ARLA/CLUSTER: NOVO ESTUDO ARGUMENTA QUE VOYAGER 1 JÁ SAIU DO SISTEMA SOLAR
João Costa > CT1FBF
ct1fbf gmail.com
Sexta-Feira, 16 de Agosto de 2013 - 17:28:01 WEST
De acordo com uma equipa de investigadores da Universidade de
Maryland, EUA, a Voyager 1 parece ter finalmente saído do nosso
Sistema Solar e entrado no espaço interestelar.
Transportando saudações terrestres num fonógrafo banhado a ouro e
instrumentos científicos ainda operacionais, a sonda Voyager 1 da NASA
é o objecto mais distante feito pelo Homem. E agora, afirmam estes
cientistas, começou a primeira exploração da nossa Galáxia para lá da
influência do Sol.
"É uma visão um tanto ou quanto controversa, mas pensamos que a
Voyager finalmente deixou o Sistema Solar, e está realmente no início
das suas viagens pela Via Láctea," afirma Marc Swisdak, autor
principal de um novo artigo publicado esta semana na revista The
Astrophysical Journal Letters. Swisdak e colegas James F. Drake,
também da mesma universidade, e Merav Opher da Universidade de Boston,
construíram um modelo da orla exterior do Sistema Solar que encaixa
nas observações mais recentes, tanto esperadas como inesperadas.
O seu modelo indica que a Voyager 1 na realidade entrou no espaço
interestelar há pouco mais de um ano, um achado directamente oposto
aos recentes artigos publicados pela NASA e outros cientistas que
sugerem que a sonda está ainda numa zona de transição vagamente
definida entre a esfera de influência do Sol e o resto da Galáxia.
Mas porquê a controvérsia?
A questão está em saber como é o limite de cruzamento, a 18 mil
milhões de quilómetros de distância. A heliosfera é uma região do
espaço relativamente bem compreendida, dominada pelo campo magnético e
partículas carregadas emanadas pela nossa estrela. É desconhecida a
estrutura e localização da zona de transição da heliopausa. De acordo
com a sabedoria tradicional, ficaremos a saber se já passámos por esta
fronteira misteriosa quando pararmos de ver partículas solares e
começarmos a ver partículas galácticas, e também ao detectar uma
mudança na direcção predominante do campo magnético local.
Os cientistas da NASA divulgaram recentemente que no Verão passado,
após oito anos de viagem através da camada mais externa da heliosfera,
a Voyager 1 detectou "várias passagens por um limite diferente de tudo
o já observado anteriormente." Estes mergulhos sucessivos, e
posteriores recuperações, nas contagens de partículas solares, chamou
a atenção dos investigadores. Os mergulhos na contagem de partículas
solares correspondem a aumentos abruptos no número de electrões e
protões. Em cerca de um mês, estes números de partículas solares
desapareceram, e apenas permaneceram as contagens de partículas
galácticas. No entanto, a Voyager 1 não observou mudanças na direcção
do campo magnético.
Para explicar esta observação inesperada, muitos cientistas teorizam
que a Voyager 1 entrou numa espécie de "zona de esgotamento" do
invólucro heliosférico, mas que a sonda está ainda dentro dos limites
da heliosfera. Swisdak e colegas, que não fazem parte das equipas
científicas da Voyager 1, dizem que há outra explicação.
Em trabalhos anteriores, Swisdak e Drake focaram-se na reconexão
magnética, ou na quebra e reconfiguração de linhas do campo magnético.
É o fenómeno suspeito de se esconder no coração das proeminências
solares, nas ejecções de massa coronal e em muitos outros eventos
altamente energéticos e dramáticos do Sol. Os investigadores
argumentam que a reconexão magnética é fundamental para a compreensão
dos dados surpreendentes da NASA.
Embora muitas vezes descrita como uma bolha que contém a heliosfera e
o seu conteúdo, a heliopausa não é uma superfície que separa
perfeitamente o "fora" do de "dentro". De facto, Swisdak, Drake e
Opher afirmam que a heliopausa é porosa para certas partículas e que
tem uma complexa estrutura magnética em camadas. Aqui, a reconexão
magnética produz um conjunto complexo de "ilhas" magnéticas aninhadas,
laços independentes que espontaneamente surgem num campo magnético
devido a uma instabilidade fundamental. O plasma interestelar pode
penetrar na heliosfera ao longo das linhas de campo religadas, e os
raios cósmicos galácticos e outras partículas solares misturam-se
vigorosamente.
Ainda mais interessante é que a queda nas contagens de partículas
solares e os picos nas contagens de partículas galácticas podem
ocorrer através de "encostas" no campo magnético, que emanam dos
locais de reconexão, enquanto a direcção do campo magnético permanece
inalterada. Este modelo explica os fenómenos do Verão passado, e
Swisdak e colegas sugerem que a Voyager 1 ultrapassou a heliopausa no
dia 27 de Julho de 2012.
Num comunicado de imprensa da NASA, Ed Stone, cientista do projecto
Voyager e professor de física no Instituto de Tecnologia da
Califórnia, diz, em parte: "outros modelos vislumbram o campo
magnético interestelar envolto em redor da nossa bolha solar e prevêm
que a direcção do campo magnético solar é diferente da do campo
magnético solar no interior. Nessa interpretação, a Voyager 1 estaria
ainda dentro da nossa bolha solar. O modelo de conexão magnética
passará a fazer parte da discussão entre cientistas que tentam
conciliar o que pode estar a acontecer numa escala mais fina com o que
acontece numa escala maior.
Trinta e seis anos após os seus lançamentos em 1977, as gémeas Voyager
1 e 2 continuam a explorar onde nada da Terra voou antes. A sua missão
principal foi a exploração de Júpiter e Saturno. Depois de uma série
de descobertas - tais como vulcões activos na lua de Júpiter, Io, e
complexidades nos anéis de Saturno - a missão foi prolongada. A
Voyager 2 explorou Urano e Neptuno, e ainda é a única sonda a ter
visitado esses planetas exteriores. A missão actual das duas sondas é
explorar o limite exterior e para lá do domínio do Sol. Ambas as
Voyager são capazes de enviar dados científicos a partir de uma ampla
gama de instrumentos, com energia eléctrica e combustível suficiente
para se manterem operacionais até 2020.
Espera-se que a Voyager 2 entre no espaço interestelar alguns anos
após a sua sonda gémea.
Fonte: Núcleo de Astronomia do Centro de Ciência Viva do Algarve
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