ARLA/CLUSTER: Off Topico: O Trauma da Morada por Miguel Esteves Cardoso

João Costa > CT1FBF ct1fbf gmail.com
Quarta-Feira, 14 de Setembro de 2016 - 13:18:59 WEST


A pedido de diversos colegas que receberam esta mensagem em privado, de um
texto do famoso MEC - Miguel Esteves Cardoso já com alguns anos, mas
pediram encarecidamente que se publicasse em "Off Topico" na Lista. Quantos
nomes parecidos com estes haverá no SOTA ou BOTA...etc.?

Com o meu pedido de desculpas, se ferir a suscetibilidade de alguem, os sei
que isto não é radioamadorismo, mas o aprofundar do nosso conhecimento
geografico fará certamente parte do passatempo, hihihihi.

João Costa (CT1FBF)
Morador na Cova da Piedade



*O trauma da morada*
> *Por Miguel Esteves Cardoso*
>
>
>
> "Um dos grandes problemas da nossa sociedade é o trauma da morada. Por
> exemplo, há uns anos, um grande amigo meu, que morava em Sete Rios, comprou
> um andar em Carnaxide.
>
> Fica pertíssimo de Lisboa, é agradável, tem árvores e cafés. Só tinha um
> problema. Era em Carnaxide. Nunca mais ninguém o viu.
>
> Para quem vive em Lisboa, tinha emigrado para a Mauritânia!
>
>
> Acontece o mesmo com todos os sítios acabados em -ide, como *Carnide *e
> *Moscavide*. Rimam com Tide e com Pide e as pessoas não lhes ligam pevide.
>
>
> Um palácio com sessenta quartos em Carnide é sempre mais traumático do que
> umas águas-furtadas em Cascais. É a injustiça do endereço.
>
>
> Está-se numa festa e as pessoas perguntam, por boa educação ou por
> curiosidade, onde é que vivemos. O tamanho e a arquitectura da casa não
> interessam. Mas morre imediatamente quem disser que mora em *Massamá*,
> *Brandoa*, *Cumeada*, *Agualva-Cacém*, *Abuxarda*,* Alformelos*, *Murtosa*,
> *Angeja*… ou em qualquer outro sítio que soe à toponímia de Angola.
>
>
> Para não falar na *Cova da Piedade*, na *Coina*, no *Fogueteiro* e na *Cruz
> de Pau*. (...)
>
>
> Ao ler os nomes de alguns sítios – *Penedo,* *Magoito*, *Porrais*, *Venda
> das* *Raparigas*, compreende-se porque é que Portugal não está preparado
> para estar na Europa.
>
>
> De facto, com sítios chamados *Finca Joelhos* (concelho de Avis) e *Deixa
> o Resto* (Santiago do Cacém), como é que a Europa nos vai considerar?
>
> Compreende-se logo que o trauma de viver na *Damaia* ou na *Reboleira*
> não é nada comparado com certos nomes portugueses.
>
>
> Imagine-se o impacte de dizer "Eu sou da *Margalha*" (Gavião) no meio de
> um jantar.
>
>
> Veja-se a cena num chá dançante em que um rapaz pergunta delicadamente "E
> a menina de onde é?", e a menina diz: "*Eu sou da Fonte da Rata*"
> (Espinho).
>
>
> Já para não falar em *“Pichaâ€*, no concelho de Pedrógão Grande e de
> “Rataâ€, em Arruda dos Vinhos, Beja, Castelo de Paiva, Espinho, Maia,
> Melgaço, Montemor-o-Novo, Santarém, Santiago do Cacém e Tondela.
>
>
> Temos, assim, em Portugal, uma *“Picha†*para 11 *“Ratasâ€**. *O que vale
> é que mesmo ao lado da *“Pichaâ€*, temos a *“Venda da Gaitaâ€*...
>
> E ainda existe *“Colhõesâ€*, perto de Coimbra,EE ainda temos “Colhõesâ€,
> perto de Coimbra
>
> E suponhamos que, para aliviar, o senhor prossiga, perguntando "E onde
> mora, presentemente?", Só para ouvir dizer que a senhora habita na *Herdade
> da Chouriça* (Estremoz).
>
>
> É terrível. O que não será o choque psicológico da criança que acorda,
> logo depois do parto, para verificar que acaba de nascer na localidade de *Vergão
> Fundeiro*?Vergão Fundeiro, que fica no concelho de Proença-a-Nova, parece
> o nome de uma versão transmontana do “Garganta Fundaâ€.
>
>
> Aliás, que se pode dizer de um país que conta não com uma *Vergadela* (em
> Braga), mas com duas, contando com a *Vergadela* de Santo Tirso? Será ou
> não exagerado relatar a existência, no concelho de Arouca, de uma
> *Vergadelas*?
>
> É evidente, na nossa cultura, que existe o trauma da "terra".
>
>
> Ninguém é do Porto ou de Lisboa.
>
>
> Toda a gente é de outra terra qualquer. Geralmente, como veremos, a nossa
> terra tem um nome profundamente embaraçante, daqueles que fazem apetecer
> mentir.
>
> Qualquer bilhete de identidade fica comprometido pela indicação de
> naturalidade que reze *Fonte do Bebe e Vai-te* (Oliveira do Bairro).
>
> É absolutamente impossível explicar este acidente da natureza a amigos
> estrangeiros ("I am from the Fountain of Drink and Go Away...").
>


>
> Apresente-se no aeroporto com o cartão de desembarque a denunciá-lo como
> sendo originário de *Filha Boa*. Verá que não é bem atendido. Não há
> limites. Há até um lugar chamado *Cabrão*, no concelho de Ponte de Lima
> !!!
>
>
> Urge proceder à renomeação de todos estes apeadeiros.
>
>
> Há que dar-lhes nomes civilizados e europeus, ou então parecidos com os
> nomes dos restaurantes giraços, tipo : Não Sei, A Mousse é Caseira, Vai
> Mais um Rissol. (...)
>
>
> Também deve ser difícil arranjar outro país onde se possa fazer um
> Percurso que vá da *Fome Aguda* à *Carne Assada* (Sintra) passando pelo *Corte
> Pão e Ãgua* (Mértola), sem passar por *Poriço* (Vila Verde), e acabando a
> comprar rebuçados em *Bombom do Bogadouro* (Amarante), depois de ter
> parado para fazer um chichi em *Alçaperna *(Lousã).
>
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