ARLA/CLUSTER: Banda dos 60m para utilização pelos Radioamadores.

João Gonçalves Costa joao.a.costa ctt.pt
Quinta-Feira, 8 de Novembro de 2007 - 18:22:32 WET


Prezados colegas,

No actual "mau estado" da propagação, muitas organizações internacionais de Radioamadores tem solicitado ás diferentes administrações a abertura de alguns canais na banda dos 5 MHz, principalmente para utilização em caso de emergência, recorrendo á nossa conhecida NVIS - Near Vertical Incident Skywave, ou Onda Incidente quase Vertical.

Efectivamente, no actual panorama de baixa actividade solar, muito raramente existe a possibilidade de contactos efectivos e capazes entre os 20 e 500 Km durante as 24H do dia e em especial durante o período diurno, recorrendo aos segmentos nas Bandas de 80 e 40m, pois a propagação NVIS, durante a maior parte do tempo, muito raramente se situa acima dos 5 ou 6 MHz nas latitudes geograficas médias, impossibilitando desta forma a utilização nos segmentos que nos são atribuídos primariamente.

O nome NVIS, vem do ângulo de irradiação, quase vertical 90º - ou seja, quase toda a energia é enviada para cima,  nas antenas usadas neste modo. A maioria das antenas utilizadas, são muito simples, caracterizando-se por Dipolos, Dipolos em V invertidos, Fios Compridos (tipo random Longwires) e Windoms, mono ou multibandas instaladas na maior parte, a menos de 5m do solo. A onda electromagnética é irradiada para cima, normalmente em ângulos situados entre 60 e 90º e retorna para a terra, cobrindo uma área de até 500 Km de diâmetro. Como a onda retorna num ângulo muito elevado, não há zonas de sombra que fiquem impossibilitadas de receber os sinais.

Tacticamente, isto faz da NVIS o modo por excelência para as comunicação militares em cidades e montanhas, assim como em áreas abertas. Ainda hoje este modo de comunicação é usado por exércitos de todo o mundo, ONG´s e outras organizações em HF, tanto em sistemas analógicos simples, como especialmente em sistemas digitais de dados e voz com a recurso a software para determinar a melhor frequência a utilizar a cada momento. Nestas condições, também é possível realizar contactos a distâncias maiores. Mas, nestes casos, será devido a componentes de ângulos mais baixos. Genericamente, em antenas montadas a altura menor que 1/4 de onda, o sinal em ângulos baixos(20º a 60º) tem potência menor que o sinal irradiado para cima(60º a 90º).

Portanto, dependendo das condições de propagação, em contactos locais e regionais, uma antena montada a baixa altura é sempre melhor, que uma antena montada a grande altura. Alias, a maior parte das antenas que instalamos em Portugal para os 40 e especialmente para os 80 e 160m recorrem sempre á propagação NVIS por razões obvias de facilidade de montagem.

Como tem sido verificado também em Portugal, em especial nos últimos simulacros e exercícios de comunicações de emergência, com a participação dos Radioamadores, durante o dia, a sede do CNOS - Comando Nacional de Operações de Socorro tem muita dificuldade de contacto com os diferentes CDOS - Centros Distritais de Operações de Socorro em HF.

Com o intuito de obviar estas situações, a IARU propõem durante a WRC-07 (World Radiocommunication Conference 2007) a criação de um segmento a nível mundial na Banda dos 60m atribuível aos radioamadores, tendo por base o já disponível em alguns países como, o Reino Unido, Islandia, Finlândia, Noruega, Canada, Estados Unidos e agora também na Irlanda.

Neste ultimo caso, e depois de se realizarem alguns estudos com a cooperação dos militares, profundos conhecedores da matéria, a Irish Radio Transmitters Society (IRTS) e o Regulador ComReg, foram definidas as seguintes frequências: 5280, 5290, 5400 e 5405 kHz. A máxima potencia a utilizar serão 23 dBW (aproximadamente 200 watts) utilizando antenas com um ganho próximo de 0 dBd. Existem também já instaladas 3 Radio-Balizas para estudos de propagação, em 5290 kHz (GB3RAL, GB3WES e GB3ORK) na Banda dos 60m.

Acho que este é um excelente exemplo de cooperação que, poderá ser muito útil em Portugal, tendo nós no nosso meio alguém como o Mariano(CT1XI) que é a todos os níveis um profundo estudioso e conhecedor destas matérias no aspecto militar.

João Costa
CT1FBF

PS - Existe um site, que normalmente utilizo com dados de propagação "quase" on-line para os contactos locais e regionais nas bandas referidas: http://www.ips.gov.au/HF_Systems/5/2








Mais informações acerca da lista CLUSTER