ARLA/CLUSTER: RE: Centro de Satélites de Sintra / REP /ARLA

karlus.pinheiro karlus.pinheiro sapo.pt
Quinta-Feira, 18 de Outubro de 2007 - 18:40:32 WEST


Caro Carlos Nora,

 

Sou ex-profissional do Centro de Satélites, tendo saído já em 1991 e
transitado nessa altura para a Direcção Comercial da então Marconi (CPRM).
Estou deste modo já um tanto desactualizado relativamente às técnicas mais
recentes (e que começam a ser imitadas pelos amadores com o D-Star, hihi…).

 

Não tenho particular aptidão, (para além da preguiça…) para a escrita, deste
modo contei ao CT1DT, Mário Portugal, um episódio que se passou comigo e
outros colegas à uns anos atrás nos satélites e que ele “romanceou” à
vontade dele, tendo sido publicado em tempos na QSP. Se quiser aproveitar
para o Boletim, tem toda a permissão, bem como reencaminhar para o
ARLA/CLUSTER.

 

Agradeço ainda ao colega João Costa, CT1FBF, as explicações relativamente ao
funcionamento do ARLA/CLUSTER.

 

As fotos que quiserem em alta resolução(CT1END e CT1AL), terão fazer o favor
de me indicarem os respectivos números pois têm +/- 1 MB cada e portanto
enviarei umas 7 por e-mail.

 

Aí vai então a tal história:

 

A Marconi findou os seus trabalhos em Portugal, em Dezembro de 2002.

Naturalmente que as estações de satélite e cabo, continuam a funcionar.

Como todos os satélites geoestacionários, um dos que serviam a Marconi,
estava ali algures sobre o Oceano Indico e, a essa distância de nós e de
Moçambique, as parabólicas tinham de fazer um fogo muito rasteiro, e que
rondava os 7º de elevação.

As comunicações entre Portugal e Moçambique, eram asseguradas por este
satélite.

Na Marconi, em Lisboa, havia uma duplicação de equipamento(redundância),
para assegurar em pleno estas comunicações.

Mas, em 1990, dá-se um colapso nestas comunicações, o que viria a por em
causa não só o equipamento usado em Moçambique, mas também o nosso em
Portugal, ou até no próprio satélite. Usava-se então a banda C (subida em 6
Ghz e descida em 4 Ghz).

Perante tal “confusão”, e podendo observar-se uma pequena portadora sobre a
frequência de Moçambique, logo se pensou que poderia ser originada naquele
país, mas contactada uma estação americana que também estava “na mira” do
mesmo satélite(o Centro de Controle em Washington), sobre o defeito que
estávamos a encontrar, de lá veio a informação de que estavam a monitorizar
a portadora de FDM de Moçambique em perfeitas condições…

Os nossos técnicos em Portugal, ficaram “apavorados” com esta “terrível”
informação dos EUA, porque obviamente empurrava para Portugal, todas as
culpas…

Nessa época, estava como Chefe de Manutenção do equipamento da Marconi, em
Portugal, o nosso colega CT1PT, Eng. Carlos Pinheiro, que logo iniciou todas
as tentativas para descobrir aquela “malfadada” interferência que estava a
observar no seu fabuloso Spectrum Analyzer, desligando todos os equipamentos
dispensáveis na Estação, mas sem que se verificasse qualquer melhoria. Era
de pôr os cabelos em pé !

Aquilo “tinha de vir de fora”, pensou ele, mas como??? com um feixe tão
apertado como tinha a sua colossal parabólica de 300 toneladas, 32 metros de
diâmetro e  65 dB de ganho nos 4,2 GHz. ?

 

O nosso colega viu-se numa tremenda confusão de opiniões com a sua chefia e
pensou que só haveria uma forma de detectar aquela interferência, mas para
tal, ele teria de ir para a rua com o Spectrum Analyzer que era alimentado
por 220VAC.

“Eu vou resolver este assunto”, pensou ele, e vai de procurar uma fonte
transistorizada que pudesse ser alimentada pelos 12V do carro, e se
aguentasse com o consumo do Scanner, o que veio a conseguir e, de imediato a
aparelhagem foi colocada no carro que iria servir de movimento ao Scanner,
nem que fosse 360º à volta da antena parabólica…  Com uma antena improvisada
como sonda…

 

O problema não era assim tão fácil quanto se pode pensar, porque no móvel,
ele não podia dispor duma antena com 65 dBs de ganho e se teria de contentar
com uma antena minúscula … A própria chefia considerava um projecto de
loucos…

Mas o Carlos é que não se deu por vencido e dada a sua já longa experiências
com equipamentos portáteis, não via neste trabalho, nada de atemorizante…

Estudadas criteriosamente as estradas(poucas) por onde se poderia movimentar
o carro, aí vai ele, mas só conseguia ver alguma alteração nas medidas,
quando se dirigia para o foco da antena que, como já referi, era de somente
7º, mesmo rés-vés ao solo.

“Mas que diabo !” pensou ele; naquela direcção só havia uma pequena colina,
onde se podia ver que havia algumas casinhas, ali a cerca de 3,5 Km de
distância, mas vai de procurar caminho para lá, e quando mais o carro subia,
mais potente era a interferência !

“Eureka ! “ , pensou o Carlos, isto é mesmo daqui, mas só havia umas casotas
insignificantes à vista.  Ali mesmo é que a interferência estava mesmo forte
!

Mas como não podia deixar de ser, e ao ver umas antenas de TV, logo pensou
que deveria de haver algum amplificador de antena de TV a auto-oscilar lá
por perto dos 600 MHz e que, devido às suas harmónicas, alguma viesse
acertar em cheio na frequência de Moçambique, e ainda por cima, com a
tremenda amplificação de 65 dB da parabólica, tantos estragos estava a fazer
há já dois dias !

Parou-se o carro à frente da casota e pediu-se à dona para desligar a
corrente da casota, tendo desaparecido de imediato a interferência.

Estava descoberta a origem e foi pedido à senhora para não voltar a ligar
aquele “malfadado” amplificador, até que a Marconi lhe oferecesse um outro
novo, o que veio a acontecer de imediato.

 

Espero que tenham gostado deste episódio pitoresco.

 73's do CT1PT

Carlos Pinheiro

 Sócio REP nº 1720

 

  _____  

De: Carlos Nora [mailto:carlosnora.ct1end  gmail.com] 
Enviada: quinta-feira, 18 de Outubro de 2007 9:53
Para: karlus.pinheiro
Assunto: Re: Centro de Satélites de Sintra / REP /ARLA

 

Prezado colega
A suas fotos chegaram e não houve qualquer congestionamento informático.
Como profissional do centro de satélites , convido-o a redigir um
pequeno/grande artigo para o boletim da REP, sobre relatos curiosos sobre
este assunto que nos levou a proporcionar uma visita ao Centro de Satélites.
Pois o local deverá proporcionar acontecimentos que poderão deste modo ser
recordados. 

73 e Obrigado
Carlos Nora, CT1END
NNNN



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