ARLA/CLUSTER: Ora vamos às contas ao Forte sinal de rádio "alienígena" registado pelo RATAN-600 da Russia

João Costa > CT1FBF ct1fbf gmail.com
Sexta-Feira, 2 de Setembro de 2016 - 10:58:19 WEST


Forte sinal de rádio registado pelo RATAN-600 incendeia especulação sobre
existência de civilizações ET

Por Ruben Barbosa <http://www.astropt.org/author/ruben/>
[image: Um forte sinal de radio proveniente da direção da estrela HD
164595. Crédito: Bursov et al.]

Um forte sinal de radio proveniente da direção da estrela HD 164595.
Crédito: Bursov et al.

Uma equipa internacional de investigadores anunciou a *deteção de um forte
sinal de rádio* proveniente da direção da estrela HD164559. Esta estrela
tem cerca de mil milhões de anos mais do que o Sol, metalicidade, tamanho e
luminosidade semelhantes e localiza-se à distância de 95 anos-luz na
direção da constelação de Hércules. O sistema solar é formado por um
exoplaneta com 0,05 massa de Júpiter e um período de 40 dias, ou seja: um
Neptuno quente (sem condições para a vida tal como a conhecemos), podendo
também existir planetas rochosos ainda não descobertos devido à maior
dificuldade de deteção pela instrumentação atual.

A deteção do sinal foi efetuada pelo radiotelescópio RATAN-600, localizado
na Rússia, construído com desenho invulgar de um anel no chão com diâmetro
de 577 metros, que faz com que o seu *raio sensitivo seja bastante elíptico*.
Ora, este facto faz-nos pensar *se efetivamente o sinal teve origem na
direção anunciada*. Acresce outro pormenor: um sinal proveniente de um
planeta em rotação é registado com variação da frequência devido ao efeito
Doppler. A rotação da Terra é fácil de anular, ficando apenas a variação de
sinal resultante da rotação do planeta onde o sinal foi emitido. Porém,
dado que *o sinal teve uma duração de apenas 2â€* (e é de banda larga), *não
é possível concluir acerca da rotação do planeta*, podendo até ter sido
emitido por uma nave espacial a uma distância muito mais próxima de nós.

O sinal foi recebido a 14 de maio de *2015*, à frequência de *11 GHz* (*2,7
cm de comprimento de onda*) e com intensidade de 0,75 Jy (Jansky). Esta
equipa demorou mais de 1 ano a divulgar a sua descoberta, o que contraria o
Protocolo SETI: que determina que seja solicitada confirmação do sinal por
parte de outro observatório.

A observação foi efetuada com uma largura de banda de 1 GHz (que provoca
diluição da intensidade do sinal recebido); para efeitos de comparação, o
SETI utiliza largura de banda na ordem das dezenas de Hz.

Se o sinal fosse emitido em todas as direções do espaço, a quantidade de
energia necessária (10^20 wats) seria absolutamente inalcançável para uma
civilização como a nossa, daí falar-se em civilização Kardashev do tipo II.
Porém, se fosse emitido apenas na nossa direção, a quantidade de energia
necessária seria enorme mas poderia ser proveniente de uma civilização
Kardashev do tipo I.

*E é precisamente aqui que deve ser feita a análise do sinal.* Vamos a
contas?

Assumindo que não haverá perdas de sinal relacionadas com pó e poeira
existentes no meio interestelar, a perda de percurso entre 2 antenas
isotrópicas é:

[image: ratan2]

Estes 412 dB correspondem à potência mínima necessária para fazer uma
transmissão à distância de 95 anos-luz, na frequência de 11 GHz.

Para recebermos um sinal, podemos ter um recetor sensível até 120 dB e uma
grande antena, como por exemplo a do Green Bank Telescope, com um ganho de
78 dB (considerando uma eficiência de 50%), ou seja: subtraímos 198 dB aos
412 dB.

Restam-nos agora 214, dB para acomodar nas contas do emissor. Uma emissão
de 1 milhão de watts corresponde a 90 dB, pelo que os restantes 124 dB
seriam o ganho da antena emissora.

*E eis que o problema assume proporções “de outro mundoâ€: a antena emissora
com ganho de 124 dB teria de possuir um diâmetro de 19.477 metros:*

[image: ratan3]

Mas o problema continua… a resolução deste radiotelescópio (*HPBW*) seria
de:

[image: ratan4]

Em termos teóricos, este valor fantástico, poderia ser obtido recorrendo a
interferometria com a antena em órbita do planeta; porém, devido à rotação
do planeta, o comprimento dos raios iria variar com o tempo. *E como seria
possível direcionar este raio para a Terra prevendo exatamente a nossa
posição dentro de 95 anos?*



A deteção de um sinal só é aceite como proveniente de uma civilização
extraterrestre se cumprir 2 critérios:

   1. *Não ser de origem natural*, isto é: nenhum processo natural pode
   estar na sua criação e
   2. *Poder ser verificável*, de modo a ser registado várias vezes em
   locais diferentes e ambos concordarem quanto ao seu local de origem.

Ora, tanto quanto se sabe, o sinal apenas foi detetado uma vez. E como o 2º
requisito não se verificou ainda, o sinal é classificado de interessante.
Aliás, os seus descobridores afirmam que *não deve ser proveniente de
nenhuma civilização extraterrestre*. Assim sendo, a sua origem poderá estar
relacionada com satélites militares, interferências de rádio ou microlentes
gravitacionais.

Concluindo, *não se pode afirmar que estamos perante um sinal emitido por
uma civilização extraterrestre.* O facto do comprimento de onda do sinal
ser 2,7 cm, fazendo recordar o número de Neper (ou Euler), a base dos
logaritmos naturais, é, quanto a mim, mera coincidência. Contudo, sem
confirmação, *apenas podemos afirmar que o sinal é interessante* e irá,
seguramente, ser alvo de elevada monitorização.


Partilhe o conhecimento!

*Ruben Barbosa*

• Ruben Barbosa é licenciado em Engenharia de Sistemas e Informática na
Universidade do Minho e mestre em Desenvolvimento curricular pela
Astronomia na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto
• É astrónomo amador desde 2000 e gosta de divulgar astronomia,

• As áreas de Astronomia com maior interesse são a Exoplanetologia, a
Radioastronomia e a Cosmologia.
• Exoplanetologia:
https://repositorio-aberto.up.pt/bitstream/10216/78508/2/113165.pdf
• Radioastronomia: http://www.radioastrolab.com/pdf/ART_ENG.pdf. É o autor
do Projeto ART, no âmbito da Radioastronomia Amadora, que que como objetivo
a construção de um rádio-telescópio semi-profissional.
• Encontra-se associado ao Observatório Astronómico do Parque Biológico de
Gaia (OAPBG).

* Página Facebook: https://www.facebook.com/ruben.barbosa.5895834
-------------- próxima parte ----------
Um anexo em HTML foi limpo...
URL: http://radio-amador.net/pipermail/cluster/attachments/20160902/c4b9c153/attachment.html


Mais informações acerca da lista CLUSTER