ARLA/CLUSTER: Foi há 60 anos/luz : Proeminência solar classe X 100 000.

João Costa > CT1FBF ct1fbf gmail.com
Terça-Feira, 7 de Outubro de 2014 - 13:22:56 WEST


*SWIFT OBSERVA SUPER-PROEMINÊNCIAS DE MINI-ESTRELA*

No dia 23 de Abril, o satélite Swift da NASA detectou a sequência de
erupções estelares mais forte, mais quente e de mais longa duração alguma
vez observada de uma anã vermelha próxima. A explosão inicial desta série
recorde foi até 10.000 vezes mais poderosa que a maior erupção solar já
registada.

"Costumávamos pensar que os grandes episódios de actividade das anãs
vermelhas não duravam mais que um dia, mas o Swift detectou pelo menos sete
erupções poderosas durante um período de cerca de duas semanas," afirma
Stephen Drake, astrofísico do Centro de Voo Espacial Goddard da NASA em
Greenbelt, no estado americano de Maryland, que deu uma palestra sobre a
"super-erupção" na reunião de Agosto da Divisão de Astrofísica de Alta
Energia da Sociedade Astronómica Americana. "Este foi um evento muito
complexo."

No seu auge, a proeminência atingiu temperaturas na ordem dos 200 milhões
de graus Celsius, superior a 12 vezes a temperatura no centro do Sol.

A "super-erupção" veio de uma das estrelas num sistema binário próximo
conhecido como DG Canum Venaticorum, ou DG CVn, situado a cerca de 60
anos-luz de distância. Ambas as estrelas são anãs vermelhas ténues com
um-terço da massa e tamanho do Sol. Orbitam-se uma à outra a cerca de três
vezes a distância média entre a Terra e o Sol, uma separação demasiado
pequena para o Swift determinar qual das estrelas libertou a proeminência.
<http://www.nasa.gov/sites/default/files/dg_cvn_flare_final_4k_0.jpg>Impressão
de artista de DG CVn, um binário constituído por duas anãs vermelhas, que
desencadeou uma série de poderosas erupções observadas pelo satélite Swift
da NASA. No seu auge, a proeminência inicial foi mais brilhante em raios-X
do que a radiação combinada de ambas as estrelas em todos os comprimentos
de onda sob condições normais.
Crédito: Centro de Voo Espacial Goddard da NASA/S. Wiessinger
(clique na imagem para ver versão maior)

"Este sistema é pouco estudado porque não se encontrava na nossa lista de
observação de estrelas capazes de produzir grandes proeminências," afirma
Rachel Osten, astrónoma do STScI (Space Telescope Science Institute) em
Baltimore, EUA, e cientista adjunta do projecto do Telescópio Espacial
James Webb da NASA, agora em construção. "Nós não tínhamos ideia que DG CVn
era capaz de fazer isto."

A maioria das estrelas situadas até 100 anos-luz do Sistema Solar são, como
o Sol, de meia-idade. Mas mais ou menos um milhar de anãs vermelhas jovens
nascidas noutros lugares vagueiam por esta região, e estas estrelas dão aos
astrónomos a melhor oportunidade para estudar detalhadamente a actividade
de alta-energia que normalmente acompanha a juventude estelar. Os
astrónomos estimam que DG CVn nasceu há cerca de 30 milhões de anos, o que
faz com que tenha menos de 0,7% da idade do Sistema Solar.

As estrelas produzem proeminências pela mesma razão que o Sol. Em redor de
regiões activas da atmosfera de uma estrela, os campos magnéticos tornam-se
torcidos e distorcidos. Tal como ao torcer e esticar um elástico, estes
permitem com que os campos acumulem energia. Eventualmente um processo
denominado reconexão magnética destabiliza os campos, resultando na
libertação explosiva da energia armazenada que vemos como uma proeminência.
A erupção emite radiação em todo o espectro electromagnético, desde o
rádio, passando pelo visível, ultravioleta e raios-X.

Às 22:03 de dia 23 de Abril (hora de Portugal), a onda crescente de raios-X
da super-erupção de DG CVn accionou o instrumento BAT (Burst Alert
Telescope) do Swift. Poucos segundos depois da detecção de uma forte
libertação de radiação, o BAT calcula a posição inicial, decide se a
actividade merece ser investigada por outros instrumentos e, em caso
afirmativo, envia a posição ao satélite. Neste caso, o Swift virou-se para
observar a fonte em maior detalhe e, ao mesmo tempo, notificou os
astrónomos em todo o mundo da existência de um poderoso evento em progresso.

"Durante cerca de três minutos após o alarme do BAT, o brilho da
proeminência em raios-X foi maior do que a luminosidade combinada de ambas
as estrelas em todos os comprimentos de onda em condições normais," comenta
Adam Kowalski, também de Goddard que lidera o estudo detalhado do evento.
"As erupções deste tamanho, oriundas de anãs vermelhas, são muito raras."

O brilho da estrela no visível e no ultravioleta, medido tanto por
observatórios terrestres como pelo Telescópio Óptico/Ultravioleta do Swift,
subiu 10 e 100 vezes, respectivamente. A produção inicial de raios-X,
medida pelo Telescópio de Raios-X do Swift, arrasa a mais intensa
actividade solar já registada.

As maiores explosões estelares são classificadas como extraordinárias, ou
classe X, proeminências solares com base na sua emissão em raios-X. "A
maior proeminência solar já registada ocorreu em Novembro de 2003 e está
classificada como X 45," explica Drake. "A proeminência de DG CVn, se fosse
observada à mesma distância que a Terra está do Sol, teria sido cerca de
10.000 vezes mais poderosa, com uma classificação de aproximadamente X
100.000."

Mas ainda não tinha acabado. Três horas depois da explosão inicial, já numa
fase decrescente de raios-X, o sistema explodiu com outra proeminência
quase tão intensa como a primeira. As primeiras duas erupções podem ser um
exemplo de erupção "simpática", muitas vezes observadas no Sol, onde uma
explosão numa região activa desencadeia uma explosão noutra região activa.

Durante os 11 dias seguintes, o Swift detectou uma série de erupções
sucessivamente mais fracas. Osten compara a sequência decrescente de
proeminências com réplicas que se seguem após um grande sismo. Ao todo, a
estrela demorou um total de 20 dias a voltar ao seu nível normal de emissão
de raios-X.

Como é que uma estrela com apenas um-terço do tamanho do Sol consegue
produzir uma erupção assim tão poderosa? O factor-chave é a sua rápida
rotação, um ingrediente crucial para amplificar campos magnéticos. A
estrela em DG CVn tem um período de rotação inferior a um dia, cerca de 30
vezes mais rápido que o do nosso Sol. O Sol também girava muito mais
depressa na sua juventude e pode muito bem ter produzido as suas próprias
super-proeminências mas, felizmente [para nós], parece já não ser capaz de
o fazer.

Os astrónomos estão agora a analisar os dados das proeminências de DG CVn
para melhor compreender o evento em particular e as estrelas jovens no
geral. Eles suspeitam que o sistema provavelmente desencadeia inúmeras
erupções mais pequenas mas mais frequentes e planeiam vigiar erupções
futuras com a ajuda do Swift.

*Links:*

*Notícias relacionadas:*
NASA (comunicado de imprensa)
<http://www.nasa.gov/content/goddard/nasas-swift-mission-observes-mega-flares-from-a-mini-star/index.html#.VDOeIahdWiQ>
Telegrama da descoberta <http://www.astronomerstelegram.org/?read=6121>
Vídeo sobre a descoberta (NASA Goddard via YouTube)
<https://www.youtube.com/watch?v=hL9OHXw_-A8>
Astronomy magazine
<http://www.astronomy.com/news/2014/10/swift-mission-observes-mega-flares-from-a-mini-star>
Universe Today
<http://www.universetoday.com/115033/foom-superflares-erupt-from-tiny-red-dwarf-star-surprising-scientists/>
SPACE.com <http://www.space.com/27319-red-dwarf-megaflares-nasa-swift.html>
redOrbit
<http://www.redorbit.com/news/space/1113246740/red-dwarf-superflares-swift-100114/>
(e) Science News
<http://esciencenews.com/articles/2014/10/01/nasas.swift.mission.observes.mega.flares.a.mini.star>
PHYSORG <http://phys.org/news/2014-09-swift-mission-mega-flares-mini.html>
Nature World News
<http://www.natureworldnews.com/articles/9276/20141001/massive-stellar-flares-very-mini-star.htm>
National Geographic
<http://phenomena.nationalgeographic.com/2014/10/06/red-dwarf-mega-flare-eruption/>
UPI
<http://www.upi.com/Science_News/2014/09/30/Mini-star-ejects-mega-flares/9341412111647/>
AstroPT <http://www.astropt.org/2014/10/03/ja-a-formiga-tem-catarro/>

*Anãs vermelhas:*
Wikipedia <http://en.wikipedia.org/wiki/Red_dwarf>
Vídeo (NASA via YouTube) <https://www.youtube.com/watch?v=oOXVZo7KikE>

*Proeminências:*
Wikipedia <http://en.wikipedia.org/wiki/Solar_flare>

*Telescópio Swift:*
NASA <http://swift.gsfc.nasa.gov/docs/swift/swiftsc.html>
Wikipedia <http://en.wikipedia.org/wiki/Swift_Gamma-Ray_Burst_Mission>


Fonte: Núcleo de Astronomia do Centro Ciência Viva do Algarve.
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