ARLA/CLUSTER: Manual para a recepção da TDT em Portugal

João Costa > CT1FBF ct1fbf gmail.com
Sexta-Feira, 30 de Dezembro de 2011 - 11:17:37 WET


FREQUÊNCIAS ACTUAIS (Mux A):

Continente:
Canal 56 - 754 MHz (754 000 kHz)

Madeira:
Canal 54 - 738 MHz (738 000 kHz)

Açores:
Canal 47 - 682 MHz (682 000 kHz) - (Ilha de São Jorge)
Canal 56 - 754 MHz (754 000 kHz) - (Ilha do Pico)
Canal 48 - 690 MHz (690 000 kHz) - (Ilhas de S. Miguel e Graciosa)
Canal 49 - 698 MHz (698 000 kHz) - (Ilha do Faial)
Canal 54 - 738 MHz (738 000 kHz) - (Ilha Terceira, S. Maria, Flores e Corvo)

Lista  Oficial de Emissores de TDT no Continente, Madeira e Açores
(actualizada a 20/Dezembro/2011)
http://www.fileden.com/files/2009/3/22/2375024/tdt-portugal-lista-emissores.pdf


Falhas na recepção da TDT têm origens múltiplas

Desde que arrancaram as emissões de Televisão Digital Terrestre, as
questões relacionadas com a recepção do sinal têm motivado um
interesse crescente, o que é compreensível. A tecnologia utilizada é
bastante mais exigente quanto à qualidade das instalações de recepção
e coloca novos desafios aos técnicos instaladores. Embora o blogue TDT
em Portugal não seja um consultório técnico, tenho dedicado vários
posts aos assuntos mais técnicos tentando utilizar uma linguagem o
mais acessível possível. Muitos leitores e instaladores têm partilhado
experiências, muitas vezes queixando-se de problemas na recepção do
sinal. Muitos mostram-se decepcionados, pois dizem que, “afinal não é
só ligar e já está, como diz a publicidade”.

Como tenho escrito, as causas dos problemas podem ser de vária ordem e
muitas vezes não têm origem na emissão de TDT mas sim nos sistemas de
recepção que não estão devidamente adaptados ao novo sinal. Muitas
antenas são simplesmente instaladas “a olho”, orientadas para o
emissor mais próximo quando em muitos casos o emissor mais próximo não
é a melhor opção. Noutros casos simplesmente não há condições para se
obter uma recepção fiável e a solução é a recepção da TDT por
satélite. No entanto, de facto, algumas falhas na recepção do sinal
TDT têm origem na rede de distribuição/emissão do sinal. Estas falhas
traduzem-se em pixelizações e congelamento da imagem(*) ou até à
interrupção momentânea da emissão. Importa dizer que não existe uma
rede perfeita, as falhas fazem parte da equação.

A rede de TDT utilizada em Portugal é operada e propriedade da PT
Comunicações. No Continente e na Madeira foi adoptada a tipologia SFN
(rede de frequência única), o que significa que todos os emissores
utilizam a mesma frequência (canal 56 no Continente e canal 54 na
Madeira). Este facto apresenta vantagens mas também algumas
desvantagens importantes! A vantagem principal reside no facto de se
poupar imenso espectro, pois apenas se utiliza um único canal de
emissão. No entanto, para que todos os emissores utilizem a mesma
frequência são necessários cuidados extremos no planeamento e execução
da rede para que se garanta a máxima disponibilidade possível do
sinal, ou seja, para se conseguir uma recepção com o menor número
possível de falhas. Para que todos os emissores possam utilizar a
mesma frequência, o sinal é emitido obedecendo a um parâmetro chamado
“Intervalo de Guarda”, que permite a sobreposição de sinais
provenientes de vários emissores desde respeitem uma distância máxima
entre si, que no Continente é de aprox. 67Km.

Como disse, as falhas de sinal podem ter várias causas, tanto no lado
da recepção como no lado da emissão. A rede que vem sendo implementada
tem-me suscitado algumas reservas, nomeadamente relativamente à
localização escolhida e potência de alguns dos emissores,
especialmente na faixa do Litoral entre a Figueira da Foz e o Porto,
dado que é uma zona onde com alguma frequência (sobretudo no Verão) as
condições de propagação podem mais que duplicar o alcance dos
emissores, criando naturalmente interferências destrutivas que podem
impossibilitar a recepção correcta do sinal.

Já disse que na minha opinião esta rede teve por base essencialmente
critérios economicistas. Tenho guardado a maioria dessas reservas para
mim mesmo uma vez que a rede ainda não estava completa, o que parece
ser agora o caso. Recordo que a rede TDT obedece a um plano técnico
apresentado pela PTC na fase de concursos. A PTC deve cumprir esse
plano e, caso pretenda introduzir alterações, tem que as submeter à
aprovação da ANACOM. Ora, curiosamente, as potências de emissão dos
emissores TDT divulgadas pela ANACOM sofreram recentemente em muitos
casos aumentos significativos sem que haja conhecimento de algum
pedido nesse sentido e respectiva autorização por parte da ANACOM.
Como já comentei, isso não quer dizer que as potências tenham de facto
aumentado, pois pode dar-se o caso das potências anteriormente
divulgadas estarem erradas. Aliás, recebo vários emissores e não notei
variação na potência de emissão, embora isso também não seja garantia
absoluta que ela não tenha ocorrido. Caso tenham de facto ocorrido os
aumentos de potência relativamente ao plano inicial, sem que tenham
sido adoptadas outras alterações, isso terá forçosamente um impacto
significativo no comportamento da rede, especialmente tendo em conta o
que escrevi mais acima. Mas, como escrevi há muito tempo atrás, tão
importante como conhecer a localização e potência de emissão dos
emissores é conhecer o seu diagrama de irradiação, um dado que quer a
PTC quer a ANACOM não facultam.

Do lado da emissão as falhas podem ter várias origens: na cabeça de
rede (em Monsanto), na rede de distribuição e nos emissores. Falhas
com origem na cabeça de rede serão necessariamente propagadas por toda
a rede e serão reproduzidas em todos os equipamentos de recepção.
Falhas na rede de distribuição afectam a parte da rede imediatamente a
seguir ao local da falha. Uma falha num emissor afecta a zona servida
por esse emissor mas, consoante o tipo de problema, pode afectar
também outras zonas que o seu sinal alcance.

É convicção minha que muitos dos problemas de recepção têm origem em
falhas na rede de distribuição do sinal. Os emissores são alimentados
por rede de fibra óptica ou rádio frequência, consoante a
disponibilidade no site. Todos os emissores têm, num dado momento, de
emitir exactamente o mesmo conteúdo, bit por bit. Caso isso não
aconteça em algum emissor devido a uma falha momentânea na rede de
distribuição, perante a rede SFN o sinal desse emissor comporta-se
como sinal interferente, com efeito destrutivo, podendo naturalmente
afectar a recepção do sinal TDT em zonas abrangidas por outros
emissores, mesmo que elas ainda estejam dentro do intervalo de guarda!
Uma discrepância na configuração de um emissor pode também causar
efeitos semelhantes.

Naturalmente, são situações que requerem uma investigação meticulosa e
deveriam merecer a atenção da PTC e da ANACOM o que aparentamente não
tem acontecido. Dada a forma "trapalhona" como a rede tem sido
implementada não me surpreendia se não existisse qualquer tipo de
monitorização das emissões.

É aliás um problema que não afecta só as emissões TDT. A distribuição
do sinal de rádio da RDP é também da responsabilidade da PTC e tem
sofrido problemas semelhantes (embora parte da rede seja diferente)
que duram há vários anos, tendo eu também escrito a esse respeito.
Neste caso a RDP atira as responsabilidades para a PTC e a PTC atira
as responsabilidades para a RDP!

Volto a frisar que muitos dos problemas de recepção da TDT devem-se a
deficiências nas instalações de recepção dos telespectadores e podem
ser facilmente corrigidos. Apesar das falhas ocasionais, a qualidade
de imagem dos quatro canais (RTP1, RTP2, SIC e TVI) através da
recepção da TDT por antena terrestre é actualmente superior à
qualidade de imagem desses canais obtida através dos serviços de
televisão via satélite.

* estas falhas são muitas vezes causadas por interferências causadas
ao sinal no local de recepção.


Fonte: Blogue TDT em Portugal




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