ARLA/CLUSTER: Missão a Marte leva tecnologia portuguesa

João Costa > CT1FBF ct1fbf gmail.com
Segunda-Feira, 14 de Março de 2016 - 08:13:05 WET


Esta segunda-feira ocorre o lançamento da primeira de duas missões
europeias, para procurar sinais de vida no planeta. Coube a uma empresa de
Coimbra zelar pelo bom funcionamento do satélite e a outra empresa do Porto
proteger os seus instrumentos

Portugal vai iniciar esta segunda-feira uma viagem até Marte, com o
lançamento da primeira de duas missões europeias, para procurar sinais de
vida no planeta, levando a bordo tecnologia de empresas portuguesas.

O lançamento está marcado para as 09:31 de Lisboa, a partir do cosmódromo
de Baikonur, no Cazaquistão, e enquadra-se no programa de exploração
robótica de Marte, o ExoMars, uma colaboração entre as agências espaciais
europeia (ESA) e russa (Roscosmos).

Dentro de um foguetão russo Proton-M, seguem um satélite e um módulo de
entrada, descida e aterragem em Marte. Ambos têm componentes 'made in'
Portugal.

O plano de voo prevê que o satélite, o TGO, se separe do foguetão ao fim de
dez horas e meia, e abra os painéis solares que lhe vão dar energia para
continuar a viagem e se manter, depois, na órbita de Marte.

De acordo com a ESA, só a 16 de outubro, depois de entrar na órbita do
planeta, é que o satélite se separa do módulo, o 'Schiaparelli', que deverá
entrar na atmosfera marciana e aterrar na superfície passados três dias.

O ExoMars inclui uma segunda missão, que prevê o envio para Marte, em 2018,
de um veículo robotizado, o primeiro europeu no planeta, que vai andar na
superfície e recolher e analisar amostras do subsolo que possam conter
marcadores biológicos de vida passada, ou até presente.

Tal como a primeira missão, ExoMars 1, a segunda missão, ExoMars 2, reúne
contributos tecnológicos de empresas portuguesas, ou de especialistas
portugueses que trabalham em empresas estrangeiras. As empresas estão
integradas num consórcio internacional liderado pela Thales Alenia Space
Italia, que agrega companhias de mais de 20 países.

Pela segunda vez, a ESA, da qual Portugal é um dos países-membros, vai
colocar um aparelho na órbita de Marte, para estudar o planeta, depois de
ter enviado, em 2003, a sonda Mars Express, que confirmou, em 2007, a
existência de água, perto do Polo Sul.

Com uma 'esperança de vida' de cinco anos, o Trace Gas Orbiter (TGO) vai
procurar gases rarefeitos na atmosfera de Marte, em particular metano, um
indicador de que pode haver, ou ter havido, vida no 'planeta vermelho'.

Coube à empresa Critical Software, com sede em Coimbra, zelar pelo bom
funcionamento do satélite e à HPS Portugal, do Porto, proteger, do ponto de
vista térmico, os seus instrumentos.

Já a Active Spaces Technologies, também de Coimbra, teve a seu cargo os
estudos térmicos que estiveram na base da avaliação e seleção dos locais de
aterragem do módulo 'Schiaparelli'.

O módulo, que servirá à Europa para testar a tecnologia de entrada, descida
e aterragem em Marte, em segurança, a pensar em futuras missões humanas no
planeta, vai pousar numa pequena região plana, próxima do equador, a
Meridiani Planum, que, creem os cientistas, pode ter indícios de que houve
água, elemento essencial à vida, na superfície marciana num passado
longínquo.

O equipamento, que tem uma forma cónica e pesa 600 quilos, chama-se
'Schiaparelli', em homenagem ao astrónomo italiano Giovanni Virginio
Schiaparelli (1835-1910), que criou um mapa de Marte, com 'mares' e
'continentes', a partir de observações telescópicas.

A HPS Portugal também assegurou o isolamento térmico, em múltiplas camadas,
do módulo. Sem esse revestimento, os seus componentes não sobreviveriam à
viagem desde a Terra e não funcionariam na superfície de Marte, planeta com
amplitudes de temperatura muito elevadas.

O 'Schiaparelli', que vai entrar na atmosfera de Marte e descer à
superfície do planeta a uma velocidade de 21 mil quilómetros por hora,
estará operacional apenas durante poucos dias, mas, nos seis minutos que
demorará a sua descida, vai poder recolher dados adicionais, em especial da
atmosfera, rica em dióxido de carbono, que serão enviados para Terra via
satélite.

O custo total do programa ExoMars foi inicialmente estimado, pela ESA, em
1,2 mil milhões de euros. Em janeiro, o diretor-geral da agência espacial
europeia, Jan Wörner, admitiu, no entanto, ser necessário mais dinheiro,
apelando a um esforço financeiro dos países-membros com forte presença nas
duas missões: Itália, França, Reino Unido e Alemanha
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