ARLA/CLUSTER: FW: [Astronovas] UM "FAROL" NOS CONFINS DO UNIVERSO

João Gonçalves Costa joao.a.costa ctt.pt
Terça-Feira, 13 de Novembro de 2007 - 14:46:00 WET


               Observatório Astronómico de Lisboa
   Centro de Astronomia e Astrofísica da Universidade de Lisboa

UM "FAROL" NOS CONFINS DO UNIVERSO

Com o auxílio do observatório espacial de raios-gama, Integral, uma equipa de astrónomos descobriu nos confins do Universo, um objecto intrigante descrito como um "farol" de raios-gama.

Conhecido pelo seu nome de catálogo IGR J22517+2218, o objecto foi descoberto este ano, embora a sua natureza tenha permanecido um mistério até agora. Isto não é uma situação fora do comum. De facto, cerca de 30% das fontes descobertas pelo Integral permanecem ainda por identificar. Embora os astrónomos possuam a certeza da existência de fontes celestes que "inundam" o espaço com raios-gama, a identificação destas fontes tem sempre de esperar por observações mais detalhadas em outros comprimentos de onda.

No caso do IGR J22517+2218, os cientistas ficaram surpresos quando o telescópio espacial Swift detectou este mesmo objecto em raios-X, revelando a sua posição com uma precisão muito maior do que aquela que pode ser alcançada nos raios-gama. Este objecto foi então identificado como sendo a já conhecida galáxia activa MG3 J225155+2217. Esta galáxia é o objecto celeste mais longínquo alguma vez detectado pelo Integral.

Para ver uma ilustração artística do observatório espacial de raios-gama Integral, consulte:
http://www.oal.ul.pt/astronovas/galaxias/farol1.jpg

Todas as galáxias activas possuem um buraco negro supermassivo com uma massa entre um milhão e vários milhares de milhões de massas solares. Estes monstros celestes possuem um campo gravitacional tão intenso que qualquer matéria nas redondezas é "engolida". Neste processo são libertadas enormes quantidades de energia.

As observações do Integral mostram que o IGR J22517+2218 liberta quantidades colossais de raios-gama à medida que vai "engolindo" matéria, a um ritmo de uma massa equivalente a todo o Sistema Solar em apenas alguns dias. As observações também indicam que este objecto pertence a um tipo especial de galáxias activas conhecido como blazar. Os blazares são o tipo de galáxias activas mais energético.

Para ver uma ilustração artística de um blazar, consulte:
http://www.oal.ul.pt/astronovas/galaxias/farol2.jpg

Os blazares são fontes de energia altamente variáveis e muito compactas, associadas a um buraco negro supermassivo. Uma das características dos blazares são os seus jactos relativistas (a azul na figura). Os blazares estão entre os fenómenos mais violentos no Universo.

Os dados obtidos pelo Integral revelaram alguns factos curiosos. Embora tenha sido possível classificar o IGR J22517+2218 como sendo um blazar, este objecto possui certas características consideradas peculiares. Em geral, os blazares possuem dois grandes picos de emissão. Em objectos aparentemente semelhantes ao IGR J22517+2218, um dos picos ocorre no comprimento de onda dos infravermelhos e é produzido pela radiação libertada quando os electrões se movem em espiral em torno das linhas do campo magnético. O outro pico ocorre no comprimento de onda dos raios-gama de alta energia e é produzido pelos mesmos electrões, quando estes colidem com fotões.

No caso do IGR J22517+2218, o objecto aparenta possuir apenas um pico. Este pico ocorre na banda dos comprimentos de onda dos raios-gama de baixa energia, ou seja, fora dos intervalos convencionais. Isto indica que, ou o pico no infravermelho foi deslocado para comprimentos de onda mais energéticos, ou o pico de raios-gama de alta energia foi deslocado para comprimentos de onda menos energéticos.

Em qualquer destes casos, quando a equipa de astrónomos responsável pela descoberta for capaz de compreender o significado deste fenómeno, terá em mãos algo que fornecerá uma maior comprensão acerca das galáxias activas e, em particular, dos blazares.

A equipa espera continuar a observação deste objecto em todos os comprimentos de onda, na tentativa de formar uma "imagem" completa da radiação emitida por este corpo celeste. Desta forma, será possível obter uma maior compreensão da forma como o buraco negro supermassivo, localizado no coração do IGR
J22517+2218, "devora" o seu meio circundante.


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