ARLA/CLUSTER: Mitos, verdades e erros técnicos acerca da rádio.

João Costa > CT1FBF ct1fbf gmail.com
Domingo, 21 de Dezembro de 2014 - 16:01:30 WET


Não raras vezes, a leitura atenta das participações dos cibernautas em
listas de correio electrónico, fóruns de discussão e outros sítios na
Internet onde se fala de rádio, revela uma quantidade infelizmente elevada
de mitos e erros relativos às questões técnicas intrínsecas ao
funcionamento das emissões de radiodifusão. Na expectativa de esclarecer os
leitores deste artigo, procuro corrigir não só algumas falácias comuns
entre os entusiastas de rádio, mas também outros erros frequentes que, no
limite, podem descredibilizar a participação de um cibernauta num qualquer
tópico relacionado com esta temática. Deste modo, espero conseguir a
consciencialização dos leitores para a realidade da radiodifusão,
desmitificando uma quantidade razoável de imprecisões que são "vendidas" na
Internet por ignorância ou negligência.


Se a Rádio "A" emite com 1 kW e tem uma cobertura radioeléctrica vasta,
sendo bem escutada a x km, então, se a estação instalar um emissor de 2 kW
no mesmo local, vai conseguir pôr o dobro da intensidade do sinal à mesma
distância do emissor.

Falso.
A relação cobertura x potência está muito longe de ser linear. Em teoria, e
abstraindo alguns pormenores técnicos importantes, de facto, a intensidade
do sinal depende da potência irradiada; todavia, na realidade,  a cobertura
de um emissor depende também, em primeira instância, do(s) elemento(s)
radiante(s) e das condições de emissão, mas também da orografia, da limpeza
do espectro radioeléctrico na região, entre outros factores. Por último mas
não menos importante, a propagação do sinal não é independente da
frequência. Dependendo da frequência utilizada,  da actividade solar (na
HF/Onda Curta), das condições climatéricas, etc., é bem possível que, em
certas circunstâncias, um emissor com determinada potência (chamemos-lhe Y)
possa ser escutado em melhores condições que um segundo emissor com o dobro
da potência (2 x Y). Tal não significa que a potência não conta na
avaliação da cobertura de um emissor, mas sim que não podemos isolar o
factor potência sem considerar as restantes condicionantes à propagação do
sinal.


Porque é que as rádios nacionais têm tantos emissores e não optaram por
instalar 3 ou 4 emissores de grande potência [digamos, de 100 kW] para
cobrir todo o continente português? Não resolveriam os problemas de
cobertura de uma forma muito mais eficiente e económica?

Não necessariamente.
Em consequência da resposta à questão n.º 1, podemos afirmar que a
cobertura das rádios nacionais não depende apenas da potência. Além das
variáveis já mencionadas, acrescente-se toda a logística necessária à
implantação de emissores de 100 kW (potência efectiva) em locais como o
Monsanto (Lisboa), Monte da Virgem, Lousã ou Fóia (Serra de Monchique). No
mínimo, as rádios necessitariam de remodelar por completo os sistemas de
emissão, incluindo os elementos radiantes, cabos, amplificadores, etc. ,
redimensionando-os de forma a suportarem 100 kW. Além disso, a própria
alimentação eléctrica do equipamento teria de ser redimensionada para
permitir uma potência de entrada na ordem dos 100 + x kW, já que,
evidentemente, para garantir uma saída de 100 kW, os equipamentos terão de
obter da rede eléctrica uma potência superior. Ainda que os contrangimentos
técnicos fossem todos superados, a orografia de alguns locais e outros
factores de perturbação da propagação poderiam colocar em causa a cobertura
de algumas regiões do país onde um emissor de grande potência não consegue
substituir emissores de menor potência mas instalados em locais
estratégicos de modo a servir concelhos que de outro modo não teriam acesso
às rádios nacionais nas melhores condições.


As emissões FM estéreo exigem um sinal mais forte do que o necessário para
escutar a mesma emissão em mono.

Verdade.
Devido à transmissão de duas componentes de áudio (L e R), os receptores
estéreo têm de combinar os sinais L e R, somando-os (L+R) e subtraindo-os
(L-R), de modo a separar os dois canais estéreo. Já os receptores
monofónicos limitam-se a reagir apenas ao sinal L+R. Efeito colateral: a
intensidade do sinal necessária para a descodificação dos dois canais
estéreo é maior do que a exigida para uma boa recepção em mono. Razão pela
qual muitos receptores estéreo dispõem de um interruptor "stereo/mono" que
permite forçar a recepção mono, melhorando a relação sinal/ruído quando o
sinal é demasiadamente fraco para uma audição cristalina em estéreo, não
obstante ser ainda razoável para a sintonia em mono. A quem estiver
interessado em conhecer em pormenor o processo de transmissão em FM
estéreo, aconselho a leitura do artigo (em inglês) "Stereo Multiplexing for
Dummies".


A Rádio X emite nos 100,0 mHz... ou será mhz? Ou então Mhz?

Nem "mHz", nem "mhz" e muito menos "Mhz".
Este é um erro muito frequente. Na verdade, e seguindo a regulamentação do
Sistema Internacional de Unidades (SI), o prefixo Mega (que equivale a um
milhão) é escrito com "M" maiúsculo. Já a unidade de frequência, hertz, é
escrita "Hz" (H- maiúsculo, z minúsculo). No caso do prefixo Giga,
escreve-se "G" com maiúscula (ex: GHz). Contudo, o caso do prefixo quilo
(k) é escrito com letra minúscula. Assim, escreve-se:

UnidadeNotaçãoMilihertz (=0,001 Hz)mHz (m minúsculo, H MAIÚSCULO, z
minúsculo)HertzHz (H MAIÚSCULO, z minúsculo)Quilohertz (=1000 Hz)kHz (k
minúsculo, H MAIÚSCULO, z minúsculo)Megahertz (=1000 000 Hz)MHz (M
MAIÚSCULO, H MAIÚSCULO, z minúsculo)Gigahertz (=1000 000 000 Hz)GHz
(G MAIÚSCULO, H MAIÚSCULO, z minúsculo)


Rapidamente se conclui que 100,0 mHz são muito diferentes de 100,0 MHz. Uma
pequena diferença entre minúsculas e maiúsculas, mas que altera rapidamente
o sentido de um texto, se o leitor, habituado às boas práticas do SI, não
atentar ao contexto exacto em que a frequência é mencionada. Naturalmente
que as outras formas ,"mhz", "Mhz",etc. estão erradas e por conseguinte
devem ser evitadas.

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Este artigo encontra-se em permanente revisão. Apesar dos meus esforços
para tentar melhorá-lo tanto quanto possível, é provável que o mesmo
contenha erros, mormente do foro ortográfico, gramatical ou até mesmo ao
nível técnico (conteúdos). Sugiro aos leitores que eventualmente detectem
quaisquer incorrecções na página que as encaminhem para o meu endereço de
correio electrónico (infra nesta página); da minha parte, e agradecendo de
antemão a ajuda prestada na melhoria do artigo, prometo corrigir as
situações logo que possível.

(CC) Luís Carvalho

Fonte: "Mundo da Rádio"

   - Correio electrónico: mundodaradio @ gmail .com
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