ARLA/CLUSTER: O Joe Taylor, K1JT, destruiu, o radioamadorismo?

Miguel Andrade (CT1ETL) ct1etl gmail.com
Quinta-Feira, 21 de Junho de 2018 - 22:37:24 WEST


Parabéns ao autor, ao tradutor e ao João Costa! :)
Apenas meia dúzia de curtos parágrafos para vos alertar para o facto de que
enquanto houver iniciativas como o "Dia Nacional da AM", telegrafistas ou
quem invista em modos de emissão tradicionais... o radioamadorismo não será
totalmente consumido pelas "modas".
Confesso que estou "viciado" no FT8, embora de há 3 meses a esta parte não
tenha podido fazer nenhum contacto nessa modalidade por ausência de
oportunidade. No entretanto, nas raras horas disponíveis para o rádio que me
surgiram efectuei QSO's em FM analógico (via estação repetidora e
ponto-a-ponto) e ainda tive o privilégio de participar duas fantásticas
sessões em ROS e PSK-31 na faixa dos 2 metros.
Como eu há mais por aí. O que interessa é que façamos rádio, de uma forma ou
de outra, mesmo que seja só FT8.
Façam rádio e respondam aos convites das emissões especiais, dos dias de
campo e até dos concursos, pois a vossa ausência é está verdadeiramente a
matar o Radioamadorismo e não um qualquer "FTxx", os QSO's automáticos ou a
operação entre máquinas sem grande (ou mesmo nenhuma) interacção do
operador.
Façam rádio!... e se a frequência estiver totalmente ao abandono telefonem a
uns colegas para lá aparecerem também, como já tenho feito e com resultados
surpreendentes.


Um abraço e... 

73 de Miguel Andrade ( CT1ETL )
IM58js - 38º44'57" N/009º11'26" W
CQ Zone 14 ********* ITU Zone 37
endereço em/adress in www.qrz.com/db/CT1ETL
  
________________________________________
De: cluster-bounces  radio-amador.net
[mailto:cluster-bounces  radio-amador.net] Em nome de João Costa > CT1FBF
Enviada: quarta-feira, 20 de Junho de 2018 16:30
Para: Cluster-ARLA
Assunto: ARLA/CLUSTER: O Joe Taylor, K1JT, destruiu, o radioamadorismo?


---------- Mensagem encaminhada ----------
De: Grupo Portugues de CW <gpcw.geral  gmail.com>
Data: 20 de junho de 2018 às 09:24
Assunto: Fwd: [Novo artigo] O Joe Taylor, K1JT, destruiu, o radioamadorismo?
Para: 

Um artigo longo que vale a pena ler até ao fim! 


Grupo Portugues de CW publicou: "Um artigo longo que vale a pena ler até ao
fim! O artigo original foi publicado em Fevereiro de 2018, no The Spectrum
Monitor, na coluna Amateur Radio Insights. Foi traduzido pelo Pedro
Carvalho, CT1DBS/CU3HF e publicado com a permissão expressa do aut" 
Responda a este artigo, respondendo acima desta linha



Novo artigo em Grupo Português de CW 



O Joe Taylor, K1JT, destruiu, o radioamadorismo?
por Grupo Portugues de CW 
Um artigo longo que vale a pena ler até ao fim! 
O artigo original foi publicado em Fevereiro de 2018, no The Spectrum
Monitor, na coluna Amateur Radio Insights.
Foi traduzido pelo Pedro Carvalho, CT1DBS/CU3HF e publicado com a permissão
expressa do autor.
Nota – As Notas de Tradução, para contextualização e compreensão do texto,
encontram-se entre parêntesis rectos e em itálico [exemplo]
________________________________________
 
O Joe Taylor, K1JT, laureado com o prémio Nobel e apreciado colega
radioamador em todo o mundo destruiu, acidentalmente, o radioamadorismo?
 Autor: Kirk Kleinschmidt, NT0Z
Tendo acabado de chegar de uma viagem na minha máquina do tempo, posso
dizer, inequivocamente, que a história atribui a morte do radioamadorismo ao
Joe Taylor, no ano de 2017. Sim, foi ele. De facto, o ano de 2018 DC marca o
início do apocalipse do radioamadorismo ou "hampocalypse" [na língua
anglo-saxónica], tendo ficado conhecido como ano 1 DT (primeiro ano “depois
de Taylor”).
O distinto cientista teve alguma ajuda, como é óbvio, mas tal como a
epidemia de gripe de 2027 (como depois se verá) em que um agente patogénico
de baixa agressividade, cuja natureza era apenas experimental, escapou ao
controle e espalhou-se pela população, replicando-se sistematicamente,
também o modo digital FT8 cresceu exponencialmente, sufocando os outros
modos.
Já era tarde na altura em que o FT9 e o FT10 foram lançados (modos que
permitem uma pequena interacção em tempo real (antes conhecida como
“conversação”). Os radioamadores que restaram recusaram-se a trocar
cortesias, focando-se, em vez disso, em reportes enviados pelas máquinas e
na troca de locators.
No ano 2 DT (2º ano depois de Taylor) foram proibidos os QSOs que não eram
feitos por máquinas e as regras proibindo a operação automática em HF foram
suprimidas em todo o mundo.
As faixas de amador foram reduzidas a 5KHz de largura a cada 2 MHz (de
corrente contínua até ao comprimento de onda da luz) de maneira a que
estações computorizadas pudessem mapear esquemas de spread spectrum [saltos
de frequência ou espalhamento pelo espectro] e de ALE em tempo real.
Utilizando apenas máquinas desperdiçavam-se larguras de banda adicionais.
O CQWW (agora designado por Concurso CQJTWW) foi o primeiro a entregar
diplomas a operadores que não sabiam sequer que a sua estação automatizada
tinha participado no concurso e que tinham uma pontuação notável – o último
grito em operação automatizada!
No ano 3DT, as redes neuronais [inteligência artificial] verificaram que os
humanos eram absolutamente desnecessários nos concursos e na validação de
previsões de propagação. Assim, o Serviço de Amador foi eliminado em todo o
mundo.
Houve um rumor que uma rede neuronal [inteligência artificial] de Itália,
que estava a operar ilegalmente um processador FT11 beta “de alta potência”,
fez o DXCC em 478 milisegundos, sendo este o mais rápido até ao momento.
Também é de notar que o CQJTWW, que chegou a utilizar 48 horas e que agora
tem apenas competidores da rede neuronal, foi reduzido para 8,5 segundos,
libertando a rede neuronal para mais sondagens ionosféricas para utilização
de sub-modos.
Numa tentativa de criar uma espécie de banda livre clandestina, que
permitisse a interacção entre humanos, alguns antigos radioamadores
começaram a experimentar a modulação por gradiente da gravidade terrestre e
transceptores de entrançamento quântico, tecnologias que não requerem ou
utilizam os estilos restritivos do FT8, FT9 ou FT10 (talvez o FT10
funcione).
Gostaria de partilhar mais mas o meu tempo no futuro é limitado pela
potência da minha máquina do tempo.
Se o leitor tiver acesso a uma máquina do tempo mais potente, agradece-se
que informe o que se passou a seguir.
Irreverente, não necessariamente irrelevante
A minha narrativa ficcional é atrevida e irreverente, mas, infelizmente, não
será provavelmente irrelevante.
O número de QSOs no modo do Joe, FT8, utilizando apenas máquinas explodiu e
os efeitos dessa explosão podem ser claramente visíveis nas bandas.
Embora não saiba exactamente porque tal aconteceu naquela altura, a minha
primeira exposição ao efeito do JTxx/FTxx ocorreu durante a último verão, na
altura das esporádicas E, nos 6 e nos 2 m (ou a falta delas).
Nos dois anos anteriores foram feitos muitos QSOs em SSB e CW,
verificando-se um agradável incremento no número de QSOs “não concurso”. Eu
estive a trabalhar no meu VUCC [VHF/UHF Century Club] e as coisas pareciam
promissoras.
Contudo, em 2017 a tradicional actividade parou. Parecia que ninguém estava
em casa. Naquela altura eu não sabia, mas toda a gente estava a utilizar JT
e FT enquanto eu procurava outras paragens. A ausência de sinais de SSB e CW
não era apenas verificável, era incrível.
Uma semana depois procurei por sinais de PSK31, dado que tinha estado
ausente deste modo durante algum tempo. Também não havia ninguém. Ahhh!
Há alguns meses, colunistas na CQ e QST começaram a escrever acerca da
mudança de paradigma. A início ainda fiquei céptico mas agora já não estou.
Que raio fez o Joe ?
Numa recente carta da ARRL [associação nacional de radioamadores
americanos], observadores atentos fizeram notar o crescimento explosivo de
QSOs em FT8 e o imenso declínio de todos os outros modos.
Até o Joe K1JT expressou publicamente a sua surpresa acerca da forma como os
seus novos modos digitais tomaram de assalto o mundo radioamadorístico. Mas,
talvez como Robert Oppenheimer [responsável pelo projecto Manhattan,
construção da primeira bomba atómica], que se sentiu desapontado com a
criação da bomba atómica após a devastação do Japão, interrogo-me como o
K1JT se sentirá após as suas criações se tornarem “apocalípticas”?
A cobertura relativa às criações de software e contributos do K1JT para as
questões técnicas do radioamadorismo concentrou-se apenas nos méritos
técnicos destas - o que é óbvio. O software WSJT-X do Joe é uma autêntica
obra-prima técnica.
Mas eu gostaria de fazer uma breve intrusão nas grandes implicações que
podem ocorrer ao radioamadorismo, no seu todo, no inicio de eventos globais
tão disruptivos como o FT8.
Peço desculpa ao Sr. Taylor, mas acho que iguais doses de insolência,
exagero e irreverência são boas ferramentas para enfatizar assuntos latentes
e lançar o debate!
Eu não penso que o FT8 suplantará outros aspectos do radioamadorismo, mas a
parte negativa das tecnologias que permitem QSOs entre máquinas, tais como o
JTxx e FTxx, poderão intersectar-se, dramaticamente, com outros assuntos que
o radioamadorismo enfrenta como um todo.
Então, vamos esgravatar na crosta da coisa (sem uma ordem particular).
De qualquer maneira, os radioamadores não estão a falar
A nossa experiência individual de radioamador – como tudo o resto – é
construído por acumulação de experiências, que frequentemente parecem já
“não ter evolução” ou serem “sempre iguais”. Mas, na realidade, nada fica
parado e tudo está em constante evolução.
O delta de mudança – a velocidade aparente de mudança – fica maior quando
experimentamos alguma dissonância ou mudança disruptiva, tal como aconteceu
em 2017 com a “explosão do JT”.
Beneficiando da rectroespetiva, posso perceber que tenho sido parte do
problema. Enquanto adolescente, nos anos 70, não tinha callbook [livro de
indicativos com moradas] ou mesmo um filtro de CW (para não falar da
internet ou do packet cluster), e enviava alegremente  o meu nome completo e
endereço, em CW lento, para o correspondente durante os QSOs. Todos fazíamos
isto porque, se não fizéssemos, não recebíamos as QSLs que nos eram
necessárias para as diferentes conquistas [diplomas e prémios] enquanto
radioamador e para as quais tanto e tão diligentemente nos esforçávamos! Sem
eQSL. Sem LoTW. Só mesmo QSL via CTT!
Agora, a conversação de radioamador ainda é conversação de radioamador se se
conseguir encontrar, coisa que, naqueles dias, mesmo nos QSO rápidos, mesmo
com correspondentes de DX, sempre havia alguma cortesia, comentários
amigáveis, utilizando ou não código Q e abreviaturas de morse.
Os QSOs em SSB eram ainda mais “apalavrados” com cortesias e cumprimentos.
Fora dos concursos não utilizávamos a matriz de QSOs tipo concurso, havendo
sempre 73, 88, HPE CU AGN, TNX QSO, GUD DX, FB SIGS, TU, GL GD DX, etc,
Mas ainda o fazemos hoje e isso é uma bênção e uma maldição. Mais contactos
podem ser feitos (talvez uma necessidade face aos QSOs tipo feitos por
máquinas, rapidíssimos e suportados por redes de spotting e por eventos ao
longo de todo o ano, tal como aquela coisa da ARRL de grid chasing e a
maratona DX patrocinada pela CQ) mas perdemos, em larga medida, a
camaradagem e o contacto humano.
Ao contrário dos meus primeiros anos, e até recentemente, eu não fiz muitos
QSOs em fonia porque estive a viver num apartamento (13 anos) e operava
apenas com antenas discretas e em QRP.
Não queria que a minha voz fosse ouvida nalgum rádio despertador, mas
sentia-me confortável com os dits do Morse e com os trinados do PSK31, dado
que estes dificilmente seriam decifrados pelo comum dos mortais.
É difícil ter conversações em SSB utilizando baixa potência e antenas de
compromisso e descobri, enquanto adulto jovem, que não tinha tido o prazer
de conversar em CW. Apenas tinha feito QSOs tipo concurso e não conversas
longas.
Não utilizo repetidores e se preciso de conversar com um colega telefono-lhe
ou aproveito os “pequenos-almoços do radioamador” [encontros de
radioamadores para conversar e petiscar] ao Sábado. No passado ainda cheguei
a conversar usando PSK31 mas, mesmo nessa altura, utilizando uma série de
ficheiros pré concebidos e que permitem pouca conversação! Mesmo que a
informação contida no ficheiro possa ser interessante, continua a ser,
essencialmente, comunicação automatizada dado que ninguém está a conversar.
Mas o PSK31 é agora escasso, uma memória florida…
Agora que não tenho restrições para as antenas e posso utilizar potência até
ao limite legal, procurarei conversações em SSB – assim que encontrar o meu
equipamento de 100 W, de que gosto tanto quanto o meu Elecraft KX-3 ou
construir um amplificador.
Mesmo quando não tenho de o fazer, estou em QRP. Em quantas desculpas
consigo pensar ? Estamos a escorregar para um futuro radioamadorismo não
conversacional e parece que eu sou parte do problema!
Os jovens querem apenas WSPR ?
Nestes tempos, quase tudo é acerca “dos jovens”. Pensemos nos jovens que são
levados para escolas dos subúrbios em SUV blindados, que não têm
oportunidade de brincar ao longo do caminho ou bater os pés numa poça de
água de um qualquer buraco da estrada! As pobres almas têm de lidar com a
“síndrome do dedo da Nintendo” e, por causa disso, muitos não serão capazes
de segurar um bocado de pau nas suas mãos arrepanhadas!
Vou sair desta caixa de comentários antes de me deixar levar na onda (na
realidade e literalmente), mas alguém está a pensar muito nos nossos jovens
e esse alguém é a ARRL. A ARRL desenvolveu uma grande iniciativa para
“pensar acerca dos jovens” e essa é, ostensivamente, acerca de tornar o
radioamadorismo mais acessível à geração dos smartphones.
Não poderemos abordar o assunto aqui, por um conjunto de razões, mas parece
interessante a forma como o “estilo de operação FT8” serve nas gerações –
novas e velhas – de radioamadores introvertidos que entraram ostensivamente
num hobby de comunicações, mas que não querem realmente comunicar!
Deixem-me explicar. Os modernos modos digitais, como o JTxx e o FTxx usam
codificação da era espacial, modulação e técnicas de descodificação e DSPs
que permitem fantásticos desenvolvimentos na relação sinal-ruído, que
permitem comunicações rádio em ligações onde a propagação não suporta
contactos em SSB ou CW. Essa é a parte boa!
A parte menos boa é que tirar vantagem dessas técnicas requer longos tempos
de integração que impactam negativamente as comunicações em tempo real.
A maioria dos QSOs em JTxx ou FTxx requerem tempos muito precisos e a
sincronia exige transmissões em ambos os sentidos que vão dos 15 segundos a
vários minutos.
É possível transmitir informação de forma limitada em ambos os sentidos, mas
não é possível conversar.
Isto é perfeito para receber informação do espaço profundo, situação que
levou à criação destas técnicas, mas não é bom para comunicações em tempo
real.
A única coisa que impede o processo de ser completamente automatizado é a
regra da FFC [equivalente à ANACOM nos EUA], muitas vezes ignorada, que
limita a operação automática na maioria das bandas de HF e o facto de o
software ter um botão para envio (“send”) que tem de ser realmente clicado
de vez em quando pelo radioamador (se essa opção tiver sido selecionada no
menu de configuração).
O software WSPR [weak signal propagation repórter] do K1JT é similar. Muitos
operadores deixam as suas estações a funcionar [transmitir] 24h/7d de forma
automática, seja isso legal ou não.
Os efeitos são minimizados, devido a muitas estações WSPR emitirem na ordem
dos miliwatts em vez de kilowatts, mas regras são regras, certo ?
Também prefiro ser atingido por uma arma de paintball do que por uma .44 –
Mas prefiro mesmo não ser atingido, de qualquer forma.
O WSPR, quando correctamente utilizado, é uma ótima ferramenta que já
melhorou o nosso conhecimento sobre propagação.
É aproximadamente uma rede pública de sondadores ionosféricos que mapeia os
modos de propagação em tempo real, providenciando detalhes que nós nem
imaginávamos.
Mas o WSPR não é um modo para QSOs porque os períodos de integração são
ainda mais longos que os do JTxx e do FTxx que permitem a troca de
informação de forma limitada.
De qualquer forma, para os radioamadores que não querem mesmo conversar com
outros radioamadores estes novos modos podem ser exactamente a receita
certa!
Posso imaginar um jovem a pedir a um dos pais para aderir ao “clube de
radioamadorismo WSPR” que funciona como actividade extracurricular.
“Mãe, mãe!” chama o excitado jovem, “lembras-te quando falamos acerca do
radioamadorismo e de como estavas preocupada com o facto de ter de falar com
estranhos? Bem, acabei de saber que se aderir ao “clube de radioamadorismo
WSPR” e se for para o ar, tal como falámos acerca do assunto, não tenho de
falar com ninguém, nunca!”
“Bem”, diz a mãe, como uma cara de preocupada, “então e as interferências na
vizinhança, a atrapalhação nos trabalhos da escola e aquelas antenas enorme
e feias que vimos ?
“Mãe, essa é a melhor parte,” diz o excitado jovem, “WSPR usa potência muito
baixa, logo não afectará ninguém. E porque usa uma tecnologia super nova,
não será preciso sequer uma antena! Os trabalhos da escola continuarão a ser
o meu foco principal – depois dos jogos online – porque o WSPR fala com o
meu sistema de jogo e dirá onde foram escutados os meus sinais e coloca esta
informação na internet!”
A mãe, que começou a sorrir, diz “Eh pá, fizeste realmente o trabalho de
casa, não fizeste? Mas e a licença de radioamador? Não vai ser difícil de
obter?”
“Nem pensar, mãe!” diz o jovem, “O meu professor disse que graças a um novo
programa de uma organização chamada ARRL posso obter a licença de WSPR
simplesmente por ir, em três tardes, a umas sessões. E até nem há teste nem
nada. Bem porreiro!”
Improvável? Não penso que seja. Se analisarmos as tendências esta situação
parece inevitável. A ARRL, que parece estar a mudar para um paradigma de
“jovens primeiro”, utilizando como abordagem o mínimo denominador comum em
tudo o que faz, está pressionar fortemente para aumentar os direitos dos
radioamadores da classe  Technician para que eles possam usar, por exemplo,
os modos digitais e, esperançosamente, queiram progredir no hobby, subindo
de classe.
Colocando o meu sarcasmo de lado
Colocando o sarcasmo de parte, uma licença WSPR sem exame pode fazer algum
sentido (especialmente nas disciplinas de ciências das escolas básicas),
desde que a operação seja restrita (também em potência) a pequeníssimas
partes de algumas bandas pouco utilizadas (e temos bastantes destas).
A expectativa de “salvar” o radioamadorismo, a qualquer custo, vale a pena ?
Deverá ser tudo apresentado e embalado de forma a ser acessível a qualquer
jovem, em qualquer parte ?
Nos meus standards, os exames para obtenção da licença são já tão fáceis que
não colocam qualquer barreira para obtenção da licença. Recentemente, fiz a
preparação de um amigo, durante um almoço que durou duas horas, após o que
ele obteve a Licença Geral [equivalente à classe B/2 em Portugal] sem estudo
adicional. Tudo isto sem nunca ter possuído ou usado um rádio ou mesmo ter
patilhado um microfone.
Leva isto à conclusão lógica que em pouco tempo pode haver apenas uma classe
de licença – mesmo antes de existir incentivo ao licenciamento!
Levei anos para perceber que, para a maioria das coisas, só apreciamos
verdadeiramente as coisas que exigem esforço, tempo ou dinheiro - ou todas
as opções em conjunto.
Os jovens de hoje continuam a investir tempo, esforço e dinheiro nas coisas
que lhes interessam. Jogos de vídeo. Programação. Desenvolvimento de
software. Hardware para hacking. Namoro. Rapazes. Raparigas. Motas. Carros.
Radioamadorismo.
Que pensam vocês?
A antena aqui é um dipolo encurtado de 1,8 m
Por causa de restrições nos prédios, etc, gerações inteiras de radioamadores
cresceram sem saber o que é operar com antenas “reais”.
Já não conto as vezes em que novos radioamadores me perguntaram se antenas
pequenas, caras e feitas para ser utilizadas para serem transportadas às
costas para cumes montanhosos, são boas para utilizar em casa. C’um diabo,
não são nada boas. São péssimas!

Como enfatizado mais tarde neste artigo, as nossas antenas definem a nossa
experiência de radioamadores. Antenas da treta equivalem a experiências más.
Enquanto os radioamadores da minha geração sonhavam com torres muito altas,
encimadas com yagis enfasadas (ainda tenho dipolos reais no exterior e
loops), muitos radioamadores novos sonham com dipolos a baixa altura,
escondidos nas árvores dos seus pequenos jardins ou antenas exteriores de
qualquer tipo.
Enquanto sonham estão a vasculhar no que são, essencialmente, não-antenas
[uma carga fictícia tem uma SWR de 1:1…], muito caras, e adivinhando porque
é que o radioamadorismo não é assim tão catita.
Esses novos radioamadores ficam, muitas vezes, surpreendidos quando lhes
digo que se pudesse ter um conjunto antenas em stack, no topo de uma torre
realmente alta, trocava alegremente o meu novo equipamento – qualquer novo
equipamento – pelos Kenwoods, Heathkits ou Yaesus dos anos 70, que eles vêm
como anacrónicos e sem utilidade. Sem mais delongas.
Pode-se utilizar um rádio de compromisso mas não se pode ter antenas de
compromisso. Ou pode ?
Atualmente, ao podermos fazer comunicações digitais com correção de erro
podemos também mitigar o cenário de antenas deficientes através destas novas
tecnologias. Tecnologias como o JTxx e FTxx permitem ganhos de 20 a 30 dB
sobre o SSB ou o CW – E isso é imenso!
Mesmo nas comunicações digitais teclado a teclado, tais como o PSKxx e o
MSKxx, que permitem conversar com ganhos de 10 a 20 dB sobre SSB e CW, ainda
se está no domínio do clube WSPR.
Apenas necessitamos de pequenas bandas
A ARRL e outros grupos estão sempre a dar o coiro e o cabelo para a
preservação do espectro atribuído, mas se tudo migrar para a operação do
género JTxx e FTxx, as faixas de frequência do serviço de amador poderão vir
a ser pequenas amostras do que são agora.
Um grande número de QSOs digitais cabem na largura de banda de um único QSO
em SSB, regularmente não é possível escutar auditivamente os sinais, pelo
que terá de se procurar os sinais à volta da frequência de chamada e, então,
para que servem todas aquelas frequências vazias?
Não há necessidade de chamar CQ nas grandes faixas de frequência
Mesmo que as faixas de frequência do serviço de amador se mantenham
“grandes”, não precisaremos de andar à volta das frequências de chamada se
os nossos PCs coordenarem entre si os nossos QSOs, na internet,
imediatamente antes de colocarem os rádios na frequência combinada, de
maneira a que os PCs possam trabalhar-se entre si e registar o contacto de
forma a sabermos o que foi feito.
Procedendo desta maneira poderemos facilmente limitar os nossos QSOs de
entre uma lista de amigos, membro de um certo clube ou associação de
radioamadores (clube de tiro/armas, desporto preferido ou preferência
política) ou a amigos que nos enviaram “massa” (Bitcoins?) para obter os
nossos raros e virtuais “QSL cards”.
Desta maneira, as expedições DX podem tornar-se lucrativas e enquanto os
nossos rádios-robot estão a faturar QSOs, poderemos estar a pescar, a nadar
ou a fazer surf!
De entre as redes globais de spotting, entre as quais se contam o reverse
beacon network, o WSPR net, o IFTTT, o PSK reporter, etc, podemos fazer a
maior parte das coisas já mencionadas com a tecnologia já existente o que,
apesar de estar a ser um pouco especulativo (e um pouco mais do que apenas
sarcástico), faz com que trazer o radioamadorismo para a “era digital” não
seja tão fácil como parecia em tempos passados.
Em direcção a um futuro incerto
O futuro – para onde o radioamadorismo vai e o que será – é resultado do que
existe agora e do que aconteceu antes.
Os radioamadores de hoje existem na esteira contínua do que começou (muito
lentamente) há algumas centenas de anos com experiências básicas de
electricidade e magnetismo, mas está a acelerar a um ritmo exponencial.
A rápida evolução da tecnologia não é, obviamente, um exclusivo da rádio,
mas continua a ser admirável olhar para trás e ver a evolução. É fácil
“perder a mágica” porque estamos rodeados por ela em cada minuto de cada
dia.
Mesmo que não demos conta disso, o comboio da tecnologia desliza pelos
carris a uma velocidade cada vez maior.
O radioamadorismo está, também, a mover-se em frente e, nalguns casos, está
a aproximar-se do ponto de não retorno – Um horizonte onde não há volta a
dar.
Não sendo como a arte equestre, por exemplo, em que cavalgar um cavalo numa
sela inglesa é substancialmente a mesma coisa hoje ou há 100 ou 500 anos, o
radioamadorismo mudou.
Os transmissores de faísca foram devidamente banidos por lei, são realmente
conhecidos apenas por um restrito número de aficionados e o AM por modulação
de placa também não é escutado frequentemente.
Nestes dias os receptores regenerativos são de construção caseira,
magnificamente construídos por uns quantos entusiastas que continuam a
guardar este legado. A elegante mecânica que tornou os antigos rádios tão
especiais – e frustrantes – com condensadores de ar, com engrenagens e
alavancas sincronizadas e dials robustos foram substituídos por software e
matrizes programáveis.
Para o melhor e para o pior, o radioamadorismo está firmemente embebido no
domínio do digital e se pensa que os sistemas emergentes não suplantarão o
que nós sentimos agora como radioamadorismo, a evolução certamente provará
que você estava errado!
Os primeiros cem anos de radioamadorismo testemunharam uma mudança drástica,
e daqui a cem anos não seríamos capazes de reconhecer no que o
radioamadorismo se tornou – se este ainda existir.
Em termos de “idade geológica” o radioamadorismo parece ter vindo e ido de
forma finita, dentro de uma pequena janela temporal da evolução.
Com o que sabemos da progressão de outras tecnologias, espécies, etc, e de
toda as provas recolhidas até à data, existe uma boa probabilidade de que o
fenómeno a que chamamos radioamadorismo tenha nascido, amadurecido, evoluído
e “falecido” num espaço de 150-250 anos. Ponto final parágrafo!
E se isto não for suficientemente inquietante, não nos esqueçamos dos
caprichos do sol e da física dos planetas que permite a existência de rádio
no seu mais elementar nível. Electricidade e magnetismo – ainda bastante
obscuras embora os tomemos como certo do ponto de vista prático – permite a
rádio a nível local mas a “rádio global” necessita da ionosfera, que é
dependente do sol, e cujos os outputs variam em ciclos mais ou menos
misteriosos, etc. E a lista de dependências e “coincidências” ainda está a
começar! E se tirarmos apenas uma parte do conjunto interdependente – puf! –
não há mais rádio.
Assim, se gosta do radioamadorismo como ele é praticado hoje, é melhor ficar
bastante ocupado praticando-o gostosamente – hoje! – porque o nosso inteiro
hobby existe numa preciosa e precária bolha de evolução que provavelmente
nunca mais será experienciada novamente.
Seja um ponto de inflexão ou de não retorno, quando acordou hoje (ou
qualquer dia nos últimos anos), o radioamadorismo estava diferente. Não há
que adivinhar se um dia será diferente – O dia é hoje e o radioamadorismo
está diferente. O Joe Taylor “causou” no presente, uma perturbação local,
mas se ele não o fizesse, outro alguém o faria.
Contudo, no momento presente, mesmo se cruzámos o antes mencionado
horizonte, o radioamadorismo está ainda vivo e de boa saúde, e o nosso
desvanecimento no futuro -  embora mais perto do que nunca, como evidenciado
pela tecnologia digital JTxx e FTxx – ainda está para ser determinado.
A amplitude da ciência radioeléctrica no passado e no presente ainda está
disponível para ser explorada (excetuando emissores de faísca!). Podemos
construir um receptor regenerativo clássico ou comprar um rádio sintetizado
de última geração. Podemos usar o código Morse ou a modulação digital mais
avançada. Ou podemos usar uma regeneração primitiva para copiar os sinais
digitais mais avançados (talvez estabilizando o oscilador detector com um
GPS?).
Mas isto não vai ficar assim – Isso é garantido!
Grupo Portugues de CW | Junho 19, 2018 às 10:05 pm | Etiquetas: Comunicações
digitais, CW, Espectro, FT8, Modos digitais, Radio, Radioamador,
Radioamadorismo, TSF | Categorias: CW, DanadospóCW, Espectro, Leitura
obrigatória, Modos, Radioamadorismo, Uncategorized | URL:
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