ARLA/CLUSTER: Após lançar lâmpada que dura cem anos, espanhol é ameaçado de morte.

João Costa > CT1FBF ct1fbf gmail.com
Quinta-Feira, 2 de Outubro de 2014 - 13:38:47 WEST


Benito Muros enfrenta a obsolescência programada

Após lançar lâmpada que dura cem anos, espanhol quer debater uma das
práticas mais difundidas – e devastadoras – da produção capitalista
contemporânea

Por Cibelih Hespanhol

Em 1999, quando o espanhol Benito Muros visitou o quartel de bombeiros
de Livermore, na Califórnia, conheceu uma lâmpada que está acesa há
112 anos no local. E iluminou-se numa ideia: “Se em 1901 foi produzida
uma lâmpada que dura mais de cem anos, por que não agora?”.

Foi então que Muros compreendeu o conceito de obsolescência programada
– as lâmpadas no século XXI, e uma infinidade de outros produtos, não
duram e não interessa que durem – simplesmente para que o consumidor
precise comprar mais, fazendo lucrar as corporações. Benito conta em
entrevista: para demonstrar que tal prática não é inevitável, resolveu
fabricar sua própria lâmpada. Assim foi produzida a OEP Eletrics, que
possui garantia de 219 mil horas de funcionamento e gasta 70% menos
energia que as lâmpadas fluorescentes convencionais. Também propôs um
movimento chamado Sem Obsolescência Programada.

Muros afirma que tem sido ameaçado de morte. É carismático e às vezes
controverso. Seja como for, sua iniciativa ajuda a lançar luz sobre
uma prática capitalista cada vez mais anacrônica e devastadora e, no
entanto, cada vez mais empregada. A obsolescência programada surgiu há
quase cem anos, no coração da indústria automobilística. Em 1924,
diante de uma das primeiras crises de estagnação da venda de carros
novos, Alfred Sloan Jr, executivo-chefe da General Motors, teve a
ideia de mudar, a cada ano, algumas das características dos modelos
fabricados. Foi amplamente criticado – inclusive por Henry Ford, para
quem a nova prática prejudicaria a produção em escala.

Mas sua iniciativa mudou a indústria. Aos poucos, dezenas de pequenos
produtores de automóveis fecharam as portas, por não poderem pagar os
custos de design e reprogramação das fábricas implicados. A GM
ultrapassou a Ford, assumindo a condição de principal fabricante
norte-americana e mundial. Mais tarde, durante a depressão econômica
vivida pelos EUA nos anos 30, o industrial Brook Stevens teria
inventado o jargão: “um produto que não se desgasta é uma tragédia
para os negócios”.

Na indústria automobilística, lançar um modelo a cada ano tornou-se
prática quase obrigatória. Mas obsolescência programada esparramou-se
rapidamente por todos os ramos da produção capitalista. Uma de suas
marcas contemporâneas são as imensas filas formadas, em lojas de todo
o mundo, nas noites de lançamento de novos modelos do Ipad. Não é
preciso muito para compreender suas consequências ambientais, num
mundo de recursos finitos e produção incessante de lixo.

O espanhol Muros persevera. Para ele, as ameaças (e as dificuldades em
encontrar intermediários para a venda das lâmpadas) não são um
problema: “Meu objetivo não é vender, mas sim chamar atenção para a
necessidade de mudar o nosso sistema econômico atual, baseado no
consumo e no desperdício, no deitar fora e comprar. Não fiz isto para
vender lâmpadas. Apenas para dizer ao mundo que as coisas podem ser de
outra forma, sem enganar ninguém, sem destruir o planeta e sem usar
recursos de que não se precisa”.

Quanto à lâmpada de Livermore, que inspirou Muros e é considerada um
verdadeiro destino turístico, vale ressaltar: as câmeras webcans que a
vigiam diariamente já precisaram ser trocadas.

Ver em: http://www.centennialbulb.org/cam.htm



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