ARLA/CLUSTER: Um segundo a mais em 2015 pode provocou atrasos em 400 voos na Austrália, como em 2012.

João Costa > CT1FBF ct1fbf gmail.com
Sexta-Feira, 23 de Janeiro de 2015 - 10:48:50 WET


2015 vai ter um segundo a mais. Computadores e internet podem ficar baralhados

Chama-se “segundo intercalar”, foi criado em 1972 e vai ser aplicado
este ano, pela 26ª vez na história. É só um segundo a mais, mas pode
ser o suficiente para baralhar os computadores e a internet.

Este ano vai ter um segundo a mais. Chama-se “segundo intercalar” e a
sua aplicação é definida pela International Earth Rotation Service
(IERS), entidade que estuda a rotação precisa do planeta. Não é nada
demais, de tempos a tempos acontece: os cientistas precisam de acertar
o relógio do Homem com o da Terra.

A “hora oficial” é definida por relógios atómicos de alta precisão que
estão espalhados por todo o mundo. Eles coordenam as horas entre si,
trata-se de um mecanismo complexo que regula tudo: a hora oficial de
um país, a abertura e o fecho das bolsas de valores, as partidas e
chegadas dos aviões e todo o sistema de comunicação por satélite. Se
equacionarmos apenas estes exemplos à escala global, atrasos de
segundos transformam-se em horas, num efeito em cadeia com implicações
importantes, um dominó que ninguém quer jogar. E todos estes sistemas
partilham uma plataforma global: a internet.

Por este motivo, o “segundo intercalar” é uma grande dor de cabeça
para os engenheiros e especialistas que garantem que o mundo inteiro
se gere pelo mesmo segundo. Isto porque não existe “um” relógio mas
muitos, que se controlam numa determinada cadeia e hierarquia. Por
isso corre-se o risco que este “acerto” baralhe as contas da
comunicação (global) entre os computadores.

Não é a primeira vez que acontece. Este vai ser o 26º “acerto” (foram
introduzidos em 1972), mas a evolução tecnológica e a dependência dos
sistemas de computação tornam estas alterações complexas. Isto porque,
para um computador, um dia tem 86.400 segundos, nem mais nem menos. Um
segundo extra não encaixa no formato das máquinas e alguns sistemas
não são capazes de o entender, em especial os baseados no sistema
Unix.

Para se ter uma ideia das consequências práticas deste acerto, o
“segundo intercalar” de 2012 provocou atrasos em 400 voos na
Austrália, porque os computadores deixaram de funcionar, obrigando à
verificação manual dos sistemas. Páginas tais como o LinkedIn, Reddit,
Yelp e Foursquare, também sofreram problemas.

Este ano não se esperam repercussões graves, muito menos se prevê que
se repita o fenómeno Y2K (o “bug do milénio” que ameaçou a passagem do
ano 1999 para 2000), mas porque o número de pessoas ligadas à internet
aumenta de ano para ano, aumenta também a hipótese de que pequenos
problemas atinjam mais utilizadores.

A sincronização da rotação real do planeta com as voltas do relógio é
um processo complexo. Estes atrasos são praticamente impercetíveis,
porque um dia não tem 24 horas certas, medidas ao milissegundo. Por um
lado a Terra está a desacelerar, por outro existem variações
gravitacionais que alteram a rotação da Terra, por isso de vez em
quando é preciso acrescentar ou subtrair um segundo ao nosso relógio.
Uma nota publicada pelo Observatório Astronómico de Lisboa explica
este “acerto” com mais detalhe.

Já agora, ficou definido que este “avanço” está marcado para o último
segundo do último minuto da última hora do dia 30 de junho. Às
23:59:59 os relógios do mundo vão parar por um segundo. Será que a
internet também?



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