ARLA/CLUSTER: Radioamadorismo Desportivo e Competências Tecnológicas.

João Gonçalves Costa joao.a.costa ctt.pt
Quarta-Feira, 4 de Agosto de 2010 - 13:48:52 WEST


 Há 100 anos atrás, até aos anos de 1970, os amadores da Rádio ou radioamadores seniores e jovens estudavam em conjunto, construíam e integravam os seus próprios equipamentos e sistemas de rádio. Só depois da massiva industrialização dos equipamentos de electrónica e telecomunicações, que ocorre por voltas dos anos de 1980 é que os rádios para o serviço de amador se tornam acessíveis, facilitando o acesso individual às Radiocomunicações como nunca antes tinha ocorrido, outrora limitado pelos aspectos cognitivos e elevados graus de competência técnica e científica que lhes eram individualmente exigidos.

Assim, o radioamadorismo tornou-se cada vez mais pluridisciplinar, e uma parte do radioamadorismo comunicativo, evolui mesmo para o lado desportivo, dando origem ao rádio-desporto que é hoje uma prática recorrente, executada pela maioria dos titulares, por centenas de milhar de cidadãos, que mesmo não possuindo maiores qualificações técnicas e científicas, facilmente podem explorar as virtudes da radioelectricidade.

O rádio-desporto é uma actividade simples, facilmente praticada por uma criança a partir dos 10 ou 12 anos de idade, para tanto basta que dominem uma língua mais internacional. 

O objectivo é obter elevadas pontuações, contactando ao segundo o maior número de indicativos dessas estações correspondentes, imediatamente registadas num computador com uma numeração de série que lhe é atribuída e trocada entre os correspondentes, conseguindo obter numa simples hora, num dia ou fim de semana, centenas ou dezenas de milhares de contactos efémeros, de apenas alguns segundos cada um deles.

Não falam, não trocam ideais ou sequer sentimentos, nem conhecimentos ou experiências científicas, muitos não se sujeitam a exames técnicos e graus de qualificação, apenas comunicam entre si, deixando um rasto de numerais, na ânsia de competir, em busca de uma vitória, apenas desejam vencer e alcançar um número de topo, num qualquer primeiro lugar.

O acesso às máquinas de computação permitem que muitos operadores amadores de rádio, façam concursos competitivos em radiotelegrafia sem para tanto estarem treinados e qualificados, ao invés dos adestrados e bem treinados radiotelegrafistas civis e militares de outrora, que o faziam manualmente e com apurado ouvido telegráfico.

Mais rápida e eficaz que o SMS, a telegrafia manual foi legalmente retirada como uma disciplina mandatória das radiocomunicações telegráficas. Sendo um património da civilização humana, a telegrafia é hoje mantida por milhares de radioamadores e radiotelegrafistas das antigas gerações.

As modernas tecnologias tornam-se cada dia mais elaboradas e complexas sobretudo para os seus investigadores, os engenheiros e técnicos que as produzem. 
O uso da tecnologia foi banalizado aos olhos do vulgar consumidor dos produtos electrónicos, basta dispor de poder económico e motivação para a empregar, muitas vezes despidos de conhecimentos técnicos e até de cultura científica, variando apenas no consumo e diversidade dos produtos usados pelos comunicativos, facilitado pelo emprego da comunicação pela Internet. Motivos pelos quais tem diminuído o radioamadorismo desportivo, que crescia exponencialmente há 30 anos.

Em termos educativos e sociais, nada disso torna um país e um povo, competitivo, apenas consumidor. Nada disso torna um povo capaz, mais dotado de competências, apenas um utilizador havido de comprar e usar. Neste contexto, Portugal nem sequer possui industria neste sector, apenas comércio de importação de rádios e produtos electrónicos geralmente asiáticos.

Um assunto para se reflectir. Um cuidado a ter em conta no futuro das sociedades que se devem assumir como mais competitivas e tecnologicamente avançadas, dotadas de saber e competências, tendo por fim, o interminável concurso do desenvolvimento sustentável e do bem-estar social de todos.

A questão será, qual o modelo ocupacional e educativo a prosseguir, certamente que através do pluralismo e da interdisciplinaridade, mas mais focados na Cultura de Conhecimento que no recreio e lazer.


Fonte: AMRAD - Associação Portuguesa de Amadores de Rádio para a Investigação Educação Desenvolvimento.



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