ARLA/CLUSTER: Off Topic: Que p**** é essa?* Conheça a fascinante história da estrela mais estranha da nossa Galáxia

João Costa > CT1FBF ct1fbf gmail.com
Quarta-Feira, 26 de Outubro de 2016 - 12:37:07 WEST


Conheça a fascinante história da estrela mais estranha da nossa GaláxiaComo
nosso fascínio por alienígenas financiou a pesquisa que deve desvendar um
dos maiores mistérios na história da ciência: o comportamento extravagante
da filha rebelde da Via Láctea25/10/2016 - 19H10/ ATUALIZADO 19H1010 / *POR
ANDRÉ JORGE DE OLIVEIRA*

 *OUÇA A REPORTAGEM*
[image: (Foto: Ana Matsusaki e Rômolo)](ILUSTRAÇÃO: ANA MATSUSAKI E RÔMOLO)

Efaltavam dois dias para o segundo aniversário da chegada do telescópio
Kepler ao espaço. Em 5 de março de 2011, o caçador de planetas da NASA
<http://revistagalileu.globo.com/Ciencia/Espaco/noticia/2015/08/nasa-saiba-mais-sobre-agencia-espacial-americana.html>
fazia
exatamente a mesma coisa que fizera desde o início de sua missão:
monitorava a cada meia hora a luz que recebia das mesmas 150 mil estrelas
de nossas redondezas galácticas, à procura de oscilações que indicassem a
presença de mundos distantes. Naquele dia, contudo, era como se os fótons
viessem lhe dar os parabéns. Mas os sensores captaram alguma coisa muito
grande em trânsito entre o instrumento e uma *estrela* a 1.480 anos-luz
daqui. Era algo tão enorme que um a cada seis fótons emitidos por aquele
sol foi impedido de seguir viagem e não pôde parabenizar o telescópio
Kepler por ter resistido mais um ano aos rigores do espaço. Se o tal objeto
tivesse as proporções de Júpiter
<http://revistagalileu.globo.com/Ciencia/noticia/2016/09/tudo-o-que-voce-precisa-saber-sobre-jupiter.html>,
bloquearia apenas uma em cada cem partículas — e as leis da física não
permitem que um mundo seja muito maior do que o gigante gasoso mais
imponente do Sistema Solar. Seja lá o que aquilo fosse, decerto não era
nenhum planeta.

Quase dois anos se passaram e o fenômeno ocorreu novamente, só que dessa
vez ainda mais intenso, ocultando 21% da luz irradiada pela estrela. Isso
significa que, se todos os fótons tivessem vindo em carros com cinco
passageiros, apenas quatro completariam a viagem. O mais estranho nessa
história é que estrelas não se comportam dessa maneira. Por seguirem as
regras da mecânica celeste, elas costumam ser mais constantes: as
oscilações provocadas por objetos em órbita normalmente duram poucas horas
e se repetem após o mesmo intervalo de tempo. Nesse caso, elas não têm
periodicidade clara e podem se arrastar por dias a fio. Foi por todos esses
motivos que, naquele ano de 2013, nenhum dos envolvidos na pesquisa
duvidava estar diante de algo muito misterioso. Eles obviamente adoraram o
enigma, que é tão bom que até hoje não foi resolvido. “Nós cientistas somos
gente muito curiosa, amamos um quebra-cabeçaâ€, assume a astrônoma
norte-americana Tabetha Boyajian, a quem os mais íntimos chamam de Tabby.
“Quando algo assim aparece, é muito empolgante para toda a comunidade.â€
Boyajian, que se transferiu recentemente para a Universidade do Estado da
Louisiana, vem coordenando desde o início os estudos por trás da estrela
mais exótica da *galáxia*, chamada oficialmente de KIC 8462852. Como a
denominação oficial não é nada amigável, o apelido carinhoso de Estrela da
Tabby pegou.

A pesquisadora e seus colegas, por sua vez, preferem chamá-la de WTF,
acrônimo de duas perguntas bastante diferentes em inglês: a de teor
científico questiona justamente onde está o fluxo perdido de fótons; a de
cunho popular, esbanjando sinceridade, é mais explícita e quer dizer algo
como que p**** é essa?. Durante dois anos, a equipe de Boyajian, que na
época cursava pós-doutorado em Yale, tentou decifrar o enigma por conta
própria, analisando exaustivamente a curva de luz da estrela, coletada pelo
telescópio Kepler, assim como medições de outros instrumentos. Mas pouco
adiantou — a temperamental WTF não dava o braço a torcer. Parecia fazer
questão de preservar seus segredos. “Tudo o que propusemos até agora não é
muito bomâ€, reconhece a astrônoma. Em termos técnicos, ela quer dizer que
cada hipótese que testavam, de alguma maneira, conflitava com os dados.

Foi quando o grupo de cientistas tomou a decisão arriscada de compartilhar
com a comunidade todo o pouco que sabiam, na esperança de que alguém de
fora pudesse, com perdão do trocadilho, dar-lhes uma luz. “Não é uma
situação normal na *astronomia*apresentar um artigo que não ofereça uma
conclusão muito sólida e robusta sobre o objeto em estudoâ€, afirma Daryll
LaCourse, um dos autores do estudo publicado em setembro de 2015 no
periódico *MNRAS*. Nele, os pesquisadores fazem descrições científicas de
cenários que poderiam explicar os escurecimentos súbitos da estrela — se ao
menos tivessem a delicadeza de se encaixar nos dados. Só que não se
encaixam. Um ano depois de cair no conhecimento do público, o mistério não
só permanece sem solução como ficou ainda mais esquisito.


*Estranhos eclipsesOscilações na curva de luz da Estrela da Tabby duraram
dias e ofuscaram até 21% de seu brilho. Um planeta como Júpiter ocultaria
só 1%*

*Estrela rebelde* - *Brilho da wtf oscila de forma intensa e irregular*
[image: (Foto: Ana Matsusaki e Rômolo)]


*1Dia:* 792
*Data:* 5/3/2011
*Obscurecimento:* 16%
*Duração:* 7 dias


*2Dia: *1.519
*Data:* 28/2/2013
*Obscurecimento:* 21%
*Duração: *100 dias*


*3Dia: *1.540
*Data:* 20/3/2013
*Obscurecimento:* 3%
*Duração:* 100 dias*


*4Dia: *1.568
*Data: *17/4/2013
*Obscurecimento:* 8%
*Duração:* 100 dias*

*Ciclo de 750 dias entre os grandes eclipses. O próximo deve ocorrer em
maio de 2017. *Somados, os eventos 2, 3 e 4 duraram 100 dias*

*Obediência estelar - Já a curva de luz de uma estrela com planeta é bem
mais constante*
[image: (Foto: Ana Matsusaki e Rômolo)]

*Estrela: *COROT-4
*Planeta:* COROT-4b
*Órbita:* 9,2 dias
*Tamanho: *Júpiter
*Obscurecimento:* 1%
*Trânsito:* Poucas horas
[image: (Foto: Ana Matsusaki e Rômolo)](ILUSTRAÇÃO: ANA MATSUSAKI E RÔMOLO)


*Uma colisão titânicaO choque catastrófico entre dois corpos celestes de
dimensões planetárias poderia explicar as oscilações no brilho — mas estão
faltando peças nesse quebra-cabeça*

*O choque*
Quando corpos gigantescos colidem, liberam tanta poeira e detritos que
ocultariam boa parte do brilho emitido pela estrela que orbitam. Os
envolvidos podem ser protoplanetas ou então mundos cujas órbitas se
desestabilizaram. Acredita-se que a Terra tenha passado por isso há 4,5
bilhões de anos, quando colidiu com um corpo do tamanho de Marte
<http://revistagalileu.globo.com/Revista/noticia/2015/06/vamos-mesmo-morar-em-marte.html>.
O resultado teria sido a formação da Lua.

*A distância*
Cálculos apontam que a colisão teria de ocorrer a uma distância da estrela
equivalente a 160% da distância Terra-Sol. Isso faria o material orbitar a
estrela a cada 750 dias — intervalo que bate com a diferença de tempo entre
as grandes oscilações. A segunda seria mais intensa devido ao material ter
se espalhado. A estrela deve agir de novo por volta de maio de 2017: só
então teremos mais respostas.

*A poeira*
Falta de radiação infravermelha compromete a teoria. Outra questão é a
probabilidade ínfima de presenciarmos o evento, que precisaria ter ocorrido
um ano antes do primeiro grande eclipse. Toda estrela teria de vivenciar 10
mil desses impactos para que fosse provável a detecção de um deles no
estreito campo de visão do Kepler ao longo dos quatro anos de missão.

*Onde está o fluxo?*

Apesar de não ser nenhum astrônomo profissional, LaCourse foi creditado
como segundo autor no artigo que expôs ao mundo a inconstante *Estrela da
Tabby*. Esteve profundamente envolvido durante todas as etapas da pesquisa.
Em 2011, o canadense que trabalha na indústria aeroespacial se cadastrou em
um projeto de ciência cidadã chamado Planet Hunters (Caçadores de
Planetas), em que qualquer pessoa pode vasculhar os dados do telescópio
Kepler, auxiliando os cientistas em suas pesquisas. “Senti que isso
oferecia uma oportunidade única de explorar por conta própria alguns desses
estranhos mundos novos, em vez de apenas ler sobre elesâ€, conta. E foi ali
que os usuários se depararam com uma curva de luz das mais estranhas e
começaram a marcar a estrela KIC 8462852, até então só mais uma entre
outras 150 mil, como um *objeto* bizarro e digno de atenção. Em debates no
fórum da plataforma, uma das primeiras hipóteses que surgiram aventava um
problema com os dados em si. LaCourse, que se especializou em achar esse
tipo de erro, fez testes preliminares e não encontrou nada. Foi quando
Boyajian, coordenadora do projeto, foi informada da situação.

Depois que a NASA confirmou que, de fato, não havia nada de errado com os
dados, o jeito era aceitar que estavam diante de um evento real — e começar
a investir as fichas na busca de causas naturais que pudessem explicá--lo.
Uma delas propunha que a estrela estava acompanhada de uma parceira jovem,
que preservava o material denso e poeirento que um dia formaria *planetas*.
Com certeza, ao transitar entre a Terra e a WTF, um objeto desses
bloquearia uma enorme quantidade de fótons. “Muitos de nós teorizamos que o
evento representava o eclipse de uma companheira estelar, com a assimetria
talvez causada por um disco protoplanetárioâ€, explica LaCourse. Mas o
segundo trânsito que foi captado pelo telescópio Kepler durante os últimos
dias de sua missão tornou tudo ainda mais confuso. “A complexidade dos
eventos no final dos dados destruiu qualquer teoria de um simples sistema
binário.†Quando o último pacote de dados chegou, mais uma vez os
cientistas cidadãos suspeitaram de que estava corrompido e, novamente,
comprovou-se que não estava.

Então pensaram que a curva de luz anômala poderia pertencer a um sistema
estelar exótico, composto de quatro ou até cinco estrelas, porém não havia
oscilações no brilho da KIC 8462852 que caracterizassem a presença de
tantas acompanhantes. Sugeriram que ela própria poderia ser jovem e,
portanto, ter um disco protoplanetário, mas datações astronômicas e a
própria região do espaço onde fica apontam que aquele estranho sol é velho
o bastante para já ter passado dessa fase. E há uma peça fundamental que se
recusa a encaixar-se neste quebra-cabeça cósmico: se existissem grandes
quantidades de poeira naquele misterioso *sistema solar*, nossos
instrumentos detectariam muita radiação infravermelha vinda de lá. É o tipo
de marca que esses minúsculos resíduos sólidos deixam no espectro da luz.
Mas as emissões do tipo estão confortavelmente dentro do esperado para uma
estrela de classe F como nossa rebelde amiga estelar. Este mesmo fator
compromete outros cenários que, à primeira vista, parecem promissores, como
uma violenta colisão planetária, um enxame formado por centenas de milhares
de cometas que teriam ido parar perto demais da WTF e estariam se
desmanchando com o calor, ou ainda a presença de planetas com grandes
anéis, à moda do vizinho *Saturno*.
[image: (Foto: Ana Matsusaki e Rômolo)](ILUSTRAÇÃO: ANA MATSUSAKI E RÔMOLO)


*Cometas em profusãoAté a descoberta de que a KIC 8462852 está desbotando,
este era o cenário preferido dos pesquisadores — um enxame de cometas perto
demais do calor se desmancha e espalha material entre nós e a estrela*

*Os cometas*
Cometas se desmancham com facilidade. Variações de temperatura ou
interações gravitacionais podem quebrá-los e espalhar seu material pelo
espaço. Foi a explicação mais favorecida no artigo de Boyajian: ou uma
estrela vizinha “empurrou†cometas para perto da WTF, ou um protoplaneta
está “evaporando†na região interna daquele sistema solar.

*A origem*
O planeta em decomposição deveria ter cerca de 100 quilômetros de diâmetro.
O cenário é favorável, pois explicaria as oscilações aglomeradas na curva
de luz: fragmentos desprendidos continuam se fragmentando, como em um
efeito dominó. O resultado são centenas de milhares de pedaços e muita
poeira se movimentando a 50 km/s.

*A órbita*
Como é característico dos cometas, esse enxame rodaria em torno da estrela
WTF em órbita muito elíptica (oval). Ou seja: estariam muito próximos
daquele sol em um extremo, e muito distantes no outro. Estima-se que a
distância varie de uma até 26 vezes a distância Terra-Sol (Unidade
Astronômica), resultando em uma média de 13 UA — o equivalente a pouco mais
que a distância de Saturno até o Sol.

*A estrela que se esvai - KIC 8462852 perdeu 3% de seu brilho em quatro
anos*
[image: (Foto: Ana Matsusaki e Rômolo)](ILUSTRAÇÃO: ANA MATSUSAKI E RÔMOLO)

*Que p**** é essa?*

No entanto, foi só no início de agosto que o mistério ganhou contornos
verdadeiramente surreais graças a um artigo dos astrofísicos Benjamin
Montet e Joshua Simon. Eles comprovaram que a Estrela da Tabby está ficando
desbotada com o passar do tempo. Ao longo dos quatro anos da missão Kepler,
cerca de 3% de seu brilho se esvaiu sabe-se lá o porquê, sendo que 2% foi
perdido rapidamente em um período curto, de apenas 200 dias. É mais um
exemplo de comportamento errático que estrelas normais simplesmente não
apresentam — e mais uma prova de que o título de “estrela mais estranha da
galáxia†é, no mínimo, apropriado. “Não existe atualmente nenhum modelo
viável no qual uma simples causa natural possa explicar tanto o
desbotamento a longo prazo quanto os eclipses de curto prazoâ€, afirma
LaCourse, que, depois da recente constatação, não bota mais a mão no fogo
por nenhum dos cenários propostos.

Diante de tantas e tão profundas incertezas, não surpreende o fato de as
pessoas terem começado a falar em *ETs* tão logo a descoberta veio a
público, no fim do ano passado. A associação de fenômenos ainda
inexplicáveis com alienígenas não é nenhuma novidade para a astronomia. A
diferença é que, desta vez, um ano se passou e a ideia de que encontramos
vestígios de uma civilização extraterrestre avançada nos confins do espaço,
apesar de improvável, continua sendo possível. “Mesmo que soe fantástica e
propensa a produzir sorrisos de escárnio em alguns comentadores, a hipótese
da ‘megaestrutura alienígena’ não está, de forma alguma, além do reino da
possibilidade realâ€, garante o cientista cidadão. Mas, sobretudo, nunca
antes um burburinho do gênero havia sido tão surpreendentemente lucrativo
e, por que não, benéfico para os cientistas.
[image: (Foto: Ana Matsusaki e Rômolo)](ILUSTRAÇÃO: ANA MATSUSAKI E RÔMOLO)


*Engenharia AlienígenaA noção de que civilizações extraterrestres cedo ou
tarde construiriam megaestruturas ao redor de estrelas foi descrita pelo
físico teórico Freeman Dyson em 1960 — e é uma das hipóteses para os
eclipses*

*A energia*
Seres avançados construiriam Esferas de Dyson com um claro objetivo em
mente: obter energia. Conforme evoluem, civilizações tecnológicas
necessitam de fontes energéticas cada vez mais fartas. E grandes painéis
solares arranjados ao redor de uma estrela podem contemplar tal
necessidade, capturando toda a energia gratuita fornecida.

*A civilização*
Para criar algo nessa escala, uma civilização alienígena deve estar
milênios à frente dos humanos. Dyson estima ser necessária para a
construção a energia irradiada pelo Sol em 800 anos. Uma esfera feita na
região de Júpiter pesaria trilhões de vezes mais que a Estação Espacial
Internacional: algo como duas toneladas por metro quadrado.

*A esfera*
Dyson descreveu enxames de megaestruturas que não precisam estar conectadas
— assim ficam mais resistentes. Os painéis solares poderiam abrigar a
própria espécie, compondo uma biosfera artificial no espaço. Por emitirem
radiação infravermelha, buscas por essas estruturas são uma alternativa à
tradicional sondagem por ETs por meio de radiotelescópios.

*Quem é quem na galáxia - Sol é menor e vive mais que a estrela estranha*


*SolMassa:* 333.000 massas da Terra
*Raio: *109 raios da Terra
*Luminosidade:* 3.828 × 1026 watts
*Temperatura:* 5.498°C
*Distância:* 149,6 milhões de km da Terra
*Vive: *10 bilhões de anos


*Estrela WTFMassa:* 1,43 massa do Sol
*Raio:* 1,58 raio do Sol
*Luminosidade:* 4,68 luminosidades do Sol
*Temperatura:* 6.476°C
*Distância:* 1.480 anos-luz da Terra
*Vive:* 3 bilhões de anos

*Fonte:* Scholarpedia/Freeman Dyson

*Põe nas contas dos aliens*

A primeira pessoa a sugerir que as flutuações irregulares e intensas no
brilho da estrela KIC 8462852 poderiam ser causadas pela passagem de
estruturas gigantescas projetadas por ETs engenheiros não foi nenhum
ufólogo, mas sim um astrofísico respeitado na ciência planetária — Jason
Wright, da Universidade Estadual da Pensilvânia. Na época em que a equipe
de Tabetha Boyajian publicou seu estudo, Wright trabalhava em outra
pesquisa que discutia justamente a possibilidade de, entre um planeta e
outro, o telescópio Kepler flagrar uma *megaestrutura alienígena* vagando
por um sistema solar distante. E o caso inexplicável da Estrela da Tabby
parecia tão promissor nesse sentido que foi incluído no artigo. Poderia
muito bem se tratar de uma Esfera de Dyson, conceito descrito em 1960 que
consiste em um arranjo de megapainéis solares construídos em torno de
estrelas por inteligências que queiram coletar a energia irradiada.

“Parecia o tipo de coisa que você poderia esperar que uma civilização
alienígena construísseâ€, disse Wright à revista norte-americana *The
Atlantic*, que deu o furo em outubro do ano passado e fez a história
viralizar no mundo todo. Mas não foi só a comunidade de leigos entusiastas
dos ETs que se interessou: cientistas cujo ofício é realmente caçá-los
também ficaram empolgados. “Assim que vimos uma pré-impressão do artigo de
Jason Wright, largamos tudo e apontamos nosso telescópio na direção da
Estrela da Tabbyâ€, conta o físico Gerry Harp, que trabalha no Instituto
Seti, organização que há mais de 20 anos aponta radiotelescópios para o
cosmo na esperança de captar algum sinal de *extraterrestres*. As
observações foram realizadas entre outubro e novembro de 2015 com as 42
antenas de rádio que compõem o Allen Telescope Array.

Harp confessa que as expectativas eram altas com este alvo, que classifica
entre os dez mais promissores já analisados pelo instituto. “É claro que
todos nós ficamos um pouco desapontados por não ter encontrado nada, mas
você não pode permitir que algo assim o deixe para baixo se quiser
continuar no negócio do Seti.†O resultado, porém, não é definitivo, já que
os 1.480 anos-luz que separam a Terra da WTF dificultam uma detecção. “A
esperança era achar um sinalâ€, afirma o astrônomo Seth Shostak, do mesmo
instituto. “Não achar um sinal, infelizmente, não prova muita coisa.†Tanto
que, neste mês, Jason Wright pretende conduzir novas buscas com um dos
maiores radiotelescópios do mundo — o Green Bank, localizado na Virgínia
Ocidental.

Nenhum astrofísico afirma que a resposta do *mistério* seja uma
megaestrutura alienígena: apenas ainda não conseguiram descartar a
possibilidade. Mas isso foi o bastante para animar muita gente, e estimulou
o financiamento de uma pesquisa que coletará mais dados sobre a Estrela da
Tabby. Nos últimos meses, 1.762 pessoas doaram mais de US$ 107 mil dólares
para uma campanha criada por Boyajian na plataforma de financiamento
coletivo Kickstarter. Com o dinheiro, a astrônoma comprará 550 horas no
Observatório Las Cumbres (LCOGT), uma rede global de telescópios.

Por ser uma entidade privada, tem mais flexibilidade para abraçar pesquisas
astronômicas de risco do que instalações governamentais. “A alta
visibilidade e o interesse público também não machucaramâ€, diz o diretor
Todd Boroson, que no final do ano passado doou 200 horas ao projeto. Até
agora, não há nada de novo na curva de luz da WTF, mas isso pode mudar a
qualquer momento. “O papel do LCOGT é ficar de olho na estrela e soar o
alarme da próxima vez que uma grande *oscilação* começarâ€, explica Rachel
Street, astrônoma que gerencia o projeto no observatório. Evidências
sugerem que o evento deve ocorrer em maio de 2017. Quando acontecer, os
grandes telescópios do mundo vão se voltar para esse sol misterioso,
invisível a olho nu, que fica entre as constelações do Cisne e da Lira.
Como fez o telescópio Kepler em 2011, os instrumentos estarão captando os
fótons que vêm de lá. Tudo o que os cientistas esperam é que, desta vez, as
partículas nos contem alguns dos segredos da filha mais rebelde da *Via
Láctea*.

Para que não existiam outras más interpretações: "Que p**** é essa?" = "Que
porra é essa?"
-------------- próxima parte ----------
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