Re: ARLA/CLUSTER: O fim do petróleo - O grande desafio do século XXI

Miguel Pelicano miguel.pelicano gmail.com
Quarta-Feira, 7 de Novembro de 2007 - 15:03:01 WET


Boa tarde colega,

Vou enviar uns sites com alguma informação:

http://www.energiasrenovaveis.com/

http://www.forumenergia.eu/index.php

http://ec.europa.eu/energy/index_pt.html

http://www.adene.pt/ADENE.Portal

http://www.ecocasa.org/index2.php

Um abraço, 73

Miguel
CT1BYM

On Nov 7, 2007 9:37 AM, Carlos Pinheiro <karlus.pinheiro  gmail.com> wrote:
>
>
>
> Para meditar… li o livro citado e fiquei deveras preocupado… pelos vistos a
> actual escalada de preços do petróleo, veio para ficar…
>
>  Embora este tema não esteja directamente relacionado com telecomunicações,
> está-o com as energias alternativas de que necessitamos urgentemente !!!
>
> O petróleo é um recurso crucial; é fácil de transportar e de ser conservado
> sem se degradar; pode ser bombeado através de condutas; pode ser refinado
> para dar origem a outros tipos de combustível (gasolina, gasóleo, querosene,
> petróleo, combustível de aviação, etc.); armazena uma quantidade enorme de
> energia; está na base de quase todas as comodidades e vantagens da nossa
> vida, graças ao seu abastecimento fiável e barato, até inclusivamente, para
> a obtenção de formas alternativas de energia, nomeadamente a nuclear. Mal
> grado esta enorme dependência pensa-se pouco na situação; geralmente, apenas
> quando há crises petrolíferas e os preços sobem.
> A indústria petrolífera moderna é relativamente recente; foi lançada há
> menos de dois séculos, em 1859, quando foi descoberto petróleo, na
> Pensilvânia, a apenas 20 metros de profundidade. Quantas mais décadas vai
> durar nos termos actuais é questão para a qual há várias estimativas, mas
> nenhuma garantidamente segura; a única certeza é a de que, tratando-se de
> uma forma de energia não renovável, irá acabar um dia.
> Segundo os mais credíveis estudos, o momento em que se completará a
> extracção de metade da totalidade das existências, também designado por
> "pico global de produção" foi previsto para o período entre 2000 e 2008. A
> partir daí tudo se começará a complicar, embora ainda havendo muito petróleo
> no solo; o que foi extraído até então era o que estava mais acessível, o que
> era economicamente mais rentável, o de melhor qualidade e mais facilmente
> refinável. A rentabilidade do processo - a relação entre a energia investida
> para a sua obtenção e a energia obtida com o produto recolhido - tornar-se-á
> cada vez menos atractiva.
> Não será possível prever com rigor o momento do pico, mas calcula-se que
> acontecerá inevitavelmente neste século; surgirá certamente mais cedo do que
> o previsto alguns anos atrás se a procura continuar a aumentar com o
> crescimento económico das economias dos dois países mais populosos do mundo
> (chinesa e indiana). No entanto, esse pico não será imediatamente
> identificável; só será visível depois de ter passado, eventualmente apenas
> anos depois, ao longo de um período de travessia de uma espécie de um
> planalto com altos e baixos, em que os preços oscilarão inconclusivamente,
> em que os mercados viverão alguma turbulência e em que poderá começar a
> haver indícios de agitação militar. Será uma espécie de período intermédio,
> em que a distribuição poderá ter que passar a ser selectiva, para garantir
> principalmente os melhores clientes, isto é, os que puderem pagar mais; por
> essa altura começará a haver indícios de instabilidade nas economias e
> mercados. Depois a produção petrolífera declinará de forma acentuadamente
> crescente e virá a estagnação económica;  a austeridade instalar-se-á por
> toda a parte, mas em especial entre as populações que construíram o seu modo
> de vida à volta da disponibilidade de petróleo barato.
> Para quem tenha dificuldade em visualizar este desfecho, recorda-se que,
> nalgumas zonas, o pico já foi atingido; é o caso, por exemplo dos EUA que,
> segundo alguns geólogos, terão tido o pico de produção entre 1966 e 1972.
> Por essa altura, os EUA extraíam 11,3 milhões de barris por dia (6 milhões
> em 2004); de maior produtor e exportador a nível mundial durante grande
> parte do século XX, ("no início da segunda Guerra Mundial literalmente
> afogados em petróleo") passaram, a partir daí, a depender de importações que
> nunca mais pararam de aumentar.
> Para alguns mais optimistas, o engenho técnico do homem superará as
> limitações da realidade geológica do mundo, fazendo aparecer alternativas ao
> petróleo. Segundo estes, a identificação do pico do petróleo não vai
> interessar porque os sinais de mercado encarregar-se-ão de desencadear
> oportunamente a criação de novas tecnologias para produção de energias
> alternativas ou novas formas de extrair reservas que se julgavam não
> rentáveis economicamente.
> Porém, nada nos garante, bem pelo contrário, que a transição se processará
> de forma tão suave. Na verdade, "com base em tudo o que sabemos até agora,
> nenhuma combinação dos chamados combustíveis alternativos nos permitirá
> manter o nível de vida a que nos habituámos". Nem mesmo o "sonho do
> hidrogénio", que Bush veio prometer no discurso da União em 2003, mas que,
> na realidade, não é mais do que uma fantasia risível que tem a agravante de
> levar as pessoas a pensarem que não há razões de preocupação quanto ao
> futuro.
> Sem as enormes quantidades de petróleo barato que os EUA, e os países
> ocidentais que os seguem de próximo, têm desbaratado com a construção do
> actual esquema de vida, muita coisa terá que, inevitavelmente, mudar; logo a
> começar, ficará em causa a possibilidade de manter os enormes investimentos
> feitos na expansão suburbana, implicando um gasto enorme de petróleo em
> meios de transporte para as deslocações diárias para o trabalho (a opção de
> estilo de vida para mais de metade da população americana). Tal como as
> grandes herdades e as grandes empresas, as grandes cidades, concebidas
> essencialmente à volta do automóvel, deixarão de corresponder a um estilo de
> vida que, necessariamente, terá uma escala mais reduzida. O nosso mundo do
> dia-a-dia será definido em função das distâncias que possamos percorrer a
> pé. Desaparecerá o consumismo selvagem; a reparação e revenda de bens
> voltarão a ter uma enorme importância, aliás como acontecia há alguns anos
> atrás.
> A economia não poderá continuar a centrar-se nas actividades actuais; terá
> que se virar muito mais para a agricultura, que exigirá muito mais
> mão-de-obra; voltaremos ao passado. Não podendo usufruir das actuais
> disponibilidades de transporte, não será possível manter as mesmas cadeias
> de abastecimento; no campo da alimentação, tornar-se-á impossível manter um
> fluxo constante de abastecimento ao longo do ano de todos os tipos de
> alimentos e, obviamente, os preços subirão. Voltar-se-á a recorrer, como no
> passado, a animais de trabalho por não se dispor de energia abundante e
> barata para fazer funcionar as máquinas que tinham permitido poupar
> mão-de-obra (1,6% da população a trabalhar presentemente na agricultura, nos
> EUA, contra 30% há cem anos).
> É ainda possível que a falta de petróleo provoque uma agitação política de
> perspectivas extremamente sombrias. Veja-se o que aconteceu com os choques
> petrolíferos da década de setenta e o seu impacto nas economias, com uma
> subida geral de preços em flecha e reduções substanciais dos rendimentos
> pessoais.
>
> ***
>
> O petróleo é um recurso crucial; é fácil de transportar e de ser conservado
> sem se degradar; pode ser bombeado através de condutas; pode ser refinado
> para dar origem a outros tipos de combustível (gasolina, gasóleo, querosene,
> petróleo, combustível de aviação, etc.); armazena uma quantidade enorme de
> energia; está na base de quase todas as comodidades e vantagens da nossa
> vida, graças ao seu abastecimento fiável e barato, até inclusivamente, para
> a obtenção de formas alternativas de energia, nomeadamente a nuclear. Mal
> grado esta enorme dependência pensa-se pouco na situação; geralmente, apenas
> quando há crises petrolíferas e os preços sobem.
> A indústria petrolífera moderna é relativamente recente; foi lançada há
> menos de dois séculos, em 1859, quando foi descoberto petróleo, na
> Pensilvânia, a apenas 20 metros de profundidade. Quantas mais décadas vai
> durar nos termos actuais é questão para a qual há várias estimativas, mas
> nenhuma garantidamente segura; a única certeza é a de que, tratando-se de
> uma forma de energia não renovável, irá acabar um dia.
> Segundo os mais credíveis estudos, o momento em que se completará a
> extracção de metade da totalidade das existências, também designado por
> "pico global de produção" foi previsto para o período entre 2000 e 2008. A
> partir daí tudo se começará a complicar, embora ainda havendo muito petróleo
> no solo; o que foi extraído até então era o que estava mais acessível, o que
> era economicamente mais rentável, o de melhor qualidade e mais facilmente
> refinável. A rentabilidade do processo - a relação entre a energia investida
> para a sua obtenção e a energia obtida com o produto recolhido - tornar-se-á
> cada vez menos atractiva.
> Não será possível prever com rigor o momento do pico, mas calcula-se que
> acontecerá inevitavelmente neste século; surgirá certamente mais cedo do que
> o previsto alguns anos atrás se a procura continuar a aumentar com o
> crescimento económico das economias dos dois países mais populosos do mundo
> (chinesa e indiana). No entanto, esse pico não será imediatamente
> identificável; só será visível depois de ter passado, eventualmente apenas
> anos depois, ao longo de um período de travessia de uma espécie de um
> planalto com altos e baixos, em que os preços oscilarão inconclusivamente,
> em que os mercados viverão alguma turbulência e em que poderá começar a
> haver indícios de agitação militar. Será uma espécie de período intermédio,
> em que a distribuição poderá ter que passar a ser selectiva, para garantir
> principalmente os melhores clientes, isto é, os que puderem pagar mais; por
> essa altura começará a haver indícios de instabilidade nas economias e
> mercados. Depois a produção petrolífera declinará de forma acentuadamente
> crescente e virá a estagnação económica;  a austeridade instalar-se-á por
> toda a parte, mas em especial entre as populações que construíram o seu modo
> de vida à volta da disponibilidade de petróleo barato.
> Para quem tenha dificuldade em visualizar este desfecho, recorda-se que,
> nalgumas zonas, o pico já foi atingido; é o caso, por exemplo dos EUA que,
> segundo alguns geólogos, terão tido o pico de produção entre 1966 e 1972.
> Por essa altura, os EUA extraíam 11,3 milhões de barris por dia (6 milhões
> em 2004); de maior produtor e exportador a nível mundial durante grande
> parte do século XX, ("no início da segunda Guerra Mundial literalmente
> afogados em petróleo") passaram, a partir daí, a depender de importações que
> nunca mais pararam de aumentar.
> Para alguns mais optimistas, o engenho técnico do homem superará as
> limitações da realidade geológica do mundo, fazendo aparecer alternativas ao
> petróleo. Segundo estes, a identificação do pico do petróleo não vai
> interessar porque os sinais de mercado encarregar-se-ão de desencadear
> oportunamente a criação de novas tecnologias para produção de energias
> alternativas ou novas formas de extrair reservas que se julgavam não
> rentáveis economicamente.
> Porém, nada nos garante, bem pelo contrário, que a transição se processará
> de forma tão suave. Na verdade, "com base em tudo o que sabemos até agora,
> nenhuma combinação dos chamados combustíveis alternativos nos permitirá
> manter o nível de vida a que nos habituámos". Nem mesmo o "sonho do
> hidrogénio", que Bush veio prometer no discurso da União em 2003, mas que,
> na realidade, não é mais do que uma fantasia risível que tem a agravante de
> levar as pessoas a pensarem que não há razões de preocupação quanto ao
> futuro.
> Sem as enormes quantidades de petróleo barato que os EUA, e os países
> ocidentais que os seguem de próximo, têm desbaratado com a construção do
> actual esquema de vida, muita coisa terá que, inevitavelmente, mudar; logo a
> começar, ficará em causa a possibilidade de manter os enormes investimentos
> feitos na expansão suburbana, implicando um gasto enorme de petróleo em
> meios de transporte para as deslocações diárias para o trabalho (a opção de
> estilo de vida para mais de metade da população americana). Tal como as
> grandes herdades e as grandes empresas, as grandes cidades, concebidas
> essencialmente à volta do automóvel, deixarão de corresponder a um estilo de
> vida que, necessariamente, terá uma escala mais reduzida. O nosso mundo do
> dia-a-dia será definido em função das distâncias que possamos percorrer a
> pé. Desaparecerá o consumismo selvagem; a reparação e revenda de bens
> voltarão a ter uma enorme importância, aliás como acontecia há alguns anos
> atrás.
> A economia não poderá continuar a centrar-se nas actividades actuais; terá
> que se virar muito mais para a agricultura, que exigirá muito mais
> mão-de-obra; voltaremos ao passado. Não podendo usufruir das actuais
> disponibilidades de transporte, não será possível manter as mesmas cadeias
> de abastecimento; no campo da alimentação, tornar-se-á impossível manter um
> fluxo constante de abastecimento ao longo do ano de todos os tipos de
> alimentos e, obviamente, os preços subirão. Voltar-se-á a recorrer, como no
> passado, a animais de trabalho por não se dispor de energia abundante e
> barata para fazer funcionar as máquinas que tinham permitido poupar
> mão-de-obra (1,6% da população a trabalhar presentemente na agricultura, nos
> EUA, contra 30% há cem anos).
> É ainda possível que a falta de petróleo provoque uma agitação política de
> perspectivas extremamente sombrias. Veja-se o que aconteceu com os choques
> petrolíferos da década de setenta e o seu impacto nas economias, com uma
> subida geral de preços em flecha e reduções substanciais dos rendimentos
> pessoais.
>
> ***
>
> A tese, atrás resumida, sobre o fim próximo do petróleo e as implicações
> sociais, políticas e económicas que daí resultarão, não é minha; pertence a
> James Howard Kunstler, autor de três ensaios e nove romances, e com artigos
> publicados no The Atlantic Monthly e o The New York Times Magazine. Está
> desenvolvida no seu recente livro com o título "The Long Emergency –
> Surviving the Converging Catastrophes of the Twenty-First Century"[1].
> É uma visão algo catastrófica que é interessante comparar com as
> perspectivas, geralmente optimistas, de que serão encontradas soluções
> energéticas alternativas. Um recente relatório da União Europeia sobre a
> "Segurança Energética e a Cooperação Transatlântica", que assume claramente
> a realidade do mundo pós-petróleo, no Século XXI, aponta para um futuro bem
> diferente: que a Europa em 2010 estará já apta a satisfazer 12% das suas
> actuais necessidades energéticas e cobrir mais de 20% da procura de
> electricidade através de energias renováveis.
> Curiosamente, em relação às potencialidades do hidrogénio – que, como vimos
> acima, James Kunstler recusa liminarmente - o relatório europeu aponta a
> European Hydrogen & Fuel Cell Technology Plataform de 2004, como o
> projecto-demonstração mais bem-sucedido no mundo, permitindo um sistema
> público de transportes, sem emissões nem ruído, de que já beneficiam 3
> milhões de europeus. Energia eólica e os bio-combustíveis, entre outras
> formas de energia, são também apontados como histórias de sucesso, a
> contribuir crescentemente para a redução da nossa dependência do petróleo.
> Ninguém pode garantir, para já, quem está mais perto da realidade futura: se
> James Kunstler, com a sua visão extremamente pessimista, se os crentes
> confessos de que as energias alternativas, presentemente sob investigação e
> desenvolvimento, irão preencher a lacuna resultante do esgotamento das
> reservas petrolíferas. Por esta razão é que o livro de Kunstler é oportuno e
> merecedor de leitura por parte de quem se interessa por este assunto,
> certamente um dos maiores desafios que nos esperam ao longo deste século. No
> mínimo, é um excelente contributo para lembrar a indispensabilidade de
> investir mais na procura de novos recursos energéticos.
> Da minha parte, tenho uma certeza: a de que o tema da segurança energética –
> entendida como garantia de acesso, em condições razoáveis de preço, a fontes
> de energia - veio para ficar como uma questão central que já está e vai
> continuar a dominar as relações internacionais.
>
> [1] Título em português: "O Fim do Petróleo – O Grande Desafio do Século
> XXI".
>
>
> Carlos Pinheiro
>
>
>
>
> CT1PT
>
>
> _______________________________________________
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