ARLA/CLUSTER: Pelo menos em ratos machos de laboratório, novo estudo associa o telemóvel ao cancro

João Costa > CT1FBF ct1fbf gmail.com
Terça-Feira, 31 de Maio de 2016 - 16:30:57 WEST


NOVO ESTUDO ASSOCIA USO DE TELEMÓVEL COM O CANCRO E PODE “VIRAR O JOGO” DE VEZ

31 Maio, 2016 por SV

Um novo estudo de larga escala sugere que as radiações do tipo das
emitidas pelos telemóveis podem mesmo causar cancro. Estas novas
conclusões, embora levantem dúvidas, podem significar um virar do
jogo, depois de várias investigações inconclusivas sobre o assunto.

Levado a cabo pelo Programa Nacional de Toxicologia (NTP na sigla
original) dos EUA, que integra o Departamento de Saúde do país, este
mega-estudo de 25 milhões de dólares (cerca de 22,5 milhões de euros)
foi desenvolvido durante dois anos e meio, avaliando cerca de sete mil
amostras de ratos expostos aradiações de rádio-frequência do tipo dos
telemóveis de segunda geração (2G).

A pesquisa foi divulgada, neste mês de Maio, no bioRxiv, um site de
acesso e distribuição gratuita de trabalhos científicos.

As conclusões demonstram que os ratos machos expostos a dois tipos de
radiações de rádio-frequência, apresentaram significativamente maiores
probabilidades de desenvolver um tipo de cancro do cérebro conhecido
comoglioma do que os ratos não expostos. Também apresentaram maiores
hipóteses de desenvolver um tumor maligno raro conhecido
comoSchwannoma do coração.

Apesar de estes efeitos não se terem verificado nas fêmeas, os
investigadores alegam que os resultados “parecem suportar” a ideia de
que as radiações de rádio-frequência provocam cancro.

“É um virar de jogo”, considera Chris Portier, um dos investigadores
que esteve envolvido no estudo, em declarações citadas pelo site
Mother Jones. “Temos que olhar seriamente para este assunto com
detalhe considerável. O NTP faz os melhores bio-ensaios do mundo em
animais. A sua reputação é estelar. Por isso, se nos estão a dizer que
isto foi positivo no estudo, é preocupante”, conclui.

Chris Portier ainda releva que os níveis de radiação a que os ratos
foram expostos “não são muito diferentes” daqueles a que os humanos
estão expostos quando usam os seus telemóveis.

O estudo do NTP foi feito controlando o efeito de aquecimento dos
telemóveis, que tem implicações negativas para a saúde humana. Os
ratos foram expostos a doses padrão de radiações, em câmaras
especialmente construídas para o efeito, durante cerca de nove horas
por dia, desde que estavam no ventre materno até morrerem, cerca de
dois anos depois.

Entre os ratos machos que receberam as mais altas exposições a
radiações, 2 a 3% contraíram gliomas e 6 a 7% desenvolveram tumores
Schwannoma. O aumento na intensidade da radiação também aumentou os
episódios de cancro nos ratos.

A exposição abrangeu todo o corpo dos ratos, mas estes só
desenvolveram cancro no cérebro e tumores em torno do coração.
Contudo, os ratos expostos a radiações viveram mais tempo do que
aqueles que não foram expostos.

Estes indícios soam contraditórios e levam alguns cientistas a pôr em
causa as conclusões do estudo. Até porque, até agora, as pesquisas
efectuadas em torno das ligações entre o uso de telemóveis e o cancro
têm sido inconclusivas.

Há estudos que chegaram a fazer uma associação entre o lado em que o
cancro aparece com o lado em que as pessoas usam mais vezes o seu
telemóvel, masoutros não encontraram qualquer associação, como foi o
caso de umarecente investigação realizada na Austrália.

Os principais fabricantes de telemóveis têm garantido que estes são
perfeitamente seguros e que não acarretam qualquer risco de cancro.

Para Chris Portier, é evidente que “não é claro quem está certo”, o
que reforça a necessidade de estudar mais a sério o assunto.

“Gastamos milhares de milhões de dólares a usar os nosso telemóveis.
Estamos significativamente expostos, numa base constante, e contudo,
gastamos quase nada na pesquisa nesta área. Precisamos de um grande
investimento em pesquisa se quisermos entender o que pode estar a
acontecer para, esperamos, poder preveni-lo enquanto temos tempo”,
constata o investigador citado pelo site Mother Jones.

Já o dirigente da Sociedade de Cancro Americana, Otis Brawley,
confessa que os resultados são “inesperados” e lembra, em declarações
à NBC, que “os primeiros estudos sobre o elo entre o cancro nos
pulmões e o tabaco tiveram uma resistência semelhante“. Este médico
reforça assim, a ideia da importância de realizar mais “estudos
sérios”.

O relatório final do NTP sobre a investigação ainda não foi dado como
concluído e as análises vão prosseguir até 2017. Na Europa, decorre
desde 2010 um estudo com 290 mil utilizadores de telemóveis que se vai
prolongar até 2040. Talvez por essa altura, haja respostas mais claras
quanto a esta ligação… Ou ausência de ligação.

Fonte: SV, ZAP



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