ARLA/CLUSTER: Relatório de Pedrógão. “Houve pessoas que morreram com o telemóvel na mão a ligar para o 112” - uma das maiores falhas teve a ver não tanto com o combate aos fogos, mas sobretudo com o facto de não ter havido uma estrutura ou entidade responsável pela busca e salvamento de sobreviventes.

João Costa > CT1FBF ct1fbf gmail.com
Quarta-Feira, 14 de Março de 2018 - 17:22:41 WET


 Xavier Viegas, autor do relatório sobre os incêndios de Pedrógão, deixou
claro aos deputados que várias pessoas podiam ter sido salvas se houvesse
uma entidade só para coordenar a busca e salvamento.

JOÃO PORFÃRIO/OBSERVADOR
Autor

   - Rita Dinis <http://observador.pt/perfil/rdinis/>
   -



*“Houve pessoas que morreram caídas na estrada com o telemóvel na mão a
ligar para o 112, à espera de ser salvas, e tudo porque ninguém tinha a
responsabilidade formal de ir buscar as pessoas caídas no terreno.â€* O
relato é feito pelo deputado centrista Telmo Correia, no final de uma
audição, à porta fechada, a Domingos Xavier Viegas, coordenador do
relatório independente sobre os fogos de Pedrógão Grande.

A audição tinha sido pedida pelo CDS em dezembro, depois de ter sido
revelado o conteúdo do famoso “capítulo 6â€, que era confidencial por
detalhar ao pormenor as circunstâncias da morte das mais de 65 vítimas. Aos
deputados, Xavier Viegas deixou claro que uma das maiores falhas teve a ver
não tanto com o combate aos fogos, mas sobretudo com o facto de não ter
havido uma estrutura ou entidade responsável pela busca e salvamento de
sobreviventes.

“Faltou em Pedrógão o trabalho de busca e salvamento, ou seja, a prestação
de socorro médico falhou porque houve falhas nas buscas, que não foram
coordenadas. E numa situação de múltiplas vítimas tem de haver no comando
uma parte específica para a busca e salvamento. Isso claramente não houve
aqui em Pedrógãoâ€, disse Xavier Viegas aos jornalistas no final da reunião,
que, ao contrário do que se pensava, decorreu à porta fechada porque o
capítulo 6, apesar de já ter sido divulgado às famílias das vítimas, aos
deputados e, partes dele, à comunicação social, não é considerado público.

Do CDS ao PSD passando pelo PS, todos concordam que essa falha tem de ser
colmatada na estrutura de comando, não devendo ser o INEM a ter a tarefa
específica e ir ao local, por entre as chamas, fazer o salvamento. “Falta
aqui uma equipa para ir buscar as pessoas, falta criar algum comando,
alguma especificidade, para que os bombeiros não se afastem do combate aos
fogos e os médicos não se desviem de tratar os feridosâ€, resumiu o deputado
do PSD Duarte Marques no final da audição.
“Relativo consenso†sobre falhas

A ideia é unânime. O deputado socialista Fernando Rocha Andrade destacou o
“relativo consenso†que reina sobre as falhas de Pedrógão. “O professor
Xavier Viegas veio aqui destacar que a estrutura da Proteção Civil, como
está organizada, pode ter dificuldades a assegurar a busca e salvamento das
vítimas. Porque o INEM não pode avançar para um teatro de operações em
risco, sob pena de pôr em risco os seus profissionaisâ€, disse o
ex-secretário de Estado socialista. “É uma questão de organização: tem de
haver no comando uma estrutura concentrada nessa tarefaâ€, disse ainda.

Além das falhas na fase de busca e salvamento, o deputado Duarte Marques
sublinhou ainda que “o fogo foi mal avaliado, uma vez que a avaliação que
foi feita depois do ataque inicial foi mal feitaâ€, e a partir daí a
situação ficou “incontornávelâ€. “A estrutura distrital não deu resposta
adequada, os meios estavam dispersos pelo país em zonas onde não eram tão
precisosâ€, disse, reforçando que também essa falha foi sublinhada pelo
coordenador do relatório, na audição desta manhã no Parlamento.

De acordo com o deputado centrista Telmo Correia, outra das novidades da
audição teve a ver com os “atrasos na reconstrução, nas indemnizações e em
fazer chegar a ajuda solidária dos portugueses†às vítimas. Já sobre os
fogos de outubro, onde o CDS tem pedido que a equipa de Xavier Viegas faça
o mesmo tipo de trabalho que fez em Pedrógão, Telmo Correia avançou que
Xavier Viegas tem estado no terreno a fazer o levantamento, faltando só a
“parte burocrática†do Ministério da Administração Interna para formalizar
o trabalho. “Ficamos com a ideia de que o mandato vai ser conferido pelo
Governo ao professor Xavier Viegas, estando apenas a faltar a parte
burocráticaâ€.

Também o próprio Xavier Viegas confirmou que tem estado no terreno a
trabalhar no relatório sobre os fogos de outubro. “Começámos a trabalhar
logo nos fogos de outubro, que são fogos bem mais complexosâ€, disse,
sublinhando que até já tem um prazo indicativo para apresentar as
conclusões: oito meses desde que iniciou o processo, ou seja, idealmente
até ao verão.
-------------- próxima parte ----------
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