ARLA/CLUSTER: Off Topic: RESOLVIDO MISTÉRIO DO LADO OCULTO LUNAR COM 55 ANOS

João Costa > CT1FBF ct1fbf gmail.com
Sexta-Feira, 13 de Junho de 2014 - 00:15:55 WEST


A "face da Lua" surgiu quando meteoróides atingiram o lado da Lua
voltado para a Terra, criando grandes mares planos de basalto que
vemos como áreas escuras. Mas não existe nenhuma "face" no lado oculto
da Lua e, agora, os cientistas sabem porquê.

"Lembro-me que da primeira vez que vi um globo da Lua, quando era
miúdo, fiquei surpreso quando o lado oculto parecia tão diferente da
face visível," afirma Jason Wright, professor assistente de
astrofísica. "Só existiam montanhas e crateras. Onde estavam os mares?
Acontece que isto é um mistério desde a década de 1950."

Este mistério tem o nome de Problema das Terras Altas do Lado Oculto
Lunar e remonta a 1959, quando a sonda da União Soviética, Luna 3,
transmitiu as primeiras imagens da face oculta da Lua para a Terra.
Chamava-se de lado ou face oculta ou escura porque era desconhecida,
não porque a luz solar não chegava lá. Os cientistas imediatamente
notaram muito menos "mares" nesta parte da Lua que está sempre virada
para longe da Terra.

Wright, Steinn Sigurdsson, professor de astrofísica e Arpita Roy,
estudante de pós-graduação em astronomia e astrofísica, e a autora
principal do estudo, perceberam que a ausência de mares, que é devida
a uma diferença na espessura da crosta entre o lado visível da Lua e o
seu lado oculto, é uma consequência de como a Lua foi originalmente
formada. Os cientistas publicaram os seus resultados na edição de 9 de
Junho da revista Astrophysical Journal Letters.

O lado visível (esquerda) e o lado oculto (direita) da Lua, este
último quase sem mares.
Crédito: NASA/GSFC/Universidade Estatal do Arizona
(clique nas imagens para ver versão maior)

O consenso geral sobre a origem da Lua é que provavelmente se formou
pouco depois da Terra e foi o resultado de uma colisão quase
superficial, mas devastadora, entre um objecto com o tamanho de Marte
e a Terra. Esta Teoria de Impacto Gigante sugere que as camadas
exteriores da Terra e do objecto foram expelidas para o espaço e
eventualmente formaram a Lua.

"Pouco depois do impacto gigante, a Terra e a Lua estavam muito
quentes," afirma Sigurdsson. A Terra e o objecto impactante não
derreteram apenas; partes foram vaporizadas, criando um disco de
rocha, magma e vapor em torno da Terra. "A Lua e a Terra preenchiam
grande parte dos céus uma da outra," afirma Roy.

A geometria era semelhante à dos exoplanetas rochosos descobertos
recentemente muito perto das suas estrelas, afirma Wright. A Lua
estava 10 a 20 vezes mais próxima da Terra do que está agora, e os
astrónomos descobriram que assumiu rapidamente uma posição de
acoplamento de marés, em que o período de rotação da Lua coincide com
o período de translação em redor da Terra. A mesma face visível
provavelmente esteve desde aí sempre orientada para a Terra. O
bloqueio de marés é um produto da gravidade de ambos os objectos.

A Lua, sendo bem mais pequena que a Terra, arrefeceu mais rapidamente.
Dado que a Terra e a Lua estão gravitacionalmente acopladas desde a
sua formação, a ainda quente Terra - mais de 2500 graus Celsius -
propagou calor na direcção do lado visível. O lado oculto, longe da
Terra em ebulição, arrefeceu lentamente, enquanto o lado virado para o
nosso planeta foi mantido derretido criando um gradiente de
temperatura entre as duas faces.

Este gradiente foi importante para a formação da crosta da Lua. A
crosta da Lua tem grandes concentrações de alumínio e cálcio,
elementos muito difíceis de vaporizar. "Quando o vapor de rocha começa
a arrefecer, os primeiros elementos que 'nevam' são o alumínio e o
cálcio," afirma Sigurdsson.

O alumínio e o cálcio condensaram-se preferencialmente na atmosfera do
lado fio da Lua porque o lado visível estava ainda demasiado quente.
Milhares de milhões de anos depois, estes elementos combinaram-se com
os silicatos no manto da Lua para formar feldspatos de plagióclase,
que eventualmente se mudaram para a superfície e formaram a crosta
lunar, comenta Roy. A crosta da face oculta tinha mais destes minerais
e é mais espessa.

A Lua desde então arrefeceu e já não está líquida por baixo da
superfície. No início da sua história, grandes meteoróides atingiram o
lado visível da Lua e perfuraram a crosta, libertando grandes lagos de
lava basáltica que formaram os mares lunares. Quando os meteoróides
atingiam o lado oculto da Lua, na maioria dos casos a crosta era
demasiado espessa e o magma não derramava para a superfície, criando o
lado oculto com vales, crateras e terras altas, mas quase sem mares.

Fonte: Núcleo de Astronomia do Centro Ciência Viva do Algarve



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