros repetidores
descobertos – FRB 121102 e FRB 180814 – mostraram uma tendência de queda na
frequência, com cada rajada sendo sucessivamente mais baixa. A maioria dos
oito novos repetidores também demonstrou tal frequência “descendenteâ€.

Dispersão e localização

Usando os dados do CHIME, a comunidade científica agora pode analisar as
informações para tentar encontrar pistas sobre o que está produzindo os
sinais.

Por exemplo, a equipe de Vikram Ravi conseguiu localizar as galáxias de
onde vieram os novos FRBs com base na direção dos sinais, embora não possam
ainda definir sua origem exata.

Um dos sinais mais interessantes é o FRB 180916, porque ele tem a menor
taxa de “dispersão†vista, o que pode significar que veio de alguma galáxia
próxima.

“Mesmo com os maiores telescópios, se estiver mais perto de você, você
sempre terá uma visão melhor do que se for algo mais distanteâ€, afirma o
astrônomo Keith Bannister, da agência nacional de ciência CSIRO, que não
esteve envolvido na pesquisa, ao ScienceAlert. “Então essa medida
específica de baixa dispersão é superempolgante, porque há uma boa chance
de que esteja por perto. E isso significa que será mais fácil de observar,
uma vez que realmente sabemos exatamente onde está no céuâ€.

Ainda restam muitas dúvidas

As informações de dispersão e frequência são boas pistas, mas ainda não
suficientes para detectarmos a origem e causa dos FRBs.

A polarização é mais uma informação a ser considerada nesse estudo: se o
sinal é torcido, significa que veio de um ambiente extremamente magnético,
por exemplo, próximo de um buraco negro ou estrela de nêutrons. Esse era o
caso do FRB 121102, mas não do FRB 180916.

Ou seja, FRBs que se repetem não vêm sempre do mesmo ambiente, e podem
existir diferentes classes de objetos produzindo tais sinais.

“Acho (e espero!) que este estudo faça com que outros astrônomos apontem
seus telescópios para essas fontes recém-descobertas. Há muita informação
aqui para construtores de modelos trabalharem. Acho que isso os ajudará a
descobrir o que produz FRBs repetidos. Além disso, nossas descobertas podem
influenciar a estratégia de busca de outras equipes que tentam descobrir
FRBs que se repetemâ€, concluiu Pleunis.

Um artigo sobre o estudo foi aceito para publicação na revista científica
The Astrophysical Journal e pode ser lido (em inglês) aqui. [ScienceAlert]
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