ARLA/CLUSTER: Concurso, não é um jogo de trapaça

João Costa > CT1FBF ct1fbf gmail.com
Domingo, 25 de Março de 2012 - 21:32:58 WEST


Concurso (não importa a modalidade) como qualquer outra competição,
tem regras que devem ser seguidas. Por exemplo, a diferença entre
concurso via rádio e um jogo de cartas, é que os jogadores estão
separados e sozinhos. Então, não há ninguém para ver se ele está
puxando cartas da manga e levando vantagem sobre os demais.

A comunidade radioamadorística desenvolveu-se sobre fortes pilares de
lealdade, disciplina e honestidade que tornavam a nossa comunidade sui
generis. Uma comunidade na qual o respeito e confiança mútua permitia
que nós jogássemos às cartas à distância sem duvidar da honestidade
dos demais jogadores.

Um ambiente deste tipo é fértil para oportunistas. Então, são cada vez
mais frequentes as queixas sobre alguém que vendeu e não entregou,
comprou e não pagou, foi enganado aqui e acolá.

Lamentavelmente, o DXismo e os Concursos não estão imunes aos
oportunistas. Pessoas que acham que podem violar as regras porque não
tem ninguém olhando. Vejam o caso dos 'grongas' – para quem não sabe,
aqui no Brasil havia (ainda há, não sei) um consórcio com estações do
leste europeu para trabalhar figurinhas difíceis uns para os outros.
Esta prática foi IDENTIFICADA, os praticantes ADVERTIDOS, e ainda hoje
isso ocorre e quem está no rádio todos os dias sabe disso. Alguns
deixam de lado, pois assumem que o valor daquele papel na parede (DXCC
Award) tem valores diferentes. Cada um, e somente ele, sabe como foi
conquistado.

Mas o DXCC Award é um “jogo de soma não zero”. O DXista que conquista
um DXCC não tira a oportunidade de outro DXista em conseguir o mesmo
feito. Concurso é diferente.

Na seara dos Concursos, para alguém ganhar, alguém precisa de perder.
Isso chama-se “jogo de soma zero”. O forte crescimento que esta
modalidade experimentou nos últimos anos, também atraiu os
oportunidades de plantão.

Estes oportunistas em concurso são de dois tipos basicamente:
Trapaceiros e Mão-bobas. A comunidade internacional chama aos
trapaceiros de 'cheaters' (Cheat significa trapaça, logo, cheater quer
dizer trapaceiro), ou seja, em bom português 'trapaceiros'.
Felizmente, os trapaceiros formam uma minúscula minoria do total de
competidores.

Diferença entre um Trapaceiro e um Mão-boba:

“Trapaceiro é o competidor que deliberadamente e conscientemente usa
artifícios com o objetivo de ganhar. Geralmente, os trapaceiros estão
concentrados nas primeiras posições do resultado. Eles literalmente
tiram a oportunidade de quem está jogando limpo de conquistar algo
honroso.

Mão-boba é um conceito que eu criei estudando a 'Teoria dos Jogos'. Os
mão-bobas estão em todos os lugares do resultado do concurso. Eles
desafiam a capacidade dos organizadores para identificá-los e puni-los
nos concursos. O mão-boba leva pequenas vantagens durante a
competição, dando uma olhadela no DXCluster quando estão na categoria
Não-Assistido. Ele usa 200-300 Watts e declara-se como Low Power. Como
os recursos investigativos para identificar cada mão-boba seriam
enormes, os organizadores dos concursos acabam por deixar passar,
afinal, os mão-bobas geralmente não fazem um impacto significativo no
resultado geral, pois raramente entram no top 10. Contudo, localmente
(competições dentro de cada país) eles atrapalham bastante.

O CQWW e CQWPX já punem os trapaceiros com cartões amarelos ou
vermelhos. E estão cada vez mais de olho nos mão-boba porque todo o
trapaceiro já foi um mão-boba um dia.

Atualmente, os mão-bobas que usam alguma assistência externa e não se
declaram ASSISTIDOS, são identificados por método estatístico muito
confiável. Esse método foi criado pelo CT1BOH e é usado pelo CQWW e
CQWPX.

O mão-boda então é confrontado com a informação de que ele teria
cometido um erro ao declarar-se não-assistido. Ele tem a oportunidade
de mudar para a categoria correta. Quem se recusa a admitir que usou
ajuda externa e/ou não responde ao 'convite' do comitê do concurso,
permanecem na categoria errada, levando vantagem. Infelizmente, essa
lista dos que não admitiram o ‘erro’ não é divulgada, somente a listas
dos mão-boba que admitiram o ‘erro’ é que é publicada. Criando dessa
forma uma impressão de que o problema é muito menor do que realmente
é.

O próximo passo, e mais difícil de todos, é identificar quem está com
potência acima do permitido.

Um projeto que já está sendo usado é gravar todo o espectro das bandas
durante os grandes concursos usando SDRs localizados em várias partes
do mundo. Então, os organizadores poderão fazer testes comparativos de
sinal para determinar abuso de potência. Os SDR podem gravar a banda
inteira. Depois, com o arquivo digital, pode-se literalmente voltar
atrás no tempo, até ao momento do concurso e sintonizar em qualquer
frequência para comparar sinais.

No mundo ideal que todos nós gostaríamos que existisse, haveria
somente pessoas perfeitas, situações harmoniosas e puras. Essa visão
paradisíaca é utópica, pois vivemos em um mundo real, com pessoas
reais, que acertam, erram, jogam, mentem e trapaceiam. Portanto, como
uma forma de autopreservação, a nossa comunidade que se desenvolveu
sobre nobres sentimentos de confiança mútua, está mudando para não ser
explorada por oportunistas.

Fonte: Luc, PY8AZT em DXBrasil (
http://www.dxbrasil.net/wp/artigo/conteste-nao-e-um-jogo-de-trapaca/)
(adaptado a Portugal por João Costa (CT1FBF))




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