ARLA/CLUSTER: Radioamadores: Onze faróis portugueses passaram o fim-de-semana no ar
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Terça-Feira, 21 de Agosto de 2012 - 08:40:54 WEST
Por Marta F. Reis, publicado em 20 Ago 2012 - 03:10 | Actualizado há 1
dia 5 horas
Hobby centenário está vivo e recomenda-se. Evento mundial teve recorde
de portugueses
“Quando estiverem boas condições para comunicar com EUA e Canadá é
que vai ser. São loucos. Às vezes até fazem fila, como se fossem
aviões para aterrar.” José Araújo e António Claro, locutor e
informático, tentam explicar a paixão que este fim-de-semana levou
radioamadores a ocupar 471 faróis e barcos faroleiros em todo o mundo,
enquanto se desdobram em lições sobre frequências e propagação
electromagnética. O mundo do radioamadorismo não é para leigos (ou
para leigos sem aulas de física desde o 9.o ano), mas o entusiasmo
contagia. Se o hobby vai somando anos despercebido, acaba de acusar
alguma vitalidade: a participação portuguesa num dos maiores eventos
da classe, o International Lighthouse and Lightship Weekend (IILW),
bateu este ano o recorde. Houve rádios em onze faróis e geralmente não
passam de meia dúzia.
Com arames e canas de pesca, o grupo de amigos radioamadores da zona
do Porto montou uma antena no farol da Boa Nova, em Leça da Palmeira.
Como ninguém ligava um rádio no farol desde 1995, era de esperar um
tráfego acima da média. Pelas 18h somavam 80 emissões. Entre a maioria
de europeus, à força das condições atmosféricas, havia dois mais
remotos: Gronelândia e Marrocos.
O alfabeto fonético é obrigatório. Começam pelo indicativo criado para
o farol – Charlie Romeo 5 Lima (CR5L) – mas cada um tem a sua
matrícula, um indicativo pessoal e intransmissível. “Geralmente não se
conversa. Às vezes até trocamos mais informações técnicas, sobre que
equipamento se está a usar. Isto é mais um jogo, de tentar aperfeiçoar
a técnica para emitir”, explica Claro, de 48 anos. Na bagagem de 20
anos de radioamador tem uma emissão para a estação russa MIR. “Não é
estar aqui e aparecer um astronauta, é planeado. É preciso esperar
pela aproximação do satélite e emitir em frequências específicas, UHF
ou VHF. Temos colegas que têm falado para a estação internacional. Com
as condições certas, até dá com um walkie-talkie.”
Em desafios como o ILLW coleccionam emissões para lugares onde
geralmente não há ninguém, daí o empenho em ir rodando de farol todos
os anos. O troféu chega na forma de um postal por cada emissão,
explica Araújo, 47 anos, radioamador desde 1986. Em casa já guarda
mais de 300 e tem um mapa com todos os destinos assinalados com
alfinetes. Num universo de 6000 radioamadores portugueses – dos quais
mil serão “praticantes” – cada um acaba por ter a sua onda, adianta.
Uns vão ao detalhe de coleccionar estados, outros só emitem em morse.
Outros ainda, mais velhos, usam o rádio como telefone. “Há dez anos
era comum apanharmos alguém em Angola ou Brasil que nos dava um número
para ligarmos a um familiar a dizer que estava tudo bem. O fascínio é
podermos continuar a comunicar com tecnologia que já existia há 100
anos.”
Mais do que um aumento de radioamadores, a vontade de desafio poderá
explicar a adesão ao ILLW. “Isto acaba por ser um bocado rotineiro,
por isso gostamos destas novas iniciativas, de vir para faróis e ilhas
desertas em vez de ficar em casa a emitir”, brinca Paulo Teixeira,
jornalista de 47 anos. Em 2008 estiveram nas ilhas selvagens e há 15
dias rumaram às Berlengas para outro evento do género, a competição
Islands on the Air. Teixeira é dos três o mais viciado, ou afincado.
Todos os dias, pelas 7h30, liga o rádio e fica por lá à escuta meia
hora enquanto bebe o café. É o jogging? “É o meu jogging”, ri.
Fonte: ionline
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