ARLA/CLUSTER: NOVAS EVIDÊNCIAS EM SUPORTE DA HIPÓTESE DO PLANETA NOVE NO SISTEMA SOLAR

João Costa > CT1FBF ct1fbf gmail.com
Terça-Feira, 18 de Julho de 2017 - 10:24:57 WEST


No ano passado foi anunciada a existência de um planeta desconhecido no
nosso Sistema Solar. No entanto, esta hipótese foi posteriormente posta em
causa devido à deteção de vieses nos dados observacionais. Agora,
astrónomos espanhóis usaram uma técnica inovadora para analisar as órbitas
dos chamados objetos transneptunianos extremos e, mais uma vez, salientam
que há algo a perturbá-los: um planeta localizado a 300-400 vezes a
distância Terra-Sol.

Os cientistas continuam a debater sobre a existência de um nono planeta no
nosso Sistema Solar. No início de 2016, investigadores do Caltech (EUA)
anunciaram que tinham evidências da existência desse objeto, localizado a
uma distância média de 700 UA ou unidades astronómicas (700 vezes a
distância entre a Terra e o Sol) e com uma massa dez vezes a da Terra. Os
seus cálculos foram motivados pela distribuição peculiar das órbitas
descobertas para objetos transneptunianos (em inglês "trans-Neptunian
objects" ou TNOs) da Cintura de Kuiper, que aparentemente revelavam a
presença de um Planeta Nove nos confins do Sistema Solar.

No entanto, cientistas do projeto canadiano-francês-havaiano OSSOS
detetaram vieses nas suas próprias observações das órbitas destes TNOs, que
foram sistematicamente direcionadas para as mesmas regiões do céu, e
consideraram que outros grupos, incluindo o grupo de Caltech, podiam estar
com os mesmos problemas. De acordo com estes cientistas, não é necessário
propor a existência de um perturbador gigante (um Planeta Nove) para
explicar estas observações, pois são compatíveis com uma distribuição
aleatória de órbitas.
<http://media.biobiochile.cl/wp-content/uploads/2015/12/nasajpl.jpg>
Esta impressão de artista mostra o distante Planeta Nove.
Crédito: NASA
(clique na imagem para ver versão maior)


No entanto, agora dois astrónomos da Universidade Complutense de Madrid
aplicaram uma nova técnica, menos exposta a viés observacional, para
estudar um tipo especial de objetos transneptunianos: os mais extremos
("extreme trans-Neptunian objects" ou ETNOs), localizados a distâncias
médias superiores a 150 UA e que nunca cruzam a órbita de Neptuno. Pela
primeira vez foram analisadas as distâncias dos seus nodos ao Sol e os
resultados, publicados na revista Monthly Notices of the Royal Astronomical
Society: Letters, indicam mais uma vez que existe um planeta para lá de
Plutão.

Os nodos são os dois pontos em que a órbita de um ETNO, ou qualquer outro
corpo celeste, cruza o plano do Sistema Solar (eclíptica). Estes são
precisamente os pontos onde a probabilidade de interagir com outros objetos
é maior e, portanto, nesses pontos, os ETNOs podem sofrer uma mudança
drástica nas suas órbitas ou mesmo uma colisão.

*Como os cometas que interagem com Júpiter*

"Se não há nada para os perturbar, os nodos destes objetos transneptunianos
extremos devem estar uniformemente distribuídos, pois não há para evitar,
mas se existirem um ou dois perturbadores, duas situações podem surgir,"
explica Carlos de la Fuente Marcos, um dos autores. "Uma possibilidade é
que os ETNOs são estáveis e, neste caso, tendem a ter os seus nodos longe
do caminho de possíveis perturbadores, acrescenta, mas se são instáveis,
eles comportar-se-ão como os cometas que interagem com Júpiter, isto é,
tendem a ter um dos nodos perto da órbita do perturbador hipotético."

Usando cálculos e prospeção de dados, os astrónomos espanhóis descobriram
que os nodos dos 28 ETNOs analisados (e os 24 Centauros extremos com
distâncias médias ao Sol superiores a 150 UA) estão agrupados em certas
gamas de distâncias ao Sol; além disso, encontraram uma correlação, onde
não deveria existir nenhuma, entre as posições dos nodos e a inclinação, um
dos parâmetros que define a orientação das órbitas destes objetos gelados
no espaço.

"Assumindo que os ETNOs são dinamicamente semelhantes aos cometas que
interagem com Júpiter, interpretamos estes resultados como sinais da
presença de um planeta que interage ativamente com eles numa gama de
distâncias entre 300 e 400 UA," afirma De la Fuente Marcos, que enfatiza:
"Nós achamos que o que estamos aqui a ver não pode ser atribuído à presença
de um viés observacional."

Até agora, os estudos que desafiaram a existência do Planeta Nove, usando
os dados disponíveis para estes objetos transneptunianos, argumentaram a
existência de erros sistemáticos ligados às orientações das órbitas
(definidas por três ângulos), devido à forma como as observações tinham
sido feitas. No entanto, as distâncias nodais dependem principalmente do
tamanho e forma da órbita, parâmetros relativamente livres de viés
observacional.

"É a primeira vez que os nodos foram utilizados para tentar entender a
dinâmica dos ETNOs," realça o coautor, já que admite que a descoberta de
mais ETNOs (de momento só se conhecem 28) permitiria a confirmação do
cenário proposto e, subsequentemente, restringiria a órbita do planeta
desconhecido através da análise da distribuição dos nodos.

Os autores realçam que o seu estudo suporta a existência de um objeto
planetário dentro da gama de parâmetros considerados tanto para a hipótese
do Planeta Nove de Mike Brown e Konstantin Batygin do Caltech, como na
original proposta em 2014 por Scott Sheppard do Instituto Carnegie e
Chadwick Trujillo da Universidade do Norte do Arizona; além de seguir as
linhas dos seus próprios estudos anteriores (o mais recente liderado pelo
Instituto de Astrofísica das Canárias), que sugeriram a existência de mais
do que um planeta desconhecido no nosso Sistema Solar.

*Existe também um Planeta Dez?*

De la Fuente Marcos explica que o hipotético Planeta Nove sugerido neste
estudo nada tem a ver com outro possível planeta ou planetoide situado
muito mais perto de nós e insinuado por outros achados recentes. Aplicando
também prospeção de dados às órbitas dos TNOs da Cintura de Kuiper, os
astrónomos Kathryn Volk e Renu Malhotra da Universidade do Arizona (EUA)
descobriram que o plano no qual estes objetos orbitam o Sol está
ligeiramente deformado, facto que poderá ser explicado caso exista um
perturbador do tamanho de Marte a 60 UA do Sol.

"Dada a definição atual de planeta, este outro misterioso objeto pode não
ser um planeta verdadeiro, mesmo que tenha um tamanho semelhante ao da
Terra, pois pode estar rodeado por asteroides enormes ou planetas anões,"
explica o astrónomo espanhol, que continua dizendo: "De qualquer forma,
estamos convencidos de que o trabalho de Volk e Malhotra encontrou
evidências sólidas da presença de um corpo enorme para lá do chamado
Penhasco de Kuiper, o ponto mais distante da cintura transneptuniana, a
cerca de 50 UA do Sol, e esperamos poder apresentar em breve um novo
trabalho que também apoia a sua existência."

*Links:*

*Núcleo de Astronomia do CCVAlg:*
04/04/2017 - Estão a ser investigados quatro objetos desconhecidos na
pesquisa pelo Planeta Nove
<http://www.ccvalg.pt/astronomia/noticias/2017/04/4_planeta_nove.htm>
24/02/2017 - Novos dados sobre dois asteroides distantes dão pistas sobre
possível "Planeta Nove"
<http://www.ccvalg.pt/astronomia/noticias/2017/02/24_planeta_nove_2004_vn112_2013_rf98.htm>
21/10/2016 - Inclinação curiosa do Sol atribuída ao Planeta Nove
<http://www.ccvalg.pt/astronomia/noticias/2016/10/21_planeta_nove.htm>
30/08/2016 - Caça ao Planeta Nove revela novos objetos extremamente
distantes no Sistema Solar
<http://www.ccvalg.pt/astronomia/noticias/2016/08/30_planeta_nove.htm>
06/05/2016 - Planeta Nove: um mundo que não devia existir
<http://www.ccvalg.pt/astronomia/noticias/2016/05/6_planeta_nove.htm>
12/04/2016 - Planeta 9 toma forma; Cassini não é afetada
<http://www.ccvalg.pt/astronomia/noticias/2016/04/12_planeta_nove.htm>
26/02/2016 - Procurando o Planeta Nove
<http://www.ccvalg.pt/astronomia/noticias/2016/02/26_planeta_nove.htm>
22/01/2016 - Cientistas encontram evidências teóricas de um nono planeta
<http://www.ccvalg.pt/astronomia/noticias/2016/01/22_planeta_nove.htm>

*Notícias relacionadas:*
SiNC (fonte)
<http://www.agenciasinc.es/en/News/New-evidence-in-support-of-the-Planet-Nine-hypothesis>

Artigo científico (arXiv.org) <https://arxiv.org/abs/1706.06981>
Monthly Notices of the Royal Astronomical Society: Letters
<https://doi.org/10.1093/mnrasl/slx106>
SPACE.com
<https://www.space.com/37477-planet-nine-existence-new-evidence.html>
PHYSORG <https://phys.org/news/2017-07-evidence-planet-hypothesis.html>
UPI
<https://www.upi.com/Science_News/2017/07/13/Astronomers-offer-new-evidence-of-hidden-ninth-planet/4541499961386/>

*Planeta Nove:*
Wikipedia <https://en.wikipedia.org/wiki/Planet_Nine>
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URL: http://radio-amador.net/pipermail/cluster/attachments/20170718/e7c11551/attachment.html


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