ARLA/CLUSTER: OFF TOPIC: O Sol saiu (relato de um Anónimo que está em Santa Catarina)

ARLA - Associação de Radioamadores do Litoral Alentejano cs1rla.arla gmail.com
Terça-Feira, 2 de Dezembro de 2008 - 06:24:41 WET


---------- Forwarded message ----------
From: Manuel Jesus
Date: 2008/12/1
Subject: OFF TOPIC: o sol saiu
To: ARLA - Associação de Radioamadores do Litoral Alentejano

Assunto:OFF TOPIC: o sol saiu

Encaminhando... de um anônimo, certamente de Santa Catarina

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Meus amigos,

Ontem 27 de Novembro de 2008 o sol saiu e conseguimos voltar a
trabalhar. A despeito de brincadeiras e comentários espirituosos
normais sobre esta "folga forçada" a verdade é que nunca me senti tão
feliz de voltar ao trabalho. Não somente pelo trabalho, pela
instituição e pela própria tranquilidade de ter aonde ganhar o pão,
mas também por ser um sinal de que a vida está voltando ao normal aqui
na nossa Itajaí.

As fotos que circulam na Internet e os telejornais já nos dão as
imagens claras de tudo que aconteceu então não vou me estender
narrando e descrevendo as cenas vistas nestes dias. Todos vocês já
sabem de cor. Eu quero mesmo é falar sobre lições aprendidas.

Por mais que teorias e leituras mil nos falem sobre isso ainda é
surpreendente presenciar como uma tragédia desse porte pode fazer
aflorar no ser humano os sentimentos mais nobres e os seus instintos
mais primitivos. As cenas e situações vividas neste final de semana
prolongado em Itajaí nos fizeram chorar de alegria, raiva, tristeza e
impotência. Fizeram-nos perder a fé no ser humano num segundo, para
recuperar-la no seguinte. Fez-nos ver que sempre alguém se aproveitará
da desgraça alheia, mas que também é mais fácil começar de novo quando
todos se dão as mãos.

Que aquela entidade superior que cada um acredita (D'us, Alá, Buda,
GADU etc.) e da forma que cada um a concebe tenha piedade daqueles:

- Que se aproveitaram a situação para fazer saques em Supermercados,
levando principalmente bebidas e cigarros

- Que saquearam uma farmácia levando medicamentos controlados,
equipamentos e cofres e destruindo os produtos de primeira necessidade
que ficaram assim como a estrutura física da mesma.

- Que pediam 5 reais por um litro de água mineral.

- Que chegaram a pedir 150 reais por um botijão de gás.

- Que foram pedir donativos de água e alimentos nas áreas secas pra
vender nas áreas alagadas.

- Que foram comer e pegar roupas nos centros de triagem mesmo não
tendo suas casas atingidas.

- Que esperaram as pessoas saírem das suas casas para roubarem o que restava.

- Que fizeram pessoas dormir em telhados e lajes com frio e fome para
não ter suas casas saqueadas.

- Que não sentiram preocupação por ninguém, algo está errado em seu coração.

- Que simplesmente fizeram de conta que nada acontecia, por estarem em
áreas secas.



Da mesma forma, que essa mesma entidade superior abençoe:

- Aqueles que atenderam ao chamado das rádios e se apresentaram no
domingo no quartel dos bombeiros para ajudar de qualquer forma.

- Os bombeiros que tiveram paciência com a gente no quartel para nos
instruir e nos orientar nas atividades que devíamos desenvolver.

- A turma das lanchas, os donos das lanchinhas de pescarias de fim de
semana que rapidamente trouxeram seus barquinhos nas suas carretas e
fizeram tanta diferença.

- À equipe da lancha, gente sensacional que parecia que nos
conhecíamos de toda uma vida.

- Aos soldados do exército do Paraná e do Rio Grande do Sul.

- Aos bravos gaúchos, tantas vezes vitimas de nossas brincadeiras que
trouxeram caminhões e caminhões de mantimentos.

- Aos incansáveis Radioamadores, sempre solícitos e diligentes, que na
hora do maior desespero, foram nossa única possibilidade de
comunicação com o resto do mundo.

- Aos cadetes da Academia da Polícia Militar que ainda em formação se
portaram com veteranos.

- Aos Bombeiros e Policias locais que resgataram, cuidaram ,
orientaram e auxiliaram de todas as formas, muitas vezes com as suas
próprias casas embaixo das águas.

- Aos Médicos Voluntários.

- Às enfermeiras Voluntárias.

- Aos bombeiros do Paraná que trabalharam ombro a ombro com os nossos.

- Aos Helicópteros da Aeronáutica e Exercito que fizeram os resgates
nos locais de difícil acesso.

- Aos incansáveis do SAMU e das ambulâncias em geral, que não tiveram
tempo nem pra respirar.

- Ao pessoal do Helicóptero da Polícia Militar de São Paulo, que
mostrou que longo é o braço da solidariedade.

- Ao pessoal das rádios que manteve a população informada e manteve a
esperança de quem estava isolado em casa.

- Aos estudantes que emprestaram seus físicos para carregar e
descarregar caminhões nos centros de triagem.

- Às pessoas que cozinharam para milhares de estranhos.

- Ao empresário que não se identificou e entregou mais de mil marmitex
no centro de triagem.

- A todos que doaram nem que seja uma peça de roupa..

- A todos que serviram nem que seja um copo de água a quem precisou.

- A todos que oraram por todos.

- Ao Brasil todo, que chorou nossos mortos e nossas perdas.

- Aos novos amigos que fiz no centro de triagem, na segunda-feira.

- A todos aqueles que me ligaram preocupados com a gente.

- A todos aqueles que ainda se preocupam por alguém..

- A todos aqueles que fizeram algo, mas eu não soube ou esqueci.



Há alguns anos, numa grande enchente na Argentina um anónimo escreveu isto:
COMEÇAR DE NOVO

Eu tinha medo da escuridão...
Até que as noites se fizeram longas e sem luz !

Eu não resistia ao frio facilmente...
Até passar a noite molhado numa laje !

Eu tinha medo dos mortos...
Até ter que dormi num cemitério !

Eu tinha rejeição por quem era de Buenos Aires...
Até que me deram abrigo e alimento !

Eu tinha aversão a Judeus...
Até darem remédios aos meus filhos !

Eu odiava meu vizinho radioamador...
Até que ele foi a única forma de saber o paradeiro de meus filhos !

Eu adorava exibir a minha nova jaqueta...
Até dar ela a um garoto com hipotermia !

Eu escolhia cuidadosamente a minha comida...
Até que tive fome !

Eu desconfiava de quem tivesse pele escura...
Até que um braço negro e forte me tirou da água !

Eu achava que tinha visto muita coisa...
Até ver meu povo perambulando sem rumo pelas ruas !

Eu não gostava do cachorro do meu vizinho...
Até naquela noite eu o ouvir ganir até se afogar !

Eu não lembrava os idosos...
Até participar dos resgates !

Eu não sabia cozinhar...
Até ter na minha frente uma panela com arroz e crianças com fome !

Eu achava que a minha casa era mais importante que as outras...
Até ver todas cobertas pelas águas !

Eu tinha orgulho do meu nome e sobrenome...
Até a gente se tornar todos seres anónimos !

Eu não ouvia rádio...
Até ser ela que manteve a minha energia !

Eu criticava a bagunça dos estudantes...
Até que eles, às centenas, me estenderam suas mãos solidárias !

Eu tinha segurança absoluta de como seriam meus próximos anos...
Agora nem tanto !

Eu vivia numa comunidade com uma classe política...
Mas agora espero que a correnteza tenha levado embora !

Eu não lembrava o nome de todos os estados...
Agora guardo cada um no coração !

Eu não tinha boa memória...
Talvez por isso eu não lembre de todo mundo

Mas terei mesmo assim o que me resta de vida para agradecer a todos
Eu não te conhecia. Agora você é meu irmão

Tínhamos um rio. Agora somos parte dele

É de manhã, já saiu o sol e não faz tanto frio. Graças a Deus

Vamos começar de novo.

Anónimo


É hora de recomeçar, e talvez seja hora de recomeçar não só
materialmente. Talvez seja uma boa oportunidade de renascer, de se
reinventar e de crescer como ser humano.

Pelo menos é a minha hora, acredito.

Que D'us abençoe a todos.


.Anónimo (um entre centenas que está em Santa Catarina)
__,_._,___


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