ARLA/CLUSTER: Afinal o meridiano de Greenwich passa um (bom) bocado mais ao lado

João Costa > CT1FBF ct1fbf gmail.com
Segunda-Feira, 17 de Agosto de 2015 - 17:21:41 WEST


Afinal o meridiano de Greenwich passa um bocado mais ao lado
17/8/2015, 13:33 In Observador

A linha imaginária que é origem para todas as longitudes e fusos horários
do mundo não passa no sítio onde está marcada no Reino Unido. Ande cerca de
100 metros para leste e encontrará o local certo.
<http://observador.pt/wp-content/uploads/2015/08/meridiano-de-greenwich_770x433_acf_cropped.jpg>

A linha que marca o meridiano de Greenwich (a tracejado) atravessa o Royal
Observatory, mas a longitude zero passa 102 metros a este (linha a cheio)

Malys et al. (2015) J Geod
Autor

   - Vera Novais



Um pé de cada lado da linha e os visitantes do Royal Observatory, no Reino
Unido, acreditam estar a tocar simultaneamente em cada metade do planeta
que o meridiano de Greenwich divide. Mas a linha imaginária que vai do polo
norte ao polo sul, o grau zero que define todos os outros meridianos e
todos os fusos horários no mundo, afinal não fica exatamente naquele sítio,
como confirma um estudo publicado
<http://link.springer.com/article/10.1007/s00190-015-0844-y> este mês na
revista científica Journal of Geodesy.

Se mesmo assim pensar ir a este marco turístico na ilha britânica, basta
que ande 102 metros para leste para que o GPS que leva na mão marque
finalmente zero graus de longitude, refere a equipa norte-americana que
conduziu o estudo. Esta discrepância já é conhecida desde os anos 1960, mas
afinal o que aconteceu para que o meridiano “mudasse†de sítio?

Quando o meridiano de Greenwich foi estabelecido como linha de referência
para a definição dos restantes meridianos e fuso horários, em 1884, os
cálculos foram baseados em “estrelas relógio†– estrelas que pela
proximidade a um dos polos nunca desaparecem no horizonte -, num
reservatório de mercúrio que mantinha o telescópio que observava as
estrelas na vertical e também na gravidade local. Apesar de o cálculo até
ser bastante preciso naquela altura, é bastante menos que os sistemas de
posicionamento global (GPS) alimentados pelos dados recolhidos pelos
satélites hoje em dia.
[image: LONDON, ENGLAND - MARCH 26: A member of the public stands astride
the 'Prime Meridian of the World' at Longitude 0º at the Royal Observatory
in Greenwich on March 26, 2012 in London, England. The Royal Observatory,
Greenwich encompasses Flamsteed House, the original Observatory building
which was designed by Sir Christopher Wren in 1675, as well as the Peter
Harrison Planetarium, the Prime Meridian of the World, the Harrison
timekeepers and the UK's largest refracting telescope. (Photo by Oli
Scarff/Getty Images)]
<http://observador.pt/wp-content/uploads/2015/08/141922243.jpg>

Um pé de cada lado da linha que identifica o meridiano de Greenwich
estabelecido em 1884 – Oli Scarff/Getty Images

As formas tradicionais de medir a longitude, baseadas em medições à
superfície, alimentaram variações ou erros, dependendo dos sítios
específicos onde as medições eram feitas, refere o comunicado de imprensa
da Universidade da Virgínia, nos Estados Unidos. Por um lado, porque a
Terra não é perfeitamente redonda, por outro, porque a variedade dos tipos
de terreno e elevações condicionam a força da gravidade. Com o GPS as
medidas são feitas na vertical, em linha reta em relação ao centro da
Terra, eliminando os efeitos gravitacionais das montanhas ou de outros
alterações no terreno, referiu
<https://news.virginia.edu/content/researchers-explain-why-greenwich-prime-meridian-moved>
no mesmo comunicado de imprensa Ken Seidelmann, astrónomo naquela
universidade e co-autor do estudo.

Os autores do estudo foram mais longe. Não se limitando a encontrar a
diferença entre a linha que define o meridiano em Greenwich e o
“verdadeiro†meridiano de longitude zero, os investigadores encontraram
outras discrepâncias entre linhas marcadas em vários países e os meridianos
que realmente definem. A maior diferença foi encontrada no Chile, como
reforça <http://www.iflscience.com/prime-meridian-greenwich-wrong-place> o
*site* IFLScience, porque o marco está localizado bem alto nas montanhas,
logo a variação na força da gravidade é ainda mais evidente.

O meridiano de Greenwich marca o início de cada dia, de cada ano e de cada
milénio. A explicação agora apresentada para a diferença entre a medição
astronómica (baseada nas estrelas) e a medição geodésica (baseada nas
dimensões da Terra) não tem implicações na investigação científica nem nas
medidas de posicionamento, mas talvez fosse interessante ter um novo marco
em Greenwich que identificasse a localização correta.

“Acho que ter um marco no parque seria brilhante para atualizar a história
do meridiano de Greenwich no século XXIâ€, disse Marek Kukula, astrónomo no
Royal Observatory, citado
<http://www.independent.co.uk/news/science/greenwich-royal-observatory-how-the-prime-meridian-line-is-actually-100-metres-away-from-where-it-was-believed-to-be-10452386.html>
pelo The Independent. “Neste momento, o mais próximo que temos de um marco
é um caixote do lixo.â€
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