ARLA/CLUSTER: Ouvir o 'Big Bang' na Pampilhosa nas com medo que os
javalis roam os cabos da antena.
João Gonçalves Costa
joao.a.costa ctt.pt
Sexta-Feira, 15 de Maio de 2009 - 13:09:06 WEST
Ouvir os murmúrios do 'Big Bang' na Pampilhosa
[http://www.av.it.pt/gem/GEM%20site%20PT/DSCN3237.JPG][http://aeiou.expresso.pt/iv/0/141/570/a5cb51bc.jpg][http://www.av.it.pt/gem/GEM%20site%20PT/DSCN3242.JPG]<http://www.av.it.pt/gem/GEM%20site%20PT/DSCN3237.JPG>
Ultimam-se os preparativos para a calibração das observações do satélite Planck no Radiotelescópio de Fajão, Pampilhosa da Serra, nas com medo que os javalis roam os cabos da antena.
A antena com nove metros de diâmetro foi colocada numa zona deserta em que as interferências são quase nulas.
Ouvir as origens do Universo. É esse o objectivo do projecto que levou à instalação de uma antena parabólica com nove metros de diâmetro na Serra do Açor, Pampilhosa da Serra, para escutar emissões de rádio e de microondas provenientes da Via Láctea.
A iniciativa é liderada internacionalmente por George Smoot, da Universidade da Califórnia em Berkeley, EUA, prémio Nobel da Física em 2006. O principal objectivo do Projecto GEM (Galactic Emission Mapping - Cartografia da Emissão Galáctica) é disponibilizar dados para um estudo mais detalhado da radiação cósmica de fundo, considerada pelos cientistas um fóssil do 'Big Bang' - teoria segundo a qual o universo surgiu de um estado muito quente e denso, há 13,7 mil milhões de anos. Em particular, os astrofísicos procuram estudar pequeníssimas variações na radiação cósmica de fundo, indicadoras do surgimento de grandes estruturas no universo, como os enxames e superenxames de galáxias.
A instalação deste pequeno observatório de radioastronomia teve em conta medições do espectro radioeléctrico em vários pontos do país. O local escolhido apresenta uma interferência de fontes de rádio quase nula - sem ser afectado por estações de rádio e televisão, rádio amadoras, redes de telemóveis e até pela proximidade de fornos caseiros de microondas ou por motores de motociclos.
Antes de vir para Portugal, o projecto GEM recolheu dados na Antártida, na Califórnia, na Colômbia, em Espanha e no Brasil. Foi então utilizada uma antena de cinco metros de diâmetro.
Em Portugal, o investigador principal, Domingos Barbosa, do Instituto de Telecomunicações de Aveiro, conseguiu o apoio logístico de várias empresas. A Portugal Telecom, por exemplo, cedeu uma antena de telecomunicações desactivada de maiores dimensões, que funcionou na base das Lajes, nos Açores. Conseguiu ainda o apoio da Câmara Municipal de Pampilhosa da Serra, que fez as terraplenagens. As verbas iniciais da Fundação para a Ciência e a Tecnologia mal cobriam as primeiras despesas.
"O que fica caro não é o projecto científico em si mas as infra-estruturais. Essa tem sido a nossa luta", diz Barbosa. A logística funcionará no ambiente bucólico da aldeia de Fajão, uma característica localidade de xisto das Beiras.
Curiosamente, uma das preocupações dos investigadores é que os javalis, que podem encontrar-se na região, não roam os cabos da antena.
A electrónica do receptor e várias partes mecânicas foram desenvolvidas e testadas em Portugal. Os seus responsáveis já capitalizaram a aposta ao serem convidados para o consórcio do maior radiotelescópio do mundo: o SKA (Square Kilometre Array, uma rede com um km2).
Este gigantesco sistema de 4000 pequenas antenas, semelhantes à de Pampilhosa da Serra, deverá ser instalado na África do Sul ou na Austrália, entre 2013 e 2020. As operações deverão ter início em 2015. Os promotores do SKA estão especialmente interessados nos desenvolvimentos e na experiência adquiridos pelo grupo português.
Os dados recolhidos pela antena do GEM Portugal serão também integrados no pacote utilizado pela Agência Espacial Europeia na calibração das observações do satélite Planck. O resultado esperado é uma melhor compreensão da origem do universo e do processo de formação das galáxias.
Antena ajudará NASA a calibrar Sonda Juno
Os dados do projecto GEM-Portugal serão ainda utilizados pela NASA para calibrar a sonda Juno, que partirá para Júpiter em 2011. Este veículo observará em detalhe o magnetismo, a gravidade e a química atmosférica do maior planeta do sistema solar. Em particular, a Juno deverá registar as auroras de Júpiter, usando frequências que o GEM operará brevemente e com resoluções comparáveis. A equipa foi contactada pelo Laboratório de Propulsão a Jacto, da NASA, uma vez que o GEM terá o céu e a galáxia cartografados com calibração quase absoluta. Durante o voo, a sonda rodará para fazer varrimentos circulares. Estes serão utilizados para calibrar a sonda.
Fonte: Jornal Expresso.
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