ARLA/CLUSTER: Dia Mundial da Radio em Portugal

João Costa > CT1FBF ct1fbf gmail.com
Quarta-Feira, 13 de Fevereiro de 2013 - 15:07:28 WET


Rádio: o Dia Mundial do camaleão dos media

A internet foi aliada de um meio que tem a capacidade de adaptação
inscrita nos genes

O facto de o Dia Mundial da Rádio se comemorar há apenas um ano, muito
depois da criação do Dia da Imprensa, da Televisão, e até da Internet,
talvez seja o sintoma mais claro da forma como o público toma por
adquirido o mais camaleónico dos media.

Em Portugal, como lá fora, a adaptação à era digital, de podcasts e
smartphones, é o exemplo mais recente dessa realidade em
transformação. Alterou formatos e hábitos de consumo (quase um quarto
de utilizadores ouve habitualmente rádio online), mas manteve intactos
o impacto, o imediatismo e a universalidade do meio. No fundo, algo
que já tinha acontecido com o aparecimento das emissões em FM, dos
auto-rádios e dos transístores, entre outras etapas de transformação
no século XX.

Pedro Ribeiro, diretor de programas da Rádio Comercial, estação líder
de audiências no panorama nacional, sublinha essa capacidade de
transformação como traço de identidade e argumento para a
sobrevivência: «Não tenho dúvidas de que a rádio foi o meio que melhor
se adaptou à chegada da internet. Democratizou as coberturas,
potenciou a interação com as redes sociais e, ao contrário do que
aconteceu com outros meios, alargou o seu público», constata.

Representante de outra geração, Fernando Correia, que prossegue na
Rádio Amália uma carreira iniciada em 1958 na Emissora Nacional,
concorda: «Vejo a internet mais como aliada da rádio do que
adversária. Através da internet, a rádio pode chegar a todo o lado,
independentemete das frequências. Pode perder no imediatismo da
informação, mas ganha no espectro de público que pode atingir»,
resume.

Ainda assim, a mudança fez danos colaterais: mesmo com a rádio a
reforçar ligeiramente a sua fatia de mercado, a diminuição global do
bolo publicitário nos media (caiu mais de 15% em 2012), complica, por
exemplo, a sobrevivência das rádios locais, grandes agentes de
transformação do cenário mediático português na década de 80. E isto
contribui para o emagrecimento da oferta do panorama informativo.

É na vertente de informação que a concorrência da internet se faz
sentir com mais força, lembra Pedro Ribeiro: «Atualmente, com as
ferramentas brutais da internet, é mais difícil às rádios entrarem no
campeonato da informação, até porque têm custos incomparavelmente
superiores. Mesmo uma TV de informação, que é mais cara, é apoiada por
um mercado publicitário muito mais forte. No cenário atual, as rádios
de informação estão condenadas a passar um mau bocado, e experiências
recentes, como a do RCP, mostram-no», afirma.

O reforço da componente de interatividade é um dos caminhos em aberto,
e essa é outra ideia transversal às gerações da rádio. Fernando
Correia lembra um meio que a partir dos anos 70 se habituou a «ser
feito também de fora para dentro». A exploração de novas realidades da
comunicação, como as redes sociais, dá a pista para um grande desafio
identificado por Pedro Ribeiro: «O principal, para mim, passa por pôr
a rádio funcionar em multiplataforma, assegurando também uma
componente visual, aos seus conteúdos», aponta.

Com a base de ouvintes intacta, apesar do brutal aumento de oferta no
panorama informativo e de entretenimento das últimas décadas, o futuro
da rádio portuguesa desenha-se em tons não exageradamente pessimistas.
Fernando Correia confirma: «A rádio evoluiu no bom sentido. Terá
perdido um pouco da qualidade e do rigor da comunicação, até no
cuidado das vozes. Mas democratizou-se e deu espaço a toda a gente.
Mesmo com a luta titânica pela publicidade, já vi os problemas muito
mais complicados do que estão agora. Nos últimos anos a rádio
reconquistou um espaço que tinha perdido e os estudos apontam para que
continue o seu caminho de forma sólida», resume. Já Pedro Ribeiro faz
um balanço com ligação direta aos afetos: «A net foi uma ótima notícia
para a rádio, porque o público mantém a ligação afetiva com o meio e
nós mantivemos a componente próxima de quem fala todos os dias ao
ouvido das pessoas», conclui.

Fonte: TVI




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