ARLA/CLUSTER: Acima de tudo um radioamadorismo plurar.

João Gonçalves Costa joao.a.costa ctt.pt
Segunda-Feira, 27 de Novembro de 2006 - 15:01:21 WET


Prezado Miguel-CT1ETL.

Bom, depois do que escreveu o Mariano deixou muito pouco para que eu pudesse contra-argumentar a tua posição.

Basicamente faça minhas as suas palavras. Também eu desejo um radioamadorismo PLURAR onde várias vertentes possam coexistir. 

Durante estes anos já escrevi, penso eu, mais que o suficiente sobre o actual regulamento e muitas das polémicas á sua volta; sempre fui absolutamente contra a utilização do CW como prova iliminatória.Sempre o considerei como um modo muito eficiente, mas não mais que isso, um MODO, entre outros. Alias, já em 1995 e pelo que estava exposto, a existir algum modo que necessitaria de exame prévio, esse seriam os referentes ás comunicações digitais, tal a sua abertura e profusão naquela altura ao nível da portaria regulamentar.

Não desejo um radioamadorismo virado para somente a vertente técnica ou cientifica, mas também não abdico dela. 

Muitos dos que realizaram bem ou mal o exame para a categoria "A" fizeram-no muito mais pelos privilégios que advinham dai em termos de frequências e potências autorizadas, que genuinamente pelo seu interesse técnico em explorar o que quer que fosse.

Em Portugal e devido a muitas vicissitudes conseguimos gerar no nosso seio expoentes máximos a nível mundial nas duas primeiras vertentes, técnico/cientifica e desportiva e quiçá, também na restante, Radioamadorismo de Lazer e Tempos Livres. Penso que actualmente e na minha percepção  tenho que 80% do radioamadorismo nacional e internacional activo está nesta vertente,15% na desportiva e os restantes 5% na parte técnico/cientifica. Obviamente que existem sobreposições e nada é estanque e que terá de existir o mínimo de conhecimentos técnicos radioeléctricos.

Um exemplo; á cerca de 3 anos assiste a uma conferencia onde o CT1BOH era palestrante e naquela altura e já conhecendo o seu brilhantíssimo  palmares desportivo mundial pensaria que o aliava a uma solida vertente técnico/ pratica; Não, como várias vezes o José Carlos referiu durante a conferencia não percebia nada de técnica e inclusivamente disse-nos que se um fusível no interior do radio queimasse durante o concurso provavelmente teria ali acabado a sua participação.

Conheço também exactamente o contrário, grandes técnicos que não vêem o mínimo interesse na vertente desportiva, sendo por vezes incapazes de entrar num concurso pois acham a questão muitíssimo complicada e exigente.

Não posso estar mais de acordo com esta frase basilar  " inserir toda esta diversidade de saberes, de conhecimentos e competências, e que são tão vagos e  multifacetados, no mesmo pacote legislativo, com regras, com deveres e com direitos iguais para todos os amadores, quando todos são afinal tão diferentes ». 

Aqui está um desafio a ser ganho e ponderado por todos nós. Para mim um radioamador ideal actual é aquele que têm um espirito renascentista na era digital.

João Costa
CT1FBF


-----Original Message-----
From: cluster-bounces  radio-amador.net
[mailto:cluster-bounces  radio-amador.net]On Behalf Of Miguel Andrade
Sent: sexta-feira, 24 de Novembro de 2006 22:54
To: Resumo Noticioso Electrónico ARLA
Subject: RE: ARLA/CLUSTER: também os 70MHz..


Olá João e restantes colegas,

E eu a escrever à pouco que ia fazer um pouco de rádio hoje...
Não posso deixar de dar resposta a esta tua intervenção no tópico a fim de
expressar aquilo que penso.
Antes disso gostaria de deixar muito bem claro que quando elaborei o meu
ponto de vista não conhecia tão profundamente o processo como tu.
Mesmo assim aqui vai disto :

JC - Todas as propostas têm de ser fundamentadas e normalmente residem no
Estudo da Propagação. E ao que sei não existem assim tantas propostas como
se possa pensar para uma "rigorosa fase de selecção e triagem".

MA - O que é que se entende como Estudo da Propagação ?
Só esta definição dará muito para escrever e pode englobar actividades mais
lúdicas como o DX " desportivo ".
Escrevi um artigo sobre a minha participação no Concurso " Dia da Marinha
Portuguesa " onde faço referência ao facto de ninguém se ter lembrado de
fazer um informal estudo sobre a propagação. Afinal as regras permitiam
contactos com as mesmas estações em determinada faixa de hora a hora.
Por outro lado, para se estudar a propagação pode-se usar apenas a escuta de
outros serviços, ou não ?
Algumas emissões são autênticas radiobalizas em emissão 24 horas por dia,
365 dias por ano.
Caso nessas frequências não existam de facto outros serviços, a pergunta que
se coloca é a seguinte... haverá mesmo necessidade de se procederem a "
estudos da propagação " em frequências abaixo dos 1.000 MHz ?
Quando muito haverá sim espaço para « estudos sobre o comportamento dessas
frequências sob certas formas de propagação conhecidas » mas... sob o efeito
ou influência de condições extraordinárias.
Ainda assim, com as minhas desculpas pela ignorância, não existirá nas
faixas atribuídas ao Serviço de Amador um vasto campo para esta prática ?
Que particularidades únicas poderão existir em frequências entre 1.600 KHz e
1,3 GHz fora das faixas atribuídas ao Serviço de Amador que não possam ser
simuladas e estudadas nas frequências mais próximas dos nossos próprios
segmentos ?
Não digo que não existam, peço é que demonstrem aqui quais são com exemplos
práticos e qual a sua justificação científica para serem estudadas num lado
e não no outro.
Há no entanto um fértil campo à nossa espera com profundas fundamentações
científicas noutro tipo de projecto que vai para além dos " estudos da
propagação ".
Na faixa dos 137 KHz, por exemplo, o estudo de antenas é tão emocionante que
os desafios de eficácia e de rendimento darão por certo matéria para várias
teses de Mestrado sobre antenas mais eficazes. Quem sabe se para converter a
ineficácia monstruosa das antenas do Serviço de Amador utilizadas em Ondas
Longas não se descobre algo de novo ? ( só não me atrevo é a dizer o quê
porque já várias vezes fui ridicularizado pela minha " ficção científica
" ).
Isto é só um exemplo prático de como não encontramos noutra frequência
atribuída ao Serviço de Amador as mesmas condições " extremas " para
trabalhar este assunto específico.
Outra hipótese seria uma forma de modulação do sinal ou de conversão da
informação que pudesse transformar o rendimento percário das estações de
amador nestas frequências em algo pelo menos tão eficaz como as dos 160
metros.


JC - Normalmente e que eu saiba, até hoje, somente os amadores de categoria
A são autorizados a desenvolver estes projectos e como seria de esperar já
prestaram provas especificas no "domínio dos conceitos técnicos e legais
mínimos necessários" em alguma parte do seu percurso. Obviamente que não
concordo que sempre que exista algo de novo o "desgraçado" tenha de
obrigatoriamente provar mais uma vez e recorrentemente os seus
conhecimentos.

MA - Lê a minha resposta ao Carlos Mourato.
Por não se submeterem os nossos condutores seniores a exames médicos
rigorosos e a algo como « o " desgraçado " ter de obrigatoriamente provar
mais uma vez e recorrentemente os seus conhecimentos » é que os mesmo entram
em contramão nas auto-estradas.


JC - Conforme consta e é pratica corrente se alguma infracção for detectada
e reportada á ANACOM esta imediatamente pode suspender a licença temporária
ao amador além de que este incorre numa ou várias infracções legalmente
tipificadas. Obviamente, que eu aqui compreendo as tuas razões subjacentes
que por vezes a "razão"(leiasse ANACOM) desconhece.

MA - Não deves estar a viver no mesmo Portugal que eu.
Mesmo em relação às infracções cometidas por estações do Serviço de Amador
nas frequências que lhes são consignadas, quantas estações de Radioamadores
foram punidas nos últimos 15 anos ?
Dos casos devidamente reportados ao ICP-ANACOM, quantos são sancionados de
acordo com a legislação aplicável ?
Se tivesses estados nas mesmas reuniões do que eu no ICP-ANACOM, ficarias a
saber que a postura em relação ao Serviço de Amador não é punitiva mas sim
construtiva, ou seja, por outras palavras a estratégia adoptada é o aviso
instrutivo e não a instrução do processo e a coima.
E o que dizer das interferências provocadas por outros serviços reportadas
em frequências não partilhadas do Serviço de Amador ?
Quantas queixas já forma submetidas ao ICP-ANACOM sobre uma famosa
interferência causada por um sinal de televisão por cabo na faixa dos 2
metros permanece sem resposta eficaz ?


JC - Como sabes internacionalmente esta faixa têm de ser abandonada pela
radiodifusão até 29/Março/2009 e a abertura já foi dada ao radioamadores de
categoria A. Penso que aqui queres dizer "Abertura progressiva e sem pedido
aos Radioamadores da sub-faixa dos 7.100 aos 7.200..... "

MA - Mais ou menos.
O que eu quero dizer é « abertura progressiva e sem necessidade concessão
especial aos Radioamadores das Classes que podem operar em HF da sub-faixa
dos 7.100 aos 7.200 MHz ».


JC - Eu acho que aqui existe uma ou várias contradição da tua parte(
independentemente da sua Classe )( comprovada em exame.) Bem, de uma, duas,
então se os radioamadores já demonstrou anteriormente  em exame a sua
habilitação técnica agora cada vez que o "desgraçado" solicitar algo têm de
se submeter a mais um exame ..?Como é que a ANACOM têm hipótese de na
prática implementar isto, passava a vida a fazer exames a todos fossem eles
C, B ou A...?Na anterior resposta aludie ao espirito de alguns sectores da
ANACOM num novo relacionamento mais aberto com os radioamadores para estes
casos.

MA - Achas mesmo que « os radioamadores já demonstraram anteriormente em
exame a sua habilitação técnica » que exigem certas experiências ?
Então como explicas que muito mais operadores não sigam certos exemplos como
os do Eng.º Luís Cupido ?
Quantos de nós, mesmo em conceitos básicos, temos conhecimentos sufríveis ou
insuficientes ?
Que percentagem dos detentores de Certificado de Amador Nacional dominarão
as regras de segurança ou saberão a Lei de Ohm ?
Será que todos os que obtiveram aprovação no exame para a categoria
respectiva estão de facto a esse nível de conhecimentos ?
Independentemente desta ordem de ideias responde-me ao seguinte...
Será que a aprovação com nota máxima no exame para a Classe A permite ao
radioamador estar habilitado automáticamente a trabalhar nos 50 GHz ?
Este foi só um exemplo simples, pois há de facto quem possua apenas a Classe
C e faça umas " habilidades " que não estão ao alcance da maioria, ( embora
o exemplo em causa seja o de um aluno do instituto Superior Técnico ).
Imagina que o colega em causa não quer " evoluir em termos de passatempo "
mas pretende utilizando a sua modesta licença de Classe C para solicitar o
direito a fazer experiências para as quais possui os devidos conhecimentos
técnicos, como é que se resolve isto ?
Nem te vou dar o exemplo de uma colega do Norte que utilizou, ( salvo
erro ), como projecto final de curso uma estação do Serviço Amador por
Satélite. Se consultares os arquivos da revista QSP poderás obter pormenores
mais precisos.
Respondendo à tua pergunta; se me disseres que é caro investir assim num dos
serviços de radiocomunicações que menos lucro ou que mais trabalho e
problemas dá ao ICP-ANACOM... eu concordo que não é uma boa perspectiva.
Contudo ainda confio que existirá naquela entidade um grupo de pessoas
devidamente formadas, as quais saibam interpretar as exigências de um
projecto feito por amadores e que em poucos dias consiga elaborar uma prova
específica e direccionada para a avaliação de conhecimentos técnicos ou
outros essenciais.
Não são tantos pedidos assim e neste País há muito desemprego mas muita
gente subaproveitada no aparelho do Estado.
Se isto que defendo fosse uma utopia, não havia quem avaliasse projectos de
arquitectura ou de engenharia, a diferença é a rentabilidade e a economia de
mercado a funcionar.
Não tenho dados estatísticos do número de processos entrados mas a avaliar
pela actividade dos colegas em frequência...
Tu próprio escreves « E ao que sei não existem assim tantas propostas como
se possa pensar para uma "rigorosa fase de selecção e triagem" ».
Aqui a triagem não é para seleccionar um entre muitos mas para apurar a
equidade de cada um.
E a finalizar esta questão, um exemplo simples.
Imagina que um determinado projecto de " estudos da propagação " exige
antenas de estrutura complexa e de grande dimensão... para segurança de
pessoas e bens era necessário avaliar, pelo menos, os conhecimentos sobre
segurança dos proponentes, ( afinal parte das responsabilidade moral por
danos será da autoridade que confere as licenças ).
Não é só saber toda a teoria do funcionamento das antenas mas igualmente
saber muito bem como as montar sem riscos de colapso e proporcionar-lhes a
imunidade possível em relação às descargas atmosféricas, por exemplo.
Fui claro ?

De resto concordo basicamente com tudo o que escreves.
E assim se foi mais um dia de emissão / recepção.
Fica para a próxima pois não considero este tempo mal gasto.

73's de Miguel Andrade ( CT1ETL )
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