ARLA/CLUSTER: RE: Notícias da AMRAD: Radiosport (radioamadorismo desportivo e competitivo)

João Gonçalves Costa joao.a.costa ctt.pt
Quinta-Feira, 2 de Setembro de 2010 - 19:21:54 WEST


Caros Colegas,

Como sabereis o maniqueísmo é uma filosofia dualística que divide o mundo entre o Bem e o Mal. A matéria é intrinsecamente má, e o espírito, intrinsecamente bom. Por sua vez o fundamentalismo acredita que somente os seus dogmas são a única verdade, sendo esta completamente absoluta, perfeita e indiscutível. 

Tentar analisar enviesadamente o radioamadorismo e em especial uma das suas vertentes, o desportivo e competitivo, é reduzir um vasto e multifacetado universo pluridisciplinar a algo que só pode ser parcelarmente mau. Se algo é perceptível nestes últimos anos nesta actividade, tão rica e variada, é que é de todo impossível determinar um modelo ou conceito único de se estar no Radioamadorismo. Por sua vez, as apregoadas e quiméricas fronteiras dos Amadores de Rádio e dos Radioamadores, nunca existiram objectivamente, excepto quiçá na mente de alguns.

Na minha opinião è algo profundamente redutor reflectindo claramente uma visão parcial e ultrapassada, mesmo maniqueísta e fundamentalista de uma vertente do nosso, não esquecendo, passatempo de radiocomunicações que tem também por objectivo a instrução individual e a intercomunicação; sendo notória uma conotação negativa dada aos concursos com a redução destes à simples e mera troca dos dados ... Esquecendo-se por exemplo, que complementarmente a área desportiva e competitiva é sem margem para duvida uma de entre várias, que mais ajudou a desenvolver tecnologicamente os equipamentos e acessórios no Serviço de Amador nas ultimas décadas.

Sendo verdade que o legislador nacional num esforço de modernização abriu o acesso a crianças com idade superior a 12 anos ao nosso passatempo, também não deixa de ser menos verdade que num exercício de conservadorismo incompreensível numa era actual de comunicação livre e aberta, deixou os menos jovens de idade superior a 16 anos, imputáveis legalmente, numa situação obrigatória que já não existia desde à muitos anos em Portugal, sendo inclusivamente contraria às próprias recomendações internacionais em que se baseia. 

Pensar que as nossas motivações para nos tornarmos Radioamadores, são as mesma da geração actual é não ver o obvio. Por sua vez, apontar um caminho como sendo o único e ideal a ser sempre percorrido em detrimento de outros, é esquecer que precisamos urgentemente de uma nova atitude. Insistirmos que o que nós conhecemos e gostamos na rádio é o que se deve perpetuar imutável, é não ver que o interesse da actual geração com os seus conhecimentos científicos e competências tecnológicas é mais de cariz audiovisual onde as novidades acontecem sempre e cada vez mais rapidamente. Creio que é dever dos mais experientes e das suas associações disponibilizar os recursos, apoios e as tecnologias, mas deixarmos os jovens e os menos jovens a manifestar-se sem limitações.

Convém por essa razão frisar mais uma vez que, apesar de estarmos divididos por categorias, somos antes de tudo iguais e importantes ao Serviço de Amador, dignos do mesmo respeito, pois não podem haver nunca à partida Radioamadores de primeira e Radioamadores de segunda.


João Costa, CT1FBF   

-----Mensagem original-----
De: cluster-bounces  radio-amador.net [mailto:cluster-bounces  radio-amador.net] Em nome de João Gonçalves Costa
Enviada: quinta-feira, 2 de Setembro de 2010 13:31
Para: 'Resumo Noticioso Electrónico ARLA'
Assunto: ARLA/CLUSTER: Notícias da AMRAD: Radiosport (radioamadorismo desportivo e competitivo) 

 O termo Radiosport é moderno e de origem ocidental, recorrentemente usado para descrever as múltiplas actividades desportivas e competitivas que hoje se inserem no Radioamadorismo. Foi a abertura do comércio e indústria da electrónica que permitia a partir dos anos de 1980 o acesso rápido a novas práticas ocupacionais e desportivas ligadas com a rádio e radiocomunicações, assim como as telecomunicações celulares e a informática que se banalizaram a partir do ano 2000. 
Centenas e centenas de milhares de cidadãos em todo o mundo, tem hoje acesso a dispositivos de rádio e radiocomunicações que antes dos anos de 1980 lhes estavam vedados, em parte, pela complexidade tecnológica, depois pelos preços, e ainda, pela necessidade de possuírem competências técnicas essenciais à construção e exploração dos meios radioeléctricos.

A definição e os objectivos maiores do Radioamadorismo como cultura científica e serviço público não mudaram em mais de um século, contudo, as administrações europeias das radiocomunicações facilitaram recentemente o acesso das crianças, de jovens e adultos ao que se denomina de Serviço de Amador, o serviço emissor dos postos de amador, popularmente chamados dos radioamadores.

Neste contexto o radiosport ou o radioamadorismo desportivo e competitivo é cada vez mais praticado por desportistas animados pela pura competição, a maioria não se importa sequer em dominar tecnologias radioeléctricas, grande número não estuda, nem se qualifica para o conhecimento técnico e científico da Rádio, apenas querem ter acesso às radiocomunicações ionosféricas, aceder aos meios de rádio dos postos de amadores, para poderem falar com lugares indeterminados situados em todo o mundo. Querem fazer ligações, numa cadência com elevado número de comunicações bilaterais feitas através da rádio, que lhes permitem em escassos segundos apenas, fazer troca do indicativo da estação (o prefixo do país e o sufixo da estação) e ainda a troca de um número de série, o número que os colocará no topo da competição, em troca, enviam postais de QSL (confirmação), com os quais lhes é depois permitido adquirir troféus, as taças e diplomas dos concursos em que participam. 


Complementarmente, outros praticantes dedicam os seus tempos livres ao radioamadorismo de base tecnológica e científica, outra versão do Radioamadorismo onde raramente se fala, a versão histórica e original do operador amador das radiocomunicações, daqueles que há mais de um século, estudam, constroem e exploram os seus meios radioeléctricos, tentando através deles, fazer ligações, mas sem entrar em concursos nem fazer competição pelo número de QSO, mas tão somente, pelo alcance, pela qualidade dessas radiocomunicações e pelos meios técnicos e disciplinas que exploram e aprendem.

Na recente legislação nacional que permite o acesso à instalação e exploração de um posto emissor do serviço de amador, Ver website do ICP-ANACOM e o Decreto-Lei n.º 53/2009 de 2 de Março onde o legislador nacional num esforço de modernização estrategicamente concertada abriu o acesso a crianças e jovens com idade superior a 12 anos. Tal como nos primórdios da Rádio, os jovens amadores manterão um período de auto-aprendizagem, findo o qual, e depois de se candidatarem a novos exames, mas técnicos, poderão ter acesso a um posto emissor de rádio.
 
Esta situação tem sido questionada, mas é verdade que ela tenderá a consolidar o gosto e a determinação de prosseguir, apenas com todos aqueles que na verdade se interessam e investem no conhecimento das ciências radioeléctricas, filtrando de certo modo, o acesso populista de quem apenas, por dispor de recursos financeiros, tenderia a fazer da Rádio e do Serviço de Amador mais um vulgar espaço de consumo e exibição ao invés da cultura do conhecimento científico e competência tecnológica. 

Definição:

Serviço de amador - serviço de radiocomunicações que tem por objectivo a instrução individual, a intercomunicação e os estudos técnicos efectuados por amadores; 


Fonte:AMRAD - Associação Portuguesa de Amadores de Rádio para a Investigação Educação e Desenvolvimento.




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