ARLA/CLUSTER: Instalação do Radiotelescópio SKA prossegue no deserto de Karoo na África do Sul e na região Murchison no oeste da Austrália.
João Costa > CT1FBF
ct1fbf gmail.com
Quarta-Feira, 21 de Março de 2018 - 16:41:29 WET
UM TELESCÓPIO GIGANTESCO PARA VER O INVISÃVEL
<https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/d/d9/SKA_overview.jpg>
Impressão de artista do núcleo central com 5 km de diâmetro das antenas SKA.
Crédito: SKA Project Development Office and Swinburne Astronomy Productions
- Swinburne Astronomy Productions for SKA Project Development Office
(clique na imagem para ver versão maior)
Com o telescópio SKA (Square Kilometre Array), os cientistas esperam poder
visualizar a matéria e as forças até agora invisÃveis. O SKA é um imenso
radiotelescópio que abrangerá dois locais: um no deserto de Karoo na Ãfrica
do Sul, e outro na região Murchison no oeste da Austrália. Até agora,
cientistas de dezasseis paÃses e de cerca de 100 instituições de pesquisa,
uniram-se para o projeto.
"Gerará uma nova era para o nosso campo," comenta Jean-Paul Kneib, diretor
do Laboratório de AstrofÃsica (LASTRO) da EPFL (École Polytechnique
Fédérale de Lausanne). O SKA dará aos cientistas recursos sem precedentes
para estudar o Universo. Enquanto a maioria dos telescópios, como o famoso
Telescópio Espacial Hubble e o VLT (Very Large Telescope) no Chile, usam
refração e reflexão ótica, o SKA irá capturar ondas de rádio. Não é o
primeiro radiotelescópio - há o de Arecibo em Porto Rico, por exemplo - mas
será, de longe, o maior. Terá 3000 pratos e um milhão de antenas,
permitindo com que forneça imagens com uma precisão sem paralelo.
A radioastronomia é um subcampo da astronomia que visa detetar e estudar
objetos celestes invisÃveis aos instrumentos óticos - isto é, objetos
extremamente frios ou muito distantes que não emitem muita luz visÃvel.
Estes objetos compõem a maioria da matéria no espaço: gases, regiões
bloqueadas por poeira cósmica e objetos a milhares de milhões de anos-luz
de distância. Uma das descobertas mais importantes feitas até agora com a
radioastronomia é a existência da radiação cósmica de fundo em micro-ondas.
<https://3c1703fe8d.site.internapcdn.net/newman/gfx/news/2018/1-amassivetele.jpg>
Nesta imagem do Universo profundo, cada ponto é uma galáxia.
Crédito: NRAO/B. Saxton a partir de dados fornecidos por Condon, et al.
(clique na imagem para ver versão maior)
"Esperamos que o SKA nos leve até antes da formação das primeiras
galáxias," afirma Frédéric Courbin, cientista do LASTRO. De facto, o
projeto visa resolver um dos maiores mistérios da astrofÃsica: porque é que
a expansão do Universo está a acelerar? O desempenho excecional do SKA
deverá abrir caminho para que os cientistas respondam a esta pergunta,
deixando-os observar como as primeiras galáxias foram formadas e como o
hidrogénio é distribuÃdo. O hidrogénio - um dos elementos mais abundantes
no cosmos - não pode ser visto com telescópios óticos convencionais, mas
"brilha bem" no rádio.
A radioastronomia é um campo altamente promissor, mas traz com ele alguns
obstáculos. Por exemplo, os seus instrumentos ocupam muito espaço. Os
sinais de rádio são abundantes, mas muitas vezes são deveras fracos; os
radiotelescópios têm que ter uma área de recolha extremamente grande para
produzir imagens com boa resolução. Quanto maior a área de recolha, maior a
sensibilidade do sistema e melhor a resolução da imagem.
Existem duas opções para obter uma superfÃcie grande o suficiente: a
construção de pratos gigantescos - o maior encontra-se na China e possui um
diâmetro de 500 metros - ou usar várias antenas separadas. Esta segunda
opção emprega interferometria, um método que, para simplificar, combina os
sinais recebidos em cada antena. Isto fornece imagens com a mesma resolução
que poderia ser obtida com um único prato com um diâmetro igual à maior
distância entre quaisquer duas das antenas. Esta é a tecnologia usada no
SKA, cujas antenas estarão localizadas em dois continentes e separadas por
aproximadamente 3000 quilómetros, resultando numa superfÃcie coletora
equivalente a um quilómetro quadrado!
<https://cdn.eso.org/images/large/eso1137b.jpg>
Distribuição dos gases em duas galáxias em interação. Imagem que combina
dados óticos (Hubble) e no rádio (ALMA).
Crédito: NRAO/ALMA/NASA/ESA/B. Saxton
(clique na imagem para ver versão maior)
Com este tipo de área de superfÃcie, os cientistas podem recolher uma
quantidade impressionante de dados. Um rádio teria que operar durante dois
milhões de anos para transmitir a mesma quantidade de dados que o SKA
consegue recolher num único dia. Mas o processamento de quantidades tão
vastas de informação é ainda outro grande desafio para a equipa do projeto.
"Não só temos que produzir os programas certos para a leitura e
classificação do enorme volume de dados, como também temos que desenvolver
algoritmos especÃficos para aplicações astrofÃsicas," comenta Courbin.
"A enorme área de recolha do SKA permitirá capturar sinais extremamente
pequenos e fracos," comenta Yves Wiaux lÃder do grupo BASP (Biomedical and
Astronomical Signal Processing) da Universidade Heriot-Watt em Edinburgo.
"Mas os dados que recolhermos das suas várias antenas estarão altamente
fragmentados. Por isso, precisamos de desenvolver um sistema que não só
processa esses sinais rapidamente, como também os reúne." O grupo
apresentou uma abordagem baseada em dois métodos: deteção comprimida, usada
para construir sinais e imagens a partir de dados incompletos e otimização,
que permite que os algoritmos sejam executados em paralelo - ou seja,
realizar cálculos em vários servidores ao mesmo tempo.
"Dezasseis paÃses já estão envolvidos no projeto e está a tornar-se num
grande empreendimento internacional," conclui Kneib.
A construção do SKA deverá começar este ano para observações iniciais em
2020. Será construÃdo em duas fases, provavelmente com término em 2030,
embora os fundos ainda não estejam assegurados.
*Links:*
*NotÃcias relacionadas:*
EPFL (comunicado de imprensa)
<https://actu.epfl.ch/news/a-massive-telescope-for-seeing-the-invisible/>
Um telescópio gigantesco para ver o invisÃvel (EPFL via YouTube)
<https://www.youtube.com/watch?v=UKWRwHW33HQ>
PHYSORG <https://phys.org/news/2018-03-massive-telescope-invisible.html>
*SKA (Square Kilometre Array):*
Página internacional <https://www.skatelescope.org/>
Wikipedia <https://en.wikipedia.org/wiki/Square_Kilometre_Array>
*Radioastronomia:*
Wikipedia <https://en.wikipedia.org/wiki/Radio_astronomy>
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