ARLA/CLUSTER: O VLT vai procurar planetas no sistema Alfa Centauri
João Costa > CT1FBF
ct1fbf gmail.com
Segunda-Feira, 9 de Janeiro de 2017 - 18:07:40 WET
ESO assina acordo com Breakthrough Initiatives
9 de Janeiro de 2017
O ESO assinou um acordo com a Breakthrough Initiatives para adaptar a
instrumentação do Very Large Telescope, instalado no Chile, no intuito
de levar a cabo uma busca de planetas no sistema estelar vizinho Alfa
Centauri. Tais planetas poderão vir a ser alvos para eventuais
lançamentos de sondas espaciais miniaturas pela Breakthrough Starshot
initiative.
O ESO, representado pelo Diretor Geral Tim de Zeeuw, assinou um acordo
com a Breakthrough Initiatives, representada por Pete Worden,
Presidente da Breakthrough Prize Foundation e Diretor Executivo da
Breakthrough Initiatives. O acordo atribui fundos para que o
instrumento VISIR (VLT Imager and Spectrometer for mid-Infrared),
montado no Very Large Telescope do ESO (VLT), possa ser modificado de
modo a aumentar significativamente a sua capacidade de procurar
potenciais planetas habitáveis em torno de Alfa Centauri, o sistema
estelar mais próximo da Terra. O acordo atribui também tempo de
telescópio suficiente para permitir a execução de um programa de busca
cuidada em 2019.
A descoberta em 2016 de um planeta, Proxima b, em torno de Proxima
Centauri, a terceira e mais ténue estrela do sistema Alfa Centauri, dá
ainda mais incentivo a esta busca.
Saber onde se encontram os exoplanetas mais próximos de nós é de
extremo interesse para o Breakthrough Starshot, o programa de
investigação e engenharia lançado em abril de 2016, que pretende
demonstrar o conceito de “nano-sondas” ultra rápidas movidas a luz,
que abrirão caminho para a primeira missão a Alfa Centauri, a qual
poderá ocorrer dentro de uma geração.
Detectar um planeta habitável é um enorme desafio devido ao brilho da
estrela hospedeira do sistema planetário, que tem tendência a ofuscar
os planetas relativamente ténues. Uma maneira de tornar esta tarefa
mais fácil é observar nos comprimentos de onda do infravermelho médio,
onde o brilho térmico de um planeta em órbita reduz enormemente a
diferença de brilhos entre o planeta e a sua estrela hospedeira. Mas,
mesmo a estes comprimentos de onda, a estrela permanece milhões de
vezes mais brilhante do que os planetas que pretendemos detectar,
sendo preciso recorrer a uma técnica especial para reduzir a ofuscante
luz estelar.
O instrumento VISIR, que opera no infravermelho médio e está montado
no VLT, terá a capacidade de fornecer um tal desempenho uma vez
modificado para aumentar de modo significativo a qualidade de imagem
através do uso de óptica adaptativa, e adaptado para utilizar uma
técnica chamada coronografia, a qual permite reduzir a radiação
estelar, revelando assim o possível sinal de potenciais planetas
terrestres. A Breakthrough Initiatives financiará uma grande parte das
tecnologias e os custos de desenvolvimento da experiência, enquanto o
ESO fornecerá as capacidades e tempo de observação necessários.
O novo hardware inclui um módulo pedido à Kampf Telescope Optics
(KTO), Munique, onde será colocado o sensor da frente de onda e um
instrumento inovador de calibração de detectores. Adicionalmente,
existem planos para o desenvolvimento de um novo coronógrafo,
desenvolvimento esse que será executado em conjunto pela Universidade
de Liège (Bélgica) e pela Universidade Uppsala (Suécia).
Detectar e estudar potenciais planetas habitáveis em órbita de outras
estrelas será um dos principais objetivos científicos do futuro
European Extremely Large Telescope (E-ELT). Apesar do enorme tamanho
do E-ELT ser essencial para a obtenção de imagens de planetas situados
a maiores distâncias na Via Láctea, o poder colector do VLT é
suficiente para obter imagens de um planeta situado em torno da
estrela mais próxima, a Alfa Centauri.
Os desenvolvimentos aplicados ao VISIR serão também benéficos para o
futuro instrumento METIS, que será montado no E-ELT, uma vez que as
lições aprendidas e os conceitos utilizados serão diretamente
transferidos para este instrumento. O enorme tamanho do E-ELT deverá
permitir ao METIS detectar e estudar exoplanetas do tamanho de Marte
situados em órbita de Alfa Centauri, se estes existirem, assim como
outros potenciais planetas habitáveis que existam em torno de outras
estrelas próximas.
Informações adicionais
A Breakthrough Initiatives é um programa de exploração científica e
tecnológica fundado em 2015 pelo investidor na Internet e filantropo
de ciência Yuri Milner, com o intuito de explorar o Universo, procurar
evidências científicas de vida fora da Terra e encorajar o debate
público numa perspectiva planetária.
O Breakthrough Starshot é um programa de investigação e engenharia de
100 milhões de dólares, que pretende demonstrar o conceito de novas
tecnologias, levando a cabo voo espacial ultra-leve não tripulado,
executado a 20% da velocidade da luz, abrindo assim caminho para uma
missão a Alfa Centauri que poderá ocorrer dentro de uma geração.
O ESO é a mais importante organização europeia intergovernamental para
a investigação em astronomia e é de longe o observatório astronómico
mais produtivo do mundo. O ESO é financiado por 16 países: Alemanha,
Áustria, Bélgica, Brasil, Dinamarca, Espanha, Finlândia, França,
Holanda, Itália, Polónia, Portugal, Reino Unido, República Checa,
Suécia e Suíça, assim como pelo Chile, o país de acolhimento. O ESO
destaca-se por levar a cabo um programa de trabalhos ambicioso, focado
na concepção, construção e operação de observatórios astronómicos
terrestres de ponta, que possibilitam aos astrónomos importantes
descobertas científicas. O ESO também tem um papel importante na
promoção e organização de cooperação na investigação astronómica. O
ESO mantém em funcionamento três observatórios de ponta no Chile: La
Silla, Paranal e Chajnantor. No Paranal, o ESO opera o Very Large
Telescope, o observatório astronómico óptico mais avançado do mundo e
dois telescópios de rastreio. O VISTA, o maior telescópio de rastreio
do mundo que trabalha no infravermelho e o VLT Survey Telescope, o
maior telescópio concebido exclusivamente para mapear os céus no
visível. O ESO é um parceiro principal no ALMA, o maior projeto
astronómico que existe atualmente. E no Cerro Armazones, próximo do
Paranal, o ESO está a construir o European Extremely Large Telescope
(E-ELT) de 39 metros, que será “o maior olho do mundo virado para o
céu”.
Links
Breakthrough Initiatives
Fotografias do VLT
Contactos
Margarida Serote
Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço Portugal
Mais informações acerca da lista CLUSTER